
Concentração, foco, determinação e estratégia. Pensar em como agir, antecipar os movimentos da adversária e, ao mesmo tempo, gerenciar o tempo que escorre no relógio. À frente, um tabuleiro que parece silencioso, mas é palco de intensas batalhas mentais. Nele, cada peça carrega uma função precisa e um valor simbólico — mesmo o “simples” peão pode tornar-se uma rainha. Para lidar com o nervosismo, um gole de água, e o jogo segue: um duelo contra a oponente, contra o tempo e contra si mesma. Foi enfrentando esse conjunto de desafios que a jovem enxadrista Luiza Torma Depaoli, encerrou sua participação na OLESC 2024, de forma invicta. E o mais simbólico: competindo em casa, já que Maravilha foi uma das cidades sede da edição. A medalha de prata conquistada ficou marcada, como uma conquista carregada de significado e amadurecimento.

Recentemente, Luiza encarou mais um desafio: o XIV Campeonato Pan-Americano Escolar de Xadrez, realizado entre o final de agosto e início de setembro, em Florianópolis. A competição, chancelada pela Federação Internacional de Xadrez (FIDE), reuniu jovens talentos do continente, cada um com seus repertórios estratégicos e bagagens culturais. Em meio a essa diversidade, Luiza representou Maravilha e finalizou sua participação na 15ª colocação. Mais do que o resultado, a vivência proporcionou um contato intenso com o cenário internacional do xadrez escolar, ampliando horizontes e proporcionando novos conhecimentos.
Esse gosto especial se expressa na forma como Luiza encara o esporte. Para ela, o xadrez vai muito além de um Xeque-Mate: é um espaço de desenvolvimento pessoal, formação intelectual e convivência social. Entre os mestres que marcaram sua formação está o respeitado Jorge Godois, conhecido carinhosamente como Vacaria (em memória), enxadrista que contribuiu de forma brilhante para a história do xadrez em Maravilha. Seu legado é visível até hoje, não apenas em Luiza, mas em várias gerações, incluindo Gabriel Vargas, atual professor da modalidade no município.

Em termos de estilo de jogo, Luiza se define como uma enxadrista de perfil mais defensivo, que valoriza o uso de mais peças em jogo. Contudo, não se prende a apenas uma estratégia, trabalhando constantemente para ampliar seu repertório e assim se adaptar às características da oponente. No campo das aberturas, com as peças brancas, valoriza a “Abertura Italiana”, uma linha clássica, que busca controlar o centro do tabuleiro com movimentos iniciais de peão, cavalo e bispo. Com as pretas, prefere a “Abertura Francesa”, conhecida pela solidez defensiva.
As partidas, por vezes longas, exigem mais do que conhecimento teórico. O xadrez é também resistência emocional. Nos diferentes torneios que participa, Luiza disputa tanto no formato pensado, com tempo mais longo, quanto em ritmos acelerados, como o blitz. Para estar preparada, ela mantém uma rotina de treinos. Participa dos treinos oferecidos pela Secretaria de Esporte, Juventude e Lazer de Maravilha e também faz aulas on-line com a enxadrista Isabelle Tomarozzi. Parte de sua preparação ainda inclui a análise de partidas e o estudo de estilos de adversários.
Neste ano, foi aprovada no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) campus São Miguel do Oeste, onde cursa o Ensino Médio em tempo integral. Foi no novo ambiente de ensino que o xadrez lhe abriu portas fora do tabuleiro: passou a representar a instituição em campeonatos. Na etapa estadual dos Jogos do IFSC, conquistou o 2º lugar. A conquista garantiu a vaga para representar a instituição catarinense no JIF Sul, realizada em julho, nas cidades gaúchas de Santa Maria e Restinga Seca. Na competição, conquistou o 3º lugar no individual e ajudou sua equipe a alcançar o vice-campeonato.
"O xadrez faz parte de mim. Está sempre presente na minha vida e faz parte de muitas das minhas histórias. Tem um valor afetivo, familiar, e me deu a oportunidade de fazer muitas amizades", define Luiza.
