As gravações foram encontradas durante a investigação que apurou suposto desvio de dinheiro doado por fiéis à Afipe, associação responsável pela Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade, a 55 km de Goiânia. A conversa foi gravada pelo próprio padre Robson e tem quase 1h30 de duração. A data em que ela foi feita não foi divulgada.
Em nota, a Presidência do Tribunal de Justiça de Goiás afirmou que desconhece os fatos narrados na reportagem. “Não foram utilizados os meios próprios para trazer ao Poder Judiciário informações ou indícios de eventual conduta inadequada de magistrados para regular apuração. Não se pode presumir a ocorrência de irregularidades no julgamento de processos a partir de conversa mantida entre advogado e cliente”, diz o comunicado.
A Afipe informou, em nota, que "desconhecia os fatos", reafirma que "o ex-presidente não tem contato com a nova diretoria e que o novo reitor do Santuário de Trindade, desde setembro de 2020, é o padre João Paulo Santos de Souza".
Segundo os investigadores, todas as gravações passaram por perícia técnica, que comprovou serem mesmo do padre. Os áudios estavam em HDs, computadores e no celular do padre - material que foi apreendido durante a Operação Vendilhões, do Ministério Público, em agosto do ano passado.
Assim, segundo a investigação, o padre concorda com a proposta dos advogados de pagar propina para a sentença ser favorável a eles. É o que eles chamam de “apoio”.
O advogado e o diretor jurídico da Afipe explicam como foi feito o processo, dependendo do resultado obtido. “A gente apalavrou que colocaríamos R$ 1,5 milhão, tá? E pagos na decisão da segunda instância de duas formas: se a gente ganhasse tudo, anulasse tudo, isso em julho de 2019, pagava R$ 1,5 milhão. Se a gente anulasse a sentença e voltasse para que o julgamento fosse com todos os outros processos, pagava R$ 250 mil, só”, diz Cláudio.
Anderson interrompe a conversa e é direto com o religioso: “Vamos ser bem mais claros, ele está dizendo que, para ganhar lá, no tribunal, ele comprou pessoas”.
"Só para o senhor ter noção, dos três desembargadores, R$ 500 [mil] para um e o resto é dividido para dois. Para os outros dois, entendeu? Então, a gente não pode deixar fechar essa porta de jeito nenhum”, explicou.
O advogado responde: “Já foi para o STJ, eles não vão ficar sem receber, eles não vão ficar sem receber”.
"Se você pudesse matar ele para mim, eu achava uma bênção. Acaba com esse cara, bicho. Isso aí só vai atrapalhar nossa vida. Para mim, até hoje, foi um atraso", disse Robson.
De acordo com a investigação, os valores deveriam ter sido usados na construção da nova Basílica de Trindade. Porém, foram usados, entre outros fins, para a compra de fazendas, um avião e uma casa de praia.