Uma bola lançada na área cai nos pés da atacante, que não titubeia. Mais que dominar a bola, se tem a responsabilidade de dominar a emoção. Uma fração de segundos para tomar uma decisão. Com muita concentração gira em cima da zagueira. Analisa rapidamente o espaço aberto no gol e, decisiva com a perna canhota, bate rasteiro no canto esquerdo sem chance para a goleira adversária. GOOOOOL! Foi assim, no dia 2 de junho deste ano, que a maravilhense Isadora Tremea, 13 anos, marcou seu primeiro gol no tempo regulamentar de uma partida oficial vestindo a camisa do Internacional. A vitória de 2 x 0 na disputa válida pela Copa Nike Sub-15 realizada no estado de São Paulo, contra a forte equipe do Centro Olímpico, passou pelos pés e pelo coração da atacante natural de Maravilha. Na competição, Isadora entrou em campo como titular. Também deixou seu gol na disputa contra o Minas Brasília em um momento delicado da equipe colorada, que estava atrás no placar e Isadora balançou a rede para deixar tudo igual e iniciar a reação das gurias coloradas. Ao final da competição, no dia 7 de junho, uma medalha de 3º lugar no peito, conquistada em cima das brabas do Corinthians. Este é o segundo troféu que a jogadora levanta em menos de cinco meses de atuação pelo Internacional.
Revelada em Maravilha, Isadora já dava seus primeiros chutes aos 2 anos, inspirada pelo pai, Luis Carlos Tremea, e o irmão mais velho, Breno Tremea. Cresceu, e a paixão pelo futebol acompanhou seu crescimento na mesma proporção. Com a bola nos pés, sempre enxergou além de uma brincadeira: é uma possibilidade de futuro, de fazer a diferença no futebol feminino.
"O futebol sempre uniu muitas pessoas e mudou muitas vidas"
Não demorou muito para o talento ultrapassar os muros da casa e se lançar em escolinhas de futebol e futsal de Maravilha. No início, quando ainda tinha 5 anos, era a única menina treinando, mas ao ocupar este espaço, tanto nas quadras quanto nos gramados, contribuiu para que as portas se abrissem desde a base para novas jogadoras.
Ainda em Maravilha, disputou competições e conquistou títulos representando o município. Testemunhou o trabalho de base com meninas de idade parecida com a sua. O apoio da família, que acompanha cada um dos seus passos dentro e fora das quatro linhas, é fundamental. Isadora retribui se dedicando à carreira no futebol com muita maturidade, foco e determinação.
Já o ano de 2025 reservava a possibilidade de ir ainda mais longe com a chuteira nos pés e a fé que sempre guia seu coração. Em fevereiro, foi para Porto Alegre acompanhada do pai, onde participou de testes para o Internacional - uma porta aberta pela campanha realizada com a equipe de Guaraciaba. Foram quatro dias intensos de avaliação, regados por suor e entrega. Tudo isso ao lado de várias meninas que, embora fossem de diferentes lugares, compartilhavam o mesmo sonho e dedicação de estar correndo corajosamente em busca dos seus sonhos.
A partir daí um novo desafio: a mudança para Porto Alegre. Atualmente, Isadora reside com o pai na capital gaúcha, enquanto sua mãe, o irmão e avós estão em Maravilha. Com um apoio incondicional, a mãe, Cristiane Tremea, não hesita das oportunidades de organizar a logística para estar ao lado da filha. Neste ponto, Isadora revela que foca em um trabalho sério junto ao clube, o que também exige a habilidade de driblar desafios, como matar no peito a saudade da família e comemorar como um gol os momentos juntos. Além disso, sua rotina reserva um espaço muito importante de dedicação aos estudos.
No início de temporada junto ao Inter, já teve a oportunidade de disputar o primeiro GRENAL. A partida válida pela Liga de Desenvolvimento da CBF foi no CFT Hélio Dourado, em Eldorado do Sul, a casa do adversário. Estava em jogo a medalha de bronze. A disputa acirrada foi para as penalidades, onde Isadora foi escolhida para bater um dos pênaltis. Mesmo diante da torcida e da pressão que fazia parte do momento, com a perna esquerda converteu para as gurias coloradas, que ficaram com o terceiro lugar da competição nacional.
A trajetória de Isadora exemplifica a potência que faz parte da essência do futebol feminino. No Brasil, a história da modalidade passa por momentos antagônicos, como a legislação que proibiu institucionalmente as mulheres de disputar este esporte por mais de 40 anos - prática que foi retomada com muita luta a partir da década de 80, ao país sede da próxima Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino, marcada para 2027.
As precursoras que abriram caminho contra adversários extra campo são reconhecidas pela jovem atacante maravilhense. Dentre elas, Marlisa Wahlbrink, a Goleira Maravilha, e a rainha Marta. Sonhar em jogar profissionalmente, também é coisa de mulher. Isadora tem se dedicado e almeja sua primeira convocação junto a Seleção - uma trajetória que percorre gramados fardada de sonhos, em busca de vitórias que celebram a valorização do futebol feminino.
