
Mais de 200 poemas escritos ao longo de cinco anos. Cerca de 100 poemas impressos, sob o chão de casa, e Hiago Rizzi, escritor e jornalista maravilhense, observava com atenção os seus escritos, analisando como um poema se relaciona com o outro. Ao final, 50 textos foram selecionados para compor seu primeiro livro: “Maravalha”.

O conteúdo foi escrito após a mudança para a capital paranaense, contudo, os poemas costuram camadas em relação às vivências em Maravilha, a partir de relações e suas complexidades, lembranças, tensões e afetos. O poeta ainda mescla os textos com suas percepções sobre os mais variados temas.

Aos 17 anos se mudou para Curitiba, onde se formou em jornalismo. Durante a graduação, a prática de escrever foi uma constante. De forma orgânica, e sem uma técnica específica naquele período, se deixou ser conduzido pela poesia. “A prática de escrita foi dividida entre o meu trabalho com jornalismo e comunicação, a minha escrita de poemas, e uma coisa que me acompanha até hoje, que é escrever diários manuscritos - e de alguma forma os poemas têm relação com os acontecimentos citados no diário”.
No período da graduação conheceu Bárbara Tanaka, colega de curso. Devido a identificação de ambos com o universo da literatura, Hiago passou a imprimir seus escritos e compartilhar com ela. A via como uma “correspondente literária”, define. Os anos passaram e sua amiga abriu a Editora e a Livraria Telaranha, onde Hiago trabalha atualmente.
Através do emprego, teve a oportunidade de contribuir em diversos projetos literários, sendo que em 2023 sentiu o impulso de publicar um livro com seus poemas, uma decisão permeada por muitas dicotomias. “No processo da publicação você coloca algo no mundo, para o mundo. É uma parte minha que eu preciso deixar ir, me desprender”.
O primeiro passo foi selecionar, em meio ao compilado de escritos, quais iriam compor a obra. O processo inicial foi realizado por Hiago, e depois, de forma conjunta, com os editores. Os poemas não publicados seguem guardados em arquivos.
Em 2021, quando participava de uma oficina de escrita, encontrou entre recortes de revistas a palavra “MARAVALHA”. Embora neste período ainda não tivesse a pretensão de publicar o livro, estava escrevendo seus poemas e refletindo sobre a relação com a cidade natal. Maravalha bateu no olho de Hiago e se tornou parte dos poemas, além de estar presente no cenário da família.
“Minha vó contou que tinha um saco de maravalha nos fundos da casa dela. E no fundo é isso: Maravalha estava lá o tempo todo, mas até então eu não sabia”.
O escritor pretendia colocar um animal na capa, e o tigre, figura presente nas páginas, foi escolhido para ilustrar este espaço de destaque. A arte conta com ilustração do artista Lusto, o qual Hiago teve contato a partir de uma publicação contendo representações de tigres.
Ao ser questionado sobre um poema que se mais lhe marcou, responde que LOVE STORY é um dos escritos que, neste momento, está reverberando mais. “Tem relação com essa minha leitura de estar escrevendo mais sobre coisas que não são minhas”.
Biblioteca
Dentre as leituras realizadas ainda no ensino médio, destaca autores que seguem sendo referência até hoje, como Ana Cristina Cesar, Ferreira Gullar e Bertolt Brecht. Dentre as obras que mais marcaram neste período, e que ainda segue sendo uma de suas preferidas, cita Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar.
Enquanto profissional que trabalha no ambiente literário, esta é a análise de Hiago, que acrescenta: “É necessário criar espaços para leitura”. Em sua percepção, entende a leitura enquanto ação coletiva, e traz como exemplo experiências positivas com clubes do livro. “A leitura pode assumir diferentes espaços, não precisa ser necessariamente silenciosa e individual”.


Hiago Rizzi nasceu em Maravilha, Santa Catarina, em 2000. É formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Foi colaborador da Divisão de Difusão Cultural da Biblioteca Pública do Paraná, repórter do jornal literário “Cândido” e é coordenador de comunicação da Editora e Livraria Telaranha.
Editou a publicação de artes visuais e poesia contemporânea “Perto do fogo” (2022) e organizou os livros “Espáduas” (2023) e “Táxis experimentais” (2025), ambos de Rollo de Resende (1965-1995). “Maravalha” (2024) é seu primeiro livro.