DEPENDÊNCIA E POPULARIZAÇÃO - 30/03/2025 20:58 (atualizado em 30/03/2025 21:17)

Saiba mais sobre os impactos do cigarro eletrônico

Jovem compartilha o desejo de parar de fumar e especialista aborda prejuízos causados à saúde
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Foto: Freepik

As diversas cores, os diferentes formatos e a variedade de sabores não ameniza os efeitos nocivos do cigarro eletrônico para a saúde. Também conhecidos como vape, pod, entre outros, os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF) estão se popularizando, fato que gera preocupação.

A comercialização de cigarro eletrônico é proibida no Brasil. Na imagem, registro de uma apreensão da PRF/SC

Conversamos com uma pessoa de 24 anos que faz uso do cigarro eletrônico há dois anos. A fonte compartilhou seu relato sem se identificar publicamente. Quando começou a fumar através do dispositivo, acabou comprometendo parte da sua renda com este produto. Atualmente, tem buscado deixar o cigarro eletrônico cada vez mais de lado. Destaca que a atividade física foi um fator que contribuiu para esta consciência. “Eu sempre tenho vontade de parar por conta do pós rolê, que me deixa sem conseguir respirar uns três dias seguidos”, relata.

No Brasil, a comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de DEFs é proibida pela ANVISA desde 2009. Mesmo diante deste cenário, dados do Ipec e do IBGE demonstram que o uso do cigarro eletrônico tem crescido no país. 

Especialista explica consequências para saúde

A Drª Joana Lunardi, médica pneumologista, conversou com nossa redação e alertou sobre os impactos do cigarro eletrônico na saúde. A profissional é formada em medicina pela Unochapecó, possui especialização em Clínica Médica pela Universidade Federal de Pelotas e especialização em Pneumologia pelo Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

Médica pneumologista Joana Lunardi. Foto: Arquivo pessoal

Jonal O Líder - Quais riscos o consumo de cigarro eletrônico traz para a saúde? Que substâncias presentes nele são prejudiciais?

Drª Joana: O cigarro eletrônico não é seguro e traz sérios riscos à saúde. Ele contém substâncias como nicotina, que é altamente viciante e prejudicial ao sistema cardiovascular, além de compostos como formaldeído e acetaldeído, que podem ser formados durante a vaporização e têm propriedades cancerígenas. Outras substâncias como propilenoglicol e glicerina vegetal podem causar irritação nos pulmões e contribuir para doenças respiratórias. Ao contrário do que muitos acreditam, o cigarro eletrônico não é uma alternativa segura ao cigarro convencional; ele também coloca em risco a saúde do usuário e de quem está exposto ao vapor passivo.

É possível avaliar se o cigarro eletrônico é mais nocivo à saúde do que o cigarro convencional?

Embora o cigarro eletrônico emita menos substâncias tóxicas do que o cigarro tradicional, ele ainda é extremamente prejudicial à saúde. A nicotina, presente em muitos desses dispositivos, causa dependência e afeta diretamente o sistema cardiovascular, aumentando o risco de doenças cardíacas. Além disso, as substâncias químicas presentes no vapor ainda podem levar a danos pulmonares, cardiovasculares e até câncer. A comparação com o cigarro convencional não deve desviar o foco: ambos são perigosos e não há "opção segura" entre os dois. A melhor escolha é parar de fumar, independentemente da forma.

A visão de que o cigarro eletrônico pode ajudar quem deseja parar de fumar o cigarro convencional é um equívoco? O que as pesquisas apontam sobre esta relação?

Sim, essa visão é um equívoco. Embora algumas pessoas considerem o cigarro eletrônico uma "ferramenta" para parar de fumar, as pesquisas indicam que ele pode apenas substituir o vício do cigarro convencional por outro vício, sem necessariamente ajudar na cessação do tabagismo. Organizações de saúde como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde alertam que o uso de cigarros eletrônicos pode até piorar o quadro de dependência. A melhor forma de parar de fumar é com o auxílio de tratamentos comprovados, como terapia comportamental e medicamentos prescritos por médicos, que são mais eficazes.

Com que velocidade o cigarro eletrônico pode gerar dependência?

O cigarro eletrônico pode gerar dependência muito rapidamente, principalmente devido à alta concentração de nicotina encontrada em muitos dispositivos. A nicotina, substância altamente viciante, age diretamente no sistema nervoso central, criando uma forte dependência em um curto período. Usuários podem desenvolver esse vício em questão de dias ou semanas, e uma vez viciados, a dificuldade para parar aumenta significativamente. O vício pode ter efeitos prejudiciais tanto no físico quanto no psicológico, afetando a saúde respiratória, cardiovascular e emocional.

O que é a EVALI e quais os principais sintomas? 

A EVALI (E-cigarette or Vaping Product Use-Associated Lung Injury) é uma condição grave associada ao uso de cigarros eletrônicos. Essa lesão pulmonar pode causar sintomas como falta de ar, dor no peito, tosse persistente, febre e cansaço extremo. Em casos graves, pode levar à internação e até à morte. A EVALI é uma doença que deve ser tratada com seriedade, pois o impacto nos pulmões pode ser irreversível. Embora o caso seja mais comum nos Estados Unidos, já temos observado registros em outras regiões, e o número de pacientes com complicações respiratórias relacionadas ao uso de cigarro eletrônico está aumentando. Isso é alarmante e deve ser evitado.

Há riscos para saúde de quem inala a fumaça do cigarro eletrônico de forma passiva?

Sim, os riscos do cigarro eletrônico não se limitam apenas ao usuário, mas também a quem está exposto ao vapor passivo. Embora a fumaça seja menos visível, ela ainda contém substâncias tóxicas e nicotina, que podem afetar a saúde respiratória e cardiovascular de quem inala passivamente. Estudos mostram que a exposição ao vapor pode causar irritação nos pulmões, aumentar o risco de doenças cardiovasculares e até contribuir para o desenvolvimento de dependência em não usuários. A fumaça do cigarro eletrônico não é segura para ninguém, e a exposição passiva deve ser evitada a todo custo.

Em seus atendimentos nos últimos anos, você identifica aumento de problemas de saúde envolvendo o consumo de cigarros eletrônicos na região? 

Sim, tenho observado um aumento preocupante no número de pacientes com problemas respiratórios, tosse crônica e falta de ar relacionados ao uso de cigarros eletrônicos. O mais alarmante é que muitos desses casos envolvem jovens e adolescentes, faixa etária que muitas vezes não percebe a gravidade dos riscos envolvidos. Esses pacientes não só apresentam problemas respiratórios, mas também sinais de dependência de nicotina, o que é ainda mais preocupante, pois eles estão apenas começando a viver com as consequências do vício. O uso de cigarro eletrônico tem se tornado uma verdadeira epidemia entre os mais jovens, e a conscientização é urgente.

Quais orientações o senhor daria para quem tem interesse em se desvincular do vício do cigarro eletrônico?

A principal orientação é procurar ajuda profissional especializada para lidar com o vício de maneira eficaz. Existem tratamentos comprovados, como terapia cognitivo-comportamental e medicamentos para controle de nicotina, que podem ajudar a pessoa a parar de usar o cigarro eletrônico de forma segura. Além disso, é fundamental evitar situações que desencadeiem o desejo de usar o dispositivo, como ambientes em que outras pessoas estejam fumando ou vaporizando. O uso de cigarros eletrônicos não é uma solução, mas sim um problema, e a melhor forma de viver uma vida saudável é se desvincular desse vício o quanto antes.

Grupo de Combate ao Tabagismo em Maravilha

A Administração Municipal demonstra preocupação diante das consequências do cigarro eletrônico. O grupo de apoio para quem deseja parar de fumar, coordenado pela Secretaria Municipal de Saúde, também recebe pessoas que fazem uso deste dispositivo. 

Este ano, o cronograma de encontros inicia na próxima quinta-feira (3) às 19h, no 2º andar do Centro Especializado em Saúde de Maravilha. As demais reuniões irão ocorrer nos dias 10, 17 e 24 de abril, 8 e 22 de maio e 5 de junho. 

Pessoas interessadas podem se inscrever através do telefone (49) 9 8813-3776 ou procurar um (a) agente de saúde.

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Fonte: Tamara Finardi/ Rádio Líder/ WH Comunicações/ Jornal O Líder
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