CANSAÇO ACUMULADO - 30/10/2025 08:22

Psicóloga explica a exaustão de fim de ano e como aliviar a sobrecarga

Cobranças internas e externas intensificam a fadiga emocional nesse período
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Novembro está chegando e, para muitos, a sensação já é de estar no limite: pouca paciência, corpo cansado, agenda cheia e mente acelerada. Conversamos com a psicóloga Fernanda Unser para entender por que isso acontece e o que pode ser feito para viver esse período com mais tranquilidade. Confira na sequência a entrevista na íntegra. 

Líder: Por que o fim do ano costuma ser um período desgastante para a saúde mental e emocional?
Fernanda: Este é um questionamento frequente. Muitos de nós aprendemos e consideramos o final do ano como um fechamento de ciclo e início de um novo. Quando começamos a avaliar os planejamentos, metas, comportamentos e, ainda, quando voltamos o olhar para o que “falta” (entre aspas mesmo, pois se trata de uma percepção nossa que falarei mais à frente), podemos cair na tendência que leva à sobrecarga mental, devido a cobranças internas e externas. Isso pode despertar um processo de avaliação e, para algumas pessoas, um desconforto e desespero de “ter que dar conta” de tudo que foi planejado, traçado ou almejado para o ano. 
Também aparecem questões de reorganização frente às festividades e aspectos comuns, como, por exemplo, as férias escolares, de trabalho, as alterações na rotina por compromissos familiares, profissionais e, também, questões financeiras. Ainda, há pessoas que estão vivendo um processo de luto, em que esse período do ano traz lembranças das pessoas que faleceram, dos distanciamentos ou separações.

Líder: O cansaço no último trimestre é comum, mas até que ponto ele é normal? Quando esse desgaste pode ser sinal de algo mais sério e que merece atenção?
Fernanda: Estamos em uma sociedade em que cada vez mais sentimos as pressões frente a uma produtividade, de estar tudo e todos organizados, de “ter que” fazer muitas coisas e, para algumas pessoas, fazer igual a determinadas pessoas (influencers). É esperado que tenhamos um certo nível de cansaço, pois o ano apresentou suas exigências e fomos nos organizando frente a elas. 
Porém, temos sinais de alerta que precisam ser considerados e detectados com brevidade, para que possamos nos cuidar. Alguns deles são: desmotivação, ou seja, perda de prazer por atividades que antes gostava; insônia persistente; irritabilidade acentuada, que pode aparecer no trabalho, com amigos ou com a família; sensação de esgotamento contínuo, ou seja, não conseguir sentir que descansou, que renovou as energias; não conseguir se desconectar das exigências do trabalho, sentindo que está, a todo o momento, atrasado ou devendo.  

Líder: Como manter uma rotina saudável, com momentos de autocuidado e descanso, mesmo em um período tão cheio de demandas?
Fernanda: Não há uma receita mágica que funcione para todas as pessoas, mas temos algumas práticas que podem ser implementadas para auxiliar. 
- Manter atividades prazerosas, como ler, caminhar, ouvir música e manter os vínculos com pessoas que são importantes.
- Atentar para hábitos do dia a dia, buscar manter uma rotina de sono de qualidade, alimentação saudável e exercício físico. Ainda, desconectar-se das telas ao longo do dia e acompanhar o tempo de uso dos aplicativos, pois acontece que, ao pegarmos o celular para ver uma coisa, ficamos mais tempo que o desejado.
- Importante entender que sofremos pressões de “ter que dar conta” ou “precisar fazer tudo”, que foram aprendidas ao longo da nossa vida por demandas culturais e/ou familiares. Precisamos acolher nossas emoções e flexibilizar os pensamentos, para que, sim, nos mantenhamos ativos, porém com formas saudáveis de lidar com o estresse, a pressão e as autocobranças.
- Aprender a impor limites. Atendo pessoas com frequência que não conseguem dizer “não” para pessoas ou compromissos que exigem delas além do interesse e que acarretam em sobrecarga emocional e até mesmo culpa. Estabelecer limites é importante para a nossa saúde.
- Planejamento de micro pausas ao longo dos dias. Podem ser curtas, mas tendem a contribuir para a nossa regulação emocional e saúde mental. 
- Estar presente no presente, ou seja, estar sentindo como você está no aqui e agora. O que o seu corpo precisa? Quando você está lendo esta matéria, como está a sua postura? Sua mandíbula e ombros estão tensos ou relaxados? Podemos incorporar cuidados na nossa rotina, por exemplo, ao tomar o seu café, chá ou chimarrão, sentir o gosto e o prazer ao realizar essa atividade; no banho (que pode ser de 1 a 2 minutos ou mais longo), sentir o cheiro do sabonete, do shampoo e a sensação da água batendo no seu corpo. Estar presente não é uma tarefa fácil, mas é treinável. Caso os seus pensamentos o levem para situações que ainda tem que resolver, acolha-os, mas conduza sua atenção para o agora e curta esses pequenos prazeres diários. 
Esses são alguns dos investimentos que podemos incorporar na rotina para contribuir para a nossa saúde mental e bem estar!

Líder: No que tange as metas que ainda não foram “riscadas” da lista, como manter o foco nas próximas semanas, mas de forma realista, sem cair em pressões ou expectativas irreais?
Fernanda: Podemos pensar em, primeiramente, avaliar essas metas: são metas reais? São possíveis de serem alcançadas com o tempo e recursos que se tem? Essa avaliação é extremamente importante, já que, muitas vezes, podemos criar metas e estabelecer prazos que não são realizáveis. Isso pode gerar uma expectativa alta e também uma sensação de frustração e fracasso. Ter metas realistas é extremamente importante, pois assim podemos traçar os objetivos e as etapas de forma mais concreta, vendo qual é o caminho a ser percorrido. Dessa forma, temos um norte e pode ficar mais fácil a implementação delas de forma diária.
É imprescindível reconhecermos os nossos avanços, mesmo que pequenos. Muitas pessoas tendem a não valorizar os pequenos passos que foram dados, o que pode contribuir para a desmotivação e até mesmo abandono da meta, pois parece que só voltamos os olhares para o que falta. Precisamos visualizar que também há conquistas. Se você tem um objetivo que não conseguirá cumprir neste ano, isso não significa fracasso! Pode seguir com ele no ano que vem, adaptando a caminhada frente à experiência que teve, o que deu certo e o que não, e seguir em frente, respeitando seus limites e prioridades. 
Autocuidado e autoconhecimento são necessários, pois, muitas vezes, podemos cair em comparações infundadas. Cada pessoa tem suas trajetórias, seus recursos, seu tempo, ritmo e contexto para a realização dos objetivos e sonhos. 
Caso você não esteja conseguindo implementar esses cuidados, buscar ajuda profissional pode ser um recurso necessário. Somos seres únicos e não há receita mágica. Olhar para a sua individualidade e reconhecer suas potencialidades é importante, mas buscar ajuda quando necessário é fundamental. 

Líder: Muita gente chega ao fim do ano com a sensação de que poderia ter feito mais. Como lidar com essa frustração?
Fernanda: Se acolher, olhar para si, para seus avanços, aprendizados e superações. Avaliar o que foi aprendido neste ano para que possa ser incorporado no próximo. Exercitar a gentileza e afeto que temos com as outras pessoas para com nós mesmos, frente aos nossos medos, angústias, necessidades e desejos. 
Entender que não podemos medir os outros e a nós mesmos apenas por produtividades, posses ou conquistas. É importante nos reconectarmos com nossos valores pessoais e com nossos sonhos, nos acolhermos com carinho, sermos gentis e realistas ao estabelecer metas e praticar o cuidado com a nossa saúde física, social e mental.
Fonte: Camilla Constantin/ WH Comunicações
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