
A frase escrita e apagada diversas vezes no espaço de dois
anos pode, enfim, ser publicada: Carlo Ancelotti é, oficialmente, o novo
técnico da seleção brasileira.
O italiano de 65 anos, com passagens por alguns dos maiores
clubes do mundo, foi anunciado pela CBF nesta segunda-feira (12), pouco após o
treinador deixar o comando do Real Madrid, onde trabalhava desde julho de 2021.
Ancelotti assinou
contrato até o fim da Copa do Mundo de 2026.
Há a expectativa de que o italiano faça sua estreia na
próxima Data Fifa. O Brasil enfrenta Equador, fora, e Paraguai, em casa, pelas
eliminatórias; a equipe, vale lembrar, ainda não tem vaga assegurada no próximo
Mundial.
Sua chegada interrompe um período de pouco mais de um mês da
seleção sem técnico, desde a demissão de Dorival Júnior, em 28 de março, logo
após goleada para a Argentina.
Mais ainda: Ancelotti quebra uma escrita de quase 60 anos
sem um estrangeiro na equipe nacional.
O último foi Filpo Núñez, argentino que comandou o Brasil em
um amistoso contra o Uruguai, no Mineirão, quando a seleção foi representada
por atletas do Palmeiras. Antes dele, também tiveram tal privilégio o uruguaio
Ramón Platero (1925) e o português Joreca (1944).
Flerte antigo
O nome de Carlo Ancelotti era o preferido do presidente
Ednaldo Rodrigues há pelo menos dois anos, desde meados de 2023, quando a CBF
ainda tinha dúvidas sobre quem contratar para a vaga de Tite.
Fernando Diniz foi contratado de maneira interina, para
dividir a seleção com o Fluminense, quando chegou-se até mesmo a anunciar um
acordo para que o italiano dirigisse o Brasil na Copa América de 2024.
O título da Champions League pelos merengues, porém,
garantiu a renovação de Ancelotti com o clube e deixou a CBF exposta. Diniz
saiu, Dorival Júnior foi contratado, mas os resultados não ajudaram o novo
comandante a se estabelecer.
Somado a isso, a eliminação do Real Madrid na Liga dos
Campeões e a perda de terreno na briga com o Barcelona pelo título espanhol
deixaram Ancelotti em condição de insegurança no clube, que via a troca de
comissão técnica como parte importante da renovação.
Neste cenário, a CBF – que já trabalhava com o nome do
português Jorge Jesus para substituir Dorival – viu o antigo alvo ficar de
repente disponível e retomou as conversas até o acerto final. O Real Madrid
impôs poucos obstáculos, até por já ter Xabi Alonso, ex-Bayer Leverkusen, como
substituto.
Carreira de Ancelotti
Meio-campista de boa técnica, Ancelotti aposentou-se em 1992
e imediatamente assumiu o cargo de auxiliar-técnico da seleção da Itália. Fez
parte da equipe que levou o país ao vice-campeonato da Copa do Mundo de 1994,
nos Estados Unidos, em derrota nos pênaltis para o Brasil na final.
O primeiro trabalho como treinador principal foi na
Reggiana, em 1995. Assumiu o Parma no ano seguinte, mudou-se para a Juventus em
1999 até iniciar, em 2001, possivelmente o ciclo mais marcante da carreira.
Entre 2001 e 2009, Ancelotti comandou uma era muito
vitoriosa no Milan. Levou o clube a três finais de Champions, ganhou duas e
teve a capacidade de transformar grandes estrelas em um belo time. Naquele Milan,
o italiano teve Dida, Cafu, Nesta, Maldini, Pirlo, Seedorf, Rui Costa, Rivaldo,
Shevchenko, Crespo e, sobretudo, Kaká, a quem fez o melhor jogador do mundo em
2007.
A carreira de Ancelotti seguiu por imensas equipes, como
Chelsea e PSG, até chegar ao Real Madrid em 2013, com o objetivo de levantar a
tão sonhada La Décima, maneira que os espanhóis chamavam o 10º título da Liga
dos Campeões. Atingiu o feito logo na primeira temporada, em final épica contra
o Atlético de Madrid lembrada até hoje pelo gol tardio de Sergio Ramos.
Ancelotti deixou o Real Madrid em 2015, assumiu o Bayern de
Munique para uma passagem de pouco brilho, depois dirigiu Napoli e Everton.
Quando parecia estar na descendente da carreira, recebeu o convite para
retornar ao Santiago Bernabéu em 2021.
Pelas mãos do italiano, o Real conquistou mais duas vezes a
Champions League e venceu todos os títulos possíveis, o que fez de Ancelotti o
técnico mais vencedor da história do clube.
Agora, ele ganha a chance de dirigir a maior seleção do
planeta e acabar com um jejum de 24 anos sem ganhar uma Copa (a última foi
2002).