Foto: Camilla Constantin/WH Comunicações
Apesar da imposição da sociedade para que a felicidade reine durante as festas de Natal e Réveillon, para muitas pessoas essa época do ano pode ser dolorosa, principalmente para quem perdeu alguém especial.
Normalmente, o mês de dezembro traz reflexões profundas sobre o tempo que passou e o que está por vir. Na verdade, os próprios rituais durante as festividades levam a esse caminho. E, assim, todos esses fatores contribuem para criar uma atmosfera melancólica, fazendo surgir sentimentos de angústia e tristeza.
É assim que surge o desafio: como encarar as festas de fim de ano em meio à dor do luto? Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que não existe maneira certa ou errada de fazer isso, afinal, cada vivência é única.
Para entender mais sobre o assunto, nossa equipe conversou com a escritora Marisleide Dulce Brixner Werlang. A maravilhense, que já é autora de uma obra infantojuvenil, lançou neste ano a “Metamorfose do Luto”. O livro de autoajuda foi escrito após ela enfrentar a perda do marido, há pouco mais de um ano.
Marisleide também está com uma novidade: seu quarto livro, chamado “Viva o Presente”, que traz uma visão sobre o despertar, ou seja, sobre aprender a gostar da própria companhia e viver o hoje. Confira a entrevista na sequência.
O Líder: É comum que nessa época do ano os sentimentos ligados ao luto sejam intensificados?
Marisleide: Com certeza, o luto não é algo fácil de lidar, ele precisa de tempo e de um processo. Cada perda significativa tem seu valor emocional envolvido. Cabe a cada um identificar e encontrar meios de superá-lo. Eu costumava me comparar ou me espelhar na dor do outro, mas fui vendo que isso era impossível. Não optei por me privar de continuar a viver, até porque tenho filhos que dependem no momento do meu bem-estar, para que se desenvolvam e aprendam também a lidar com o luto. Então meu luto se transformou em luta e garra por vencer, nos primeiros meses foi uma avalanche de sentimentos e emoções muito afloradas, mas com o passar dos meses a dor foi se acomodando e eu fui desenvolvendo sentimentos novos com aquela tristeza. Fui substituindo a dor por lembrança boas, visualizando tudo de bom que aconteceu com nossa caminhada enquanto casal e aos poucos a tristeza foi ganhando outra forma. Durante este processo teve muitos momentos de recaída, principalmente quando chegavam datas comemorativas, era um turbilhão de emoções, pois como seriam os natais em família agora? A formatura dos filhos? O casamento? Os netos, talvez, e tudo mais. Mas também fui entendendo que era importante substituir esta falta pelas lembranças dos doces momentos compartilhados. Entender que há vida para quem fica depois da morte foi um ponto muito importante para mim e para os meus filhos.
Decidimos juntos aproveitar o tempo que ainda nos resta positivamente. E que, afinal, tudo que construímos enquanto família sempre se manterá. Com o passar do primeiro ano, as datas comemorativas foram tendo um novo sentido. Agora, quando a melancolia chega, automaticamente a gente substitui por um sorriso e lembra do lado positivo do passado, assim a dor e a saudade vão se transformando.
O Líder: Quais são as principais sugestões para lidar com o luto no Natal/Réveillon?
Marisleide: Primeiro respeitar os sentimentos que chegam, se vier choro deixar vir, se vier sorriso se permita sentir e se vier culpa, trate. Entender isso é muito importante para quem passa pela perda. Eu costumo dizer que enquanto estamos submersos aos sentimentos de tristeza e abandono a vida vai passando e você vai perdendo parte significativa desse processo. Há tanta vida pela frente, é tão bom ser feliz e se sentir bem. A primeira coisa que eu sugiro é: busque fazer uma atividade física, psiquiatras indicam atividades ao ar livre para tratar crises de pânico, ansiedade e depressão. É o primeiro ato, cuidar da saúde! Depois procure mostrar para a vida que você quer viver! O que você faz que te deixa feliz realmente? E comece a fazer! Aos poucos o processo do luto é superado e você volta a colocar um belo sorriso no rosto.
O Líder: E o que não fazer?
Marisleide: O que não fazer? Que pergunta interessante! Não se abandonar. Não se entregar para a dor. A vida é tão bela. Estamos ensinando o que para os nossos filhos? Que trabalho é mais importante que a felicidade? Que dinheiro é mais importante que a família? Quando a gente não está bem, tudo ao nosso redor também não fica bem.
O Líder: Quando procurar ajuda?
Marisleide: Sempre que sentir necessidade, cada um busca e encontra meios que auxiliem e que realmente tragam resultado. O meu caso foi primeiro voltar a cuidar da minha saúde, pois eu larguei tudo para os cuidados do meu esposo. Quando ele partiu, eu me permiti respirar o tempo necessário, depois voltei e decidir viver, afinal eu sei que ainda tenho muita vida para experimentar. Eu também encontrei nos livros e mentorias muita ajuda e, pasmem, hoje após um ano já não me reconheço mais. Eu costumo dizer que a gente está em comunidade. Deus para mim é tão perfeito que nos colocou juntos pois sabia que sozinhos não seríamos capazes de ficar aqui. Então sempre que você precisar de ajuda não hesite em pedir, isto é o ato mais corajoso de um ser humano.
INDICAÇÃO: FILME “IRMÃ DE NEVE”
O filme Irmã de Neve (2024), disponível na Netflix, explora as nuances entre a alegria natalina e a dor do luto, através do olhar de uma criança. Na sinopse, Julian e a sua família estão de luto pela perda da irmã mais velha e o menino sente que o Natal foi perdido, até conhecer Hedwig, uma garota cheia de alegria que adora a data.
É uma ótima indicação para famílias que vivem uma situação semelhante, principalmente para as crianças. O drama, inspirada em um conto natalino, traz lições profundas sobre amizade, luto e a força de preservar memórias.