em alerta - 04/04/2022 08:22

Com mais de 23 mil focos, entenda por que SC tem dificuldade para superar a dengue

Quando o assunto é saúde pública, um dos estados com melhores índices de desenvolvimento econômico e social sofre para combater o Aedes aegypti, que mata e faz a população adoecer
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Mosquito transmissor da dengue(Foto: Divulgação / Secretaria de Saúde de Santa Catarina)
Santa Catarina enfrenta simultaneamente dois grandes desafios reconhecidos pelas autoridades de saúde pública, a pandemia da Covid-19 e o aumento de casos de dengue. São quatro mortes confirmadas por dengue em 2022 e seis em investigação. Os óbitos foram de moradores de Criciúma (caso importado), Seara, Itá e Romelândia (todos autóctones). Os seis casos em investigação (aguarda-se resultado dos exames na Fiocruz) são de residentes em Chapecó (dois), Ascurra, Brusque, Seara e Palmitos.
A idade das vítimas varia de 40 a 89 anos, alguns com comorbidades, o que agrava o quadro. No período entre 2 de janeiro e 26 de março, foram identificados 23.253 focos do mosquito Aedes aegypti em 209 municípios catarinenses. O aumento é de 144% se comparado com o mesmo período do ano passado e 108% nos casos confirmados da doença. Ao todo, 16 municípios estão em nível de epidemia.
Uma série de fatores contribui para a proliferação do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti. Por isso, alertam os especialistas, a erradicação é quase impossível. Mesmo sendo Santa Catarina um estado com boas condições de saúde, com índices positivos de desenvolvimento social se comparado com outras regiões do país e elevado Produto Interno Bruto (PIB). Mas uma coisa é certa: não haverá casos de dengue se não houver mosquito transmissor.
José Henrique Oliveira é professor de Parasitologia no Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Para ele, um dos cientistas referências no país em Aedes aegypti, erradicar o mosquito da dengue é difícil por serem muitos e se replicarem de forma bastante rápida. Há estimativas que para cada humano na terra, existam 200 milhões de insetos, ainda que nem todos sejam mosquitos:
— Além da questão do número e da velocidade de desenvolvimento, mosquitos como o Aedes aegypti são muito bem adaptados às condições ambientais para se reproduzirem facilmente nas cidades.
Apesar disso, o especialista destaca a necessidade de se combater o mosquito-vetor e a replicação dos mosquitos já que não dispomos de vacinas ou tratamentos com antivirais específicos.
— De imediato é o que funciona para combater o Aedes. Nesse sentido, campanhas em veículos de grande alcance, como a TV, ajudam na conscientização das pessoas para a redução de criadouros. Além disso, tem que investir em ciência. Só a ciência será capaz de entender a dinâmica da transmissão e propor soluções como vacinas, antivirais, método wolbachia — pondera Oliveira.
O professor tem razão. O mosquito é eclético, e faz uso tanto de uma tampinha de garrafa PET jogada aleatoriamente no chão quanto de uma piscina cuidada com desleixo. Estima-se que 80% dos criadouros estejam nas casas das pessoas. Por isso, o enfrentamento passa pela educação da população e uso de tecnologias que ajudem a prevenir a doença.
“O controle do vetor exige muita disciplina e governo deve incentivar boa educação aos catarinenses”, sugere virologista
Para ajudar a enfrentar a dengue, é preciso vencer a cultura do descarte irregular de lixo e entulho. É preciso uma gestão ambiental. Caso contrário, calor e umidade vão continuar ditando as regras sobre a proliferação do mosquito. O virologista Daniel Santos Mansur tem estudos aprofundados sobre o Aedes aegypti e dengue. Para ele, que também atua na UFSC, combater o vetor não é uma coisa fácil.
— Não acho que seja culpa de um ou de outro, da população ou do gestor público. Em Santa Catarina, talvez se não olhe para a dengue como deveria ser pelo fato de a doença não ter sido uma realidade na maior parte do Estado, e sim, em algumas reuniões. Isso faz com que as pessoas não prestem muita atenção nos riscos trazidos pelo vetor —sugere Mansur.
O especialista acredita que com técnicas tradicionais como o fumacê (estratégia encontrada para controlar as populações de mosquitos e que consiste em passar um carro que emite uma “nuvem” de fumaça com baixas doses de um agrotóxico) seja extremamente difícil que a eliminação ocorra. Mas defende que a população deva ficar mais atenta e os governantes fazerem mais pressão para isso:
— Existem outras estratégias a serem tentadas, como o próprio wolbachia e o mosquito geneticamente modificado.
O virologista explica que desde 1940 os cientistas tentam a produção de uma vacina, a qual permanece como um desafio:
— Tal qual como ocorre com o HIV, tecnicamente é difícil fazer uma vacina contra a dengue. Se compararmos, a humanidade deu sorte acerca da vacina contra a Covid. Impedir o avanço da dengue sem vacina e/ou uma droga efetiva é muito complicado. Por enquanto tem que ser com o controle do vetor, mas isso exige muita disciplina. Penso que o governo deva incentivar uma boa educação por parte dos catarinenses.

Condições ambientais são favoráveis ao mosquito
Em todo o país, as condições ambientais são bastante favoráveis ao mosquito, com temperaturas variando entre 20°C e 40°C na maior parte do território. Apesar de termos regiões com clima diferentes ao longo do ano, sempre haverá probabilidade da circulação do mosquito em algum canto do país. O regime de chuvas também incide no ciclo reprodutivo do inseto, considerado adaptável às variações climáticas tropicais.
A proliferação do bicho não depende apenas do povo e das condições tropicais, mas dos gestores públicos que fecham os olhos para o crescimento desordenado das cidades e precariedade do saneamento básico. Acúmulo de lixo, coleta irregular, esgoto a céu aberto, e fornecimento irregular de água são fatores que dependem dos governantes.
Alerta sobre notificação de mortes suspeitas
A dengue pode matar, por isso todo cuidado é importante. Em 2021, foram confirmadas sete mortes por dengue em Santa Catarina.Diante do aumento de casos, a Secretaria de Saúde do Estado emitiu no último dia 29 um alerta aos serviços e profissionais de saúde sobre a necessidade de fazer a suspeita e notificação no primeiro atendimento dos casos, realizando o manejo clínico conforme o Fluxograma de Classificação de risco e manejo do paciente com dengue, zika vírus e febre de Chikungunya. Os casos com sinais de alarme, graves e óbitos devem ter amostras laboratoriais coletadas para diagnóstico, sendo obrigatoriamente encaminhadas para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen/SC) para análise.
Os óbitos suspeitos devem ser notificados imediatamente (em até 24 horas) para a vigilância epidemiológica municipal, regional e estadual, considerando que é um evento sentinela, que demanda investigação e acompanhamento da situação.

Butantan anuncia vacina para 2024
Nesta semana, o Instituto Butantan divulgou resultados considerados promissores de uma vacina contra a dengue e que vem sendo desenvolvida em parceria com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID). Os resultados de uma análise mostraram que a vacina induziu a geração de anticorpos em 100% dos indivíduos que já tiveram dengue e em mais de 90% naqueles que nunca haviam tido contato com o vírus.
A vacina vem sendo desenvolvida há mais de 10 anos pelo Instituto Butantan e a expectativa que esteja finalizada em 2024. Os resultados referentes à fase 1 do ensaio clínico, feita nos Estados Unidos, foram publicados no periódico científico Human Vaccines & Immunotherapeutics por pesquisadores da farmacêutica Merck, também parceira do Butantan.
Até hoje, só se conseguiu imunizar para duas cepas (tipos), e é contraindicado para quem já teve doença por determinada cepa. A segunda etapa da pesquisa mostrou que a vacina induz a formação de anticorpos em mais de 70% dos indivíduos contra os quatro subtipos do vírus da dengue com apenas uma dose. Os resultados dessa fase foram publicados na Revista Lancet Infectious Diseases.
Atualmente os especialistas conduzem os estudos clínicos de fase três. A capacidade de indução da resposta imunológica (chamada tecnicamente de imunogenicidade) foi analisada durante um ano por meio de testes de neutralização do vírus e se manteve alta em todos os participantes. A vacina também se mostrou segura e sem efeitos adversos graves, tendo sido registradas como reações mais comuns dor de cabeça, fadiga, erupção cutânea e dor muscular.
No Brasil, a vacina disponível contra a dengue é a Dengvaxia, fabricada pelo laboratório francês Sanofi Pasteur. O imunizante é vendido na rede privada na maior parte do Brasil e não está disponível no Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Fonte: DC
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