REPERCUSSÃO - 19/02/2024 13:37 (atualizado em 21/02/2024 14:02)

Israel declara Lula "persona non grata" até que peça desculpas pela fala comparando ação militar em Gaza ao Holocausto

Governo isralense decidiu realizar reunião com embaixador do Brasil no Museu do Holocausto, em Jerusláem, e não no Ministério das Relações Exteriores
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Lula em coletiva de imprensa na Etiópia, onde deu a declaração. Ricardo Stuckert / Presidência da República/Divulgação

O governo de Israel declarou, nesta segunda-feira (19), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "persona non grata" em função de declaração desse domingo quando comparou as ações de Israel em Gaza ao Holocausto. 

"Não esqueceremos nem perdoaremos", disse o chanceler Israel Katz. Em mensagem ao embaixador do Brasil no país, continuou: "Em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, diga ao presidente Lula que ele é "persona non grata" em Israel até que se retrate e retire o que disse."

Reunião com embaixador

O governo israelense resolveu fazer a reunião com o embaixador do Brasil em Israel no museu do Holocausto, em Jerusalém, e não no Ministério das Relações Exteriores. A alteração ocorreu em razão da fala do presidente Lula.

“Esta manhã convoquei o embaixador brasileiro em Israel para o Museu do Holocausto, o lugar que testemunha mais do que qualquer outra coisa o que os nazistas e Hitler fizeram aos judeus, incluindo membros da minha família” , afirmou o chanceler Israel Kantz no X — antigo Twitter.

A fala do presidente Lula

Lula acusou Israel nesse domingo de cometer um "genocídio" contra civis palestinos na Faixa de Gaza e comparou suas ações com a campanha de Adolf Hitler para exterminar os judeus.

— O que está acontecendo na Faixa de Gaza não é uma guerra, mas um genocídio — declarou Lula à imprensa em Adis Abeba, na Etiópia, onde participa da cúpula da União Africana.

Para o presidente brasileiro, o conflito "não é uma guerra entre soldados e soldados".

— É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças. O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus — acrescentou.

Repercussão

O presidente do Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, Dani Dayan, repudiou as declarações de Lula. Em publicação no X (antigo Twitter), afirmou que as 'vergonhosas palavras' do líder brasileiro são uma 'escandalosa combinação de ódio e ignorância'. 

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que "comparar Israel ao Holocausto nazista e Hitler é cruzar uma linha vermelha". Trata-se de uma reação a fala do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

"As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e sérias. São sobre banalizar o Holocausto e tentar ferir o povo judeu e o direito Israelense de se defender", declarou Netanyahu em seu perfil no X (antigo Twitter).

A Confederação Israelita no Brasil (Conib) repudiou a fala de Lula (confira na íntegra abaixo). Para o Conib, a declaração do presidente foi uma "distorção perversa da realidade" e "ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes".

"Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua Carta de fundação a eliminação do Estado judeu", escreveu a organização nas redes sociais.

o começo da noite de domingo, o Palácio do Planalto emitiu uma nota sobre o caso:

"O presidente Lula condenou desde o dia 7 de outubro os atos terroristas do Hamas. O fez diversas vezes. E se opõe a uma reação desproporcional e ao sofrimento de mulheres e crianças na Faixa de Gaza", diz o texto.

Série de declarações

Estas declarações sãs as mais contundentes emitidas até agora sobre o conflito por Lula, que ocupa a Presidência rotativa do G20.

O presidente brasileiro afirmou em novembro que o Hamas "cometeu um ato terrorista" durante o ataque de 7 de outubro em Israel, que deixou 1.160 mortos, em sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP com dados oficiais israelenses. Os militantes terroristas também sequestraram neste dia 250 pessoas, das quais 130 continuam reféns em Gaza, incluindo 30 que teriam morrido, segundo dados israelenses.

Recentemente, Lula tem criticado duramente a resposta israelense que já deixou 28.985 mortos, em sua maioria mulheres e menores, segundo o Ministério da Saúde em Gaza. Em viagem ao Egito na quinta-feira (15), ele criticou a guerra no território palestino e qualificou a ofensiva como uma "punição coletiva". O presidente afirmou ainda que "não tem nenhuma explicação o comportamento de Israel, a pretexto de derrotar o Hamas, estar matando mulheres e crianças".

Já durante sua fala neste domingo, Lula criticou os países ricos que suspenderam o financiamento à agência da ONU para os Refugiados Palestinos em Gaza, que está enfrentando um aumento da crise humanitária. No final de janeiro, Austrália, Reino Unido, Canadá, Itália, Suíça, Holanda, Alemanha e Finlândia decidiram seguir a suspensão temporária adotada pelos Estados Unidos à UNRWA (na sigla em inglês). A organização anunciou a demissão de "vários" funcionários acusados por Israel de terem vínculos com o Hamas.

— Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição para a questão humanitária aos palestinos, fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente e qual tamanho do coração solidário dessa gente. Se teve algum erro nessa instituição que recolhe dinheiro, apura-se quem errou, mas não suspenda a ajuda humanitária para um povo que está há quantas décadas tentando construir o seu Estado — comentou Lula.

O chefe do Executivo declarou que o Brasil fará um "novo investimento financeiro" na UNRWA, sem fornecer detalhes sobre os montantes envolvidos.

— Não posso dizer quanto porque não é o presidente que decide, preciso ver quem dentro do governo cuida disso para saber quanto vai dar, mas também o Brasil disse que vai defender na ONU a definição do Estado palestino reconhecido definitivamente como pleno e soberano. É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem que ser grande — ressaltou.

Confira na íntegra a nota da Confederação Israelita no Brasil

"A Conib repudia as declarações infundadas do presidente Lula comparando o Holocausto à ação de defesa do Estado de Israel contra o grupo terrorista Hamas. Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua Carta de fundação a eliminação do Estado judeu. Essa distorção perversa da realidade ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes.
O governo brasileiro vem adotando uma postura extrema e desequilibrada em relação ao trágico conflito no Oriente Médio, abandonando a tradição de equilíbrio e busca de diálogo da política externa brasileira. A Conib pede mais uma vez moderação aos nossos dirigentes, para que a trágica violência naquela região não seja importada ao nosso país."

Veja o comunicado da Federação Israelita do Estado de São Paulo

Confira a nota da Federação Israelita do Rio Grande do Sul

A Federação Israelita do Rio Grande do Sul (FIRS) condena veementemente a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual faz afirmações inverídicas sobre Israel e a guerra em Gaza. Lula compara as ações de Israel com o regime nazista de Hitler, relativizando a gravidade do genocídio cometido contra o povo judeu na Segunda Guerra Mundial, que ocasionou a morte de 6 milhões de pessoas, pelo simples fato de serem judias.
O presidente omite o contexto no qual a guerra está inserida, ignorando o ataque perpetrado pelo grupo terrorista Hamas em 07 de outubro, bem como a mantença de mais de 130 reféns prisioneiros na Faixa de Gaza. Descomprometida com a realidade dos fatos, a fala de Lula deixa de apontar que a única intenção genocida  na atual guerra é do grupo terrorista palestino, que prega a destruição de Israel e do povo judeu, e que deveria ser cabalmente condenado pelo presidente, assim foi por diversas lideranças internacionais.
Falas como essa são irresponsáveis, fomentam a desinformação, o antissemitismo e o ódio, afastando a comunidade mundial da paz.

Fonte: Gaúcha / ZH
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