ENCARANDO A FIBROMIALGIA - 30/05/2025 07:54 (atualizado em 30/05/2025 10:42)

Doença não tem cura e provoca dores crônicas em todo o corpo

Em Maravilha, grupo de fibromiálgicos se une para romper preconceitos e lutar por direitos
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“A dor existe, e te priva, mas é necessário se colocar à frente da dor”. Com esta determinação, Angela Menegassi Ciambroni, 42 anos, moradora da Linha São Paulo em Maravilha, define sua vivência em relação a fibromialgia. Esta é uma doença que provoca dores crônicas generalizadas em diversos pontos do corpo. “Ela envolve uma alteração na forma como o sistema nervoso processa os estímulos dolorosos, o que chamamos de sensibilização central, havendo uma alteração na percepção dolorosa,” explica a reumatologista Luiza Todt. A especialista também acrescenta que a doença ainda não tem cura e é considerada uma síndrome, porque envolve um conjunto de sinais e sintomas além da dor crônica, como a fadiga, distúrbios do sono e alterações cognitivas. A Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), estima que a fibromialgia afeta cerca de 2% a 3% da população brasileira, com uma maior proporção em mulheres - contudo ainda não há um estudo que justifique a relação de gênero na incidência da doença. 

O tratamento direcionado a fibromiálgicos abarca ações multidisciplinares, que envolvem tanto medidas com e sem o uso de medicamentos. “A base do tratamento da fibromialgia consiste em atividade física regular, suporte emocional, higiene do sono, terapia cognitivo comportamental, entre outros. A estratégia medicamentosa é útil para ajudar nessa condução, reduzir a dor, melhorar o sono e outros sintomas relacionados ao quadro fibromiálgico”, reforça Luiza. 

Angela convive com o desafio diário de controlar a fibromialgia há mais de 10 anos. O diagnóstico ocorreu em 2014, e com ele o baque inicial de conviver com uma doença que tenta esmagar o dia com as dores. Apesar da dor ser uma constante, e o cansaço um peso difícil de lidar, o sono não consegue servir de alívio, pois ele não é reparador. Neste aspecto, dois pontos são fundamentais: o acolhimento da família e da sociedade, e a realização de tratamentos paliativos, medicamentosos ou não, que impactam de forma profunda na qualidade de vida.

Falando em família, este é o momento em que o olhar de Angela assume um brilho diferente. Ela relata a importância deste apoio, de ter ao seu lado pessoas que compreendem que não se trata de brincadeira, preguiça ou desculpa. A dor é real, mas a compreensão pode tornar este fardo mais leve. O marido Wirlei Ciambroni Junior nunca largou sua mão, está sempre ao seu lado nas consultas e exames, e no dia a dia em casa. Além do mais, existe uma frase mágica, muito mais forte do que qualquer dor: ouvir o “eu te amo” do afilhado Pietro, de 5 anos. “Ele é um dos principais motivos que me faz encarar a dor todos os dias”, conta Angela emocionada. 

Angela demonstra como o apoio da família é fundamental para encarar a doença. Na foto ela está ao lado do marido Wirlei Ciambroni Junior e do afilhado Pietro. Crédito: Arquivo Pessoal

Sintomas e diagnóstico

A reumatologista Luiza apresenta os principais sintomas e como se dá o diagnóstico:

- Dor crônica em várias regiões do corpo
- Fadiga
- Sono não reparador
- Distúrbios de memória e concentração
- Ansiedade, depressão ou alterações de humor

Estes sintomas podem fazer parte de uma série de doenças, portanto, o diagnóstico não é tão simples. Ele é feito por meio da história clínica e exame físico do paciente – existem critérios que auxiliam nesse processo. Não há um exame específico para detectar fibromialgia, mas diversos exames podem ser solicitados para excluir outras doenças com sintomas semelhantes.


A luta contra o preconceito

Os pacientes diagnosticados com fibromialgia convivem com muitos estigmas. A reumatologista Luiza Todt explica que a doença já foi erroneamente considerada como algo estritamente psicológico. Contudo, com os avanços nas pesquisas científicas sobre o tema, a condição foi definida como uma uma síndrome real, multifatorial, com alterações no sistema nervoso central que amplificam a percepção da dor. Diante deste contexto, alguns pacientes não recebem o apoio necessário.

Se, aos olhos dos outros, a condição não é visível num primeiro momento, as pessoas acometidas pela fibromialgia lutam para visibilizar suas reivindicações e para fazer valer seus direitos. Por isso, as divulgações sobre o tema contribuem para que a comunidade observe a doença com um olhar mais sensível e com empatia.
Foto: Tamara Finardi/ O Líder/ WH Comunicações

Luta coletiva

O FIBROMAR é um grupo destinado a pessoas com Fibromialgia em Maravilha. Seus integrantes se articulam através da troca de informações sobre a doença, busca de orientações sobre direitos, organização de eventos junto a comunidade e reuniões com agentes do poder público. Inicialmente, tratava-se apenas de um grupo no WhatsApp, onde fibromiálgicos do município buscavam unir orientações sobre a doença que, para muitas pessoas, só passa a ser conhecida quando se recebe o diagnóstico. Assim, o grupo também se configura como um local de acolhimento e pertencimento. Caciara Regina de Souza, que convive com o diagnóstico da fibromialgia desde 2015, conheceu o grupo no aplicativo de mensagens em 2023. De lá pra cá, os membros sentiram a necessidade de ir além do on-line, se organizando de forma mais contundente em prol de tratamentos e na luta pela desmistificação do preconceito. Caciara foi escolhida como uma das pessoas a representar o coletivo e fazer frente neste processo e, agora, o grupo está prestes a dar um novo passo e se tornar uma associação: a AFIBROMAR. 

Esta formalização busca fortalecer a luta dos fibromiálgicos em Maravilha, como explica Caciara: “o intuito de criar uma associação surgiu pela necessidade de fortalecer políticas públicas e fazer valer as leis do âmbito federal, estadual e municipal que tratam sobre o acesso a tratamentos que as pessoas com fibromialgia tem direito.”

Angela Menegassi Ciambroni conheceu o grupo no início deste ano - até então, achava que lutava sozinha. Como membro, se envolve na organização das atividades para contribuir com esta luta que é coletiva. 

“Quando falamos em dor, também precisamos falar de amor. Estamos aqui para fazer um trabalho humanizado onde todos tem sua voz ouvida. Você, que é acometido ou acometida pela fibromialgia, e ainda não faz parte do nosso grupo, nos procure. Buscamos fortalecer uma rede de apoio e de solidariedade”, convida Caciara. Nas redes sociais, é possível saber mais sobre o grupo no Instagram @afibromar2025.

Tamara Finardi/ O Líder/ WH Comunicações
Lei Federal sobre atendimento no SUS

No Brasil, a Lei Federal nº 14.705/2023 estabelece diretrizes para o atendimento de pessoas com fibromialgia no SUS. Em nota enviada para redação do O Líder, o Ministério da Saúde informou que este tratamento é baseado no manejo dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida, com atendimento integral e multiprofissional em todos os níveis de atenção: na Atenção Primária, os pacientes contam com avaliação clínica, exames laboratoriais e de imagem, além de terapias farmacológicas e não farmacológicas, como práticas integrativas; na Atenção Especializada, são ofertadas consultas com especialistas, reabilitação física e apoio diagnóstico. 

Além do mais, a Política Nacional de Atenção Especializada em Saúde (PNAES), instituída pela Portaria GM/MS nº 1.604, de 18 de outubro de 2023, prevê o atendimento ambulatorial especializado para pessoas com fibromialgia.

Carteira de Identificação das Pessoas com Fibromialgia

Em Santa Catarina, a Lei Estadual nº 18.928/2024, equipara as pessoas com fibromialgia à pessoas com deficiência. Esta medida garante acesso a diversos benefícios e direitos.

Além disso, também é possível solicitar a emissão da Carteira de Identificação da Pessoa com Fibromialgia. Segundo informações no site da Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE), a Carteira garante a gratuidade no transporte intermunicipal de passageiros, de acordo com a legislação específica, além de garantir atenção integral, pronto atendimento e prioridade no acesso aos serviços públicos e privados, em especial na área da saúde, educação e assistência social. A Carteira é expedida pelo Governo de Santa Catarina, através da FCEE. Mais detalhes sobre os documentos necessários e o processo de avaliação do pedido podem ser consultados no site.

Atendimentos de saúde às pessoas com fibromialgia em Maravilha

A Secretaria Municipal de Saúde de Maravilha explica que, atualmente, os atendimentos de Médico Reumatologista são viabilizados por meio da compra de serviços junto ao Consórcio Intermunicipal de Saúde CIS-AMERIOS, com realização de consultas em Chapecó. O intuito da Pasta de Saúde é buscar estratégias para ampliar a oferta de atendimento desta especialidade, que atende tanto pessoas com fibromialgia quanto pacientes acometidos por outras doenças. 

Em relação à oferta de medicamentos, a secretária Marília Dessbesell esclarece que o fornecimento pelo município segue a Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME). Nossa equipe de redação também teve acesso ao Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da Dor Crônica, publicado pela Portaria Conjunta SAES/SAPS/SECTICS nº 1, de 22 de agosto de 2024, o qual elenca os medicamentos disponíveis para fibromialgia no âmbito do SUS. O documento pode ser acessado no site do Ministério da Saúde

Diante da importância de aliar o tratamento farmacológico ao não medicamentoso, buscamos mais informações sobre a oferta destes atendimentos no Município de Maravilha. De acordo com a Secretaria de Saúde, o atendimento psicológico e fisioterapêutico é ofertado mediante solicitação médica e regulação via SISREG. Para consultas com nutricionista, o agendamento pode ser feito diretamente na unidade de saúde de referência. Quanto à prática de atividade física, o município conta com o Programa Vida Ativa.

Sobre o cenário atual das pessoas que convivem com fibromialgia em Maravilha, a secretaria destaca a contribuição do FIBROMAR neste processo, pois irá compartilhar o relatório dos componentes do grupo, bem como os respectivos laudos médicos que comprovem o diagnóstico de fibromialgia.

Fonte: Tamara Finardi/ O Líder/ WH Comunicações
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