Muitas pessoas procuram grandes centros quando precisam “respirar cultura”. Entretanto, mesmo diante de desafios enfrentados por cidades menores, no que diz respeito à carência de novidades e limitações de espaços e/ou recursos, é preciso destacar que Maravilha possui muitos talentos e iniciativas que merecem atenção. Na sequência, conheça um pouco mais sobre dois curtas-metragens inspiradores.
VIOLETA
O curta-metragem Violeta foi filmado em Maravilha no primeiro semestre de 2024. No filme testemunhamos Helena tentando lidar com uma terrível perda gestacional. A dor que se instala muda profundamente a relação dela com a vida.
Violeta é baseado em fatos reais, vividos pela criadora do filme Bi Naluna (Gabriela Ferreira Santos).
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A atriz e diretora maravilhense viveu a perda gestacional de dois bebês. “A morte dos meus filhos mudou a minha vida por completo, e me percebi muito sozinha nessa dor, porque a perda gestacional é um luto invisibilizado pela sociedade. Percebi que muitas mulheres, como eu, sofrem em silêncio suas perdas e inclusive tem dificuldade de viver o seu luto, de dar um espaço na sua vida para lidar com essa experiência. A nossa dor é minimizada porque as pessoas pensam que o fato de nossos bebês não terem nascido significa que eles não têm tanta importância como a perda de uma criança que chegou a nascer, como se a nossa dor fosse menor. Mas a experiência como mãe não é assim... Eu perdi um filho. E essa é uma dor difícil de dimensionar para as outras pessoas. No meu processo pessoal percebi que falamos muito pouco sobre isso como sociedade. Mas se essa é uma experiência vivida por milhares de mulheres, então, por que não falamos sobre o assunto? Mesmo entre as mulheres da minha própria família percebi que era um tema intocado. O filme é um meio para dar voz a experiências similares à minha”, relata Bi Naluna.
Violeta conta com a participação especial de mulheres da família da atriz e diretora, todas residentes em Maravilha. Maria Eneida Ferreira Santos, Roma Ferreira e Maria Eunice da Silva Pugliero fizeram parte da equipe criativa. “O convite foi para que cantássemos juntas, para que a VOZ delas me acompanhasse nesse ato de dar VOZ à dor silenciada de tantas mulheres. Cantar foi também um meio para nos conectarmos entre as mulheres da própria família, com a intenção de transmutar as energias vinculadas à nossa matriz feminina. As nossas vozes, em coro, como força coletiva, integram a trilha sonora original do filme, composta por Luís Bittencourt, compositor e multi-instrumentista brasileiro residente em Portugal”, conta.
O roteiro é assinado de forma conjunta por Bi Naluna e Felipe Dagort, que também realizou a produção e assistência de direção. “Participar da concepção da ideia, produção, gravações e finalização do curta-metragem foi uma experiência intensa para mim. Atuando como roteirista, produtor e até figurante, enfrentei imensos desafios em cada uma dessas funções, sempre profundamente motivado pela importância do debate que o filme propõe. Denunciar o silenciamento da dor e do luto da perda gestacional é uma necessidade urgente nos dias de hoje. Acredito que Violeta tem o potencial de ser um farol de acolhimento para tantas Helenas que vivem essa dor em silêncio. Espero que, através deste trabalho, possamos abrir espaço para uma discussão mais sensível e empática sobre essa questão tão delicada e ainda pouco falada” comenta Felipe Dagort.
Na equipe também estão Marcos Oliveira, que assina a direção de fotografia, edição e finalização; Fernanda Ugalde como diretora de arte; Luís Bittencourt na trilha sonora original, mixagem e masterização; Rogério Pomorski na maquiagem e registro fotográfico das gravações; Ronaldo Palma no desenho de som, mixagem e masterização; Gustavo José Zanin como colaborador de fotografia e decupagem; Filipi Coelho na assistência do coro de vozes; e a locução foi gravado no Studio Moris Drumm.
As gravações ocorreram em maio, em um sítio localizado na Linha Primavera Alta, e no momento o filme se encontra no processo de finalização da etapa de pós-produção. A equipe aproveita para fazer um agradecimento especial a João Valdoir de Lima Santos (conhecido como Negão) pelo apoio ao projeto ao disponibilizar as locações para a gravação.
A ideia é realizar outras produções, para posicionar Maravilha nos circuitos nacionais de circulação de Cinema. O filme é apresentado por AMMA Cinema, com a co-produção da RAMA Arte e Cultura, realizado através da Lei Paulo Gustavo e da prefeitura municipal de Maravilha. Conta com o apoio da Clínica Prevdente, da Loja Anfitriã Home e do sítio Aconchego.
LABIRINTO
O que fazer quando nos perdemos em um labirinto arquitetado por nós mesmos? De acordo com o roteirista e diretor, Alexssandro Schappo, o curta-metragem Labirinto persegue essa pergunta em uma narrativa que reflete sobre como nossa identidade é formada por aquilo que nos acontece, ao mesmo tempo que provoca a pensar sobre a (im)possibilidade de elaborar essas experiências, em um momento em que inventamos novas formas de existir, para além de qualquer predeterminação.
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A automação cotidiana e o imaginário se encontram no desejo de criar uma forma de vida não hegemônica, mas plena de significado. Desta forma, o personagem principal é convidado a puxar o fio de suas memórias, entrando em contato com o esquecido que sempre esteve ali.
A mitologia, narrativa amplamente utilizada por muitos povos para tentar explicar as coisas do mundo, é usada como referência e inspiração para a construção do curta, especialmente a mitologia grega.
O projeto tem produção da Unidade Imaginária, com roteiro, direção e atuação de Alexssandro Schappo, produção e atuação de Dalvana Vanso, produção e cenografia de Douglas Comparin, edição de vídeo de Luis Henrique Bianchet e edição de imagens/pôsteres de Evillyn Briana Braganholi.
Alexssandro Schappo conta que a história foi inicialmente escrita no formato de um poema, durante a pandemia de covid-19 em 2020, vindo a ser finalizada em 2022 durante o processo de escrita de sua dissertação de mestrado, que buscava elaborar uma reflexão sobre seu processo educativo através de experiências autobiográficas.
Em 2023, com a oportunidade de participar do edital de fomento à cultura da Lei Paulo Gustavo Nº 011/2023, na cidade de Maravilha, decidiu transformar o poema em um roteiro para curta-metragem, surgindo Labirinto, título do projeto final. “É pertinente ressaltar a importância de leis e projetos de fomento à cultura que não apenas descentralize verbas, mas que empodere artistas de cidades interioranas que carecem de espaços institucionais e atividades que viabilizem a produção e circulação da arte. O projeto Labirinto, assim como tantos outros pelo Brasil afora, só foi possível graças a essas políticas públicas, num movimento de democratização do acesso à arte, seja na produção ou consumo. Desta forma, vale agradecer à prefeitura municipal de Maravilha, especialmente a diretora de Cultura, Rosi Reichert, por ter realizado todos os trâmites burocráticos para que a Lei Paulo Gustavo se tornasse efetiva na cidade”, diz.