
A campanha Novembro Azul chega todos os anos para reforçar a conscientização sobre o cuidado com a saúde do homem, com foco na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer de próstata. Apesar dos avanços, o tema ainda é cercado de tabus e estigmas que dificultam a busca por atendimento e muitas vezes atrasam o início do tratamento. Quando descoberto cedo, o câncer tem altas chances de cura.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), no triênio 2023-2025 devem surgir 71.730 novos casos por ano, o que indica um risco estimado de 67,86 diagnósticos para cada 100 mil homens. É o câncer mais incidente entre a população masculina, excluindo os tumores de pele não melanoma. Um alerta claro sobre a importância da prevenção e da atenção ao próprio corpo.
Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, o diagnóstico precoce pode salvar mais de 90% dos pacientes. Os dados do Painel de Monitoramento da Mortalidade mostram que, apenas em 2024, 17.587 brasileiros perderam a vida por causa da doença.
Para Elton Volmar Jommertz, 51 anos, essa conta não fecha, por isso, ele se coloca à disposição para compartilhar mensagens de prevenção e cuidado. Mas seu aprendizado veio de forma dura: precisou enfrentar, na pele, as consequências de adiar o cuidado com a saúde.
Morador da Linha Água Parada, em Maravilha, Elton sempre teve muito trabalho na propriedade. Em 2014, começou a perceber que algo estava errado, mas foi deixando para depois. Conviveu com dores e incômodos por quatro anos, até que, em 2018, não suportou mais. Ao procurar atendimento, descobriu um câncer de próstata e também de intestino.
A partir desse momento, ressignificou sua vida. Pensou na família: a esposa e os dois filhos, eles eram pilares para seguir em frente. “Tive que superar e pensar em viver. O tratamento é difícil, mas a gente precisa acreditar que está fazendo o certo. A parte psicológica é complicada de manter”, conta.
Elton buscou conversar com pessoas que haviam passado por tratamento oncológico. Ouvir que valia a pena lutar o fortaleceu. Nos momentos mais difíceis, repetia a si mesmo que o desconforto do tratamento era passageiro e que, lá na frente, a cura o esperava. Teve apoio constante da esposa. “Eu pensava: não posso me entregar, olha o que as pessoas estão fazendo por mim”.
Hoje, está curado. E sua forma de viver mudou completamente: tenta levar uma vida mais leve, valorizar cada conquista (por mais pequena que pareça) e enxergar a felicidade no simples. Após a cura, ele e a esposa celebraram a chegada do terceiro filho - um símbolo de recomeço.
Henrique Cocco, 73 anos, destaca três pilares em sua trajetória: força de vontade, tratamento e principalmente a fé. “Meu câncer foi silencioso. Fui dormir bem, e durante a noite comecei a sentir que algo estava errado”, conta. Alguns dias depois, procurou um médico. Passou por duas biópsias e 37 exames até que veio o diagnóstico: câncer de próstata. “A tua situação não é nada boa”, ouviu do médico.
Ele realizou radioterapia: foram 37 viagens a Chapecó, no rigor do inverno, durante os meses de junho, julho e metade de agosto. Enfrentou chuva, frio e tempestades. Na 13ª sessão, diante de um temporal, pensou em desistir, mas foi acometido por uma grande força e decidiu continuar. Ao final, o médico o parabenizou pela persistência, e ele acabou formando uma “família” entre os que faziam radioterapia.
Durante o tratamento, mais um susto: houve suspeita de metástase, mas o PET Scan descartou a possibilidade, uma notícia que renovou sua esperança.
Há 3 anos e 8 meses, em um exame de rotina, Holdemar Teje descobriu o câncer por meio do PSA. Foi um choque: parecia uma sentença de morte. O medo aumentou porque ele já havia perdido o pai para a doença. “Quando o médico deu o diagnóstico, desanimei. Cai. O que vou dizer para minha família?”, recorda.
A detecção precoce permitiu rápida intervenção. Ele passou por cirurgia e não precisou fazer quimioterapia nem radioterapia.
“A gente nunca pensa que vai passar por um câncer”. Encarar a doença exige resiliência e superação. O exemplo de Holdemar, agora com 65 anos, revela como o diagnóstico precoce, e a tomada de decisão de lutar por sua vida, fez a diferença para se curar e recuperar.
Hoje, está bem e trabalhando. Destaca a importância dos amigos, da família e da fé. Também aprendeu que as prioridades mudam: sem saúde, não se faz nada. E sempre que encontra alguém passando por um diagnóstico, tenta ajudar, como uma forma de devolver a força que recebeu.

Compartilhar apoio e valorizar a vida
Elton, Henrique e Holdemar são integrantes do Grupo de Apoio à Pessoa com Câncer Renascer, que completa três anos em Maravilha, com atividades totalmente voluntárias.
A psicóloga paliativista e psico-oncologista Makeli Orso idealizava, há cerca de 20 anos, um espaço de acolhimento para falar sobre vida em meio ao diagnóstico de câncer. Ao conversar com Elton, encontrou apoio imediato. Ele lembrava como havia sido importante ouvir relatos de quem já tinha enfrentado a doença, e agora queria retribuir.
Foi assim que Elton se tornou um dos fundadores do grupo, disposto a quebrar tabus e falar abertamente sobre câncer, mostrando que é possível lutar pela vida mesmo diante de diagnósticos graves.
Henrique também esteve presente desde o início, quando as reuniões ainda não preenchiam duas mãos de participantes. Para ele, o grupo se tornou essencial: um espaço de partilha, coragem e inspiração, onde ele e a esposa participam com entusiasmo. “É um momento importante. A gente até pensa na roupa que vai usar para vir”, brinca. Holdemar chegou por convite de Elton, amigo do futebol. “É um grupo que melhora o pensamento. Dá apoio. O Elton passou por um câncer complicado e venceu, então, eu também posso vencer”, lembra.

Hoje, o Grupo de Apoio reúne dezenas de homens e mulheres, promovendo acolhimento, incentivo à prevenção, trocas de experiências e a quebra de estigmas. Uma das frases que norteia os encontros é: