O caminhoneiro que arrastou uma motocicleta por cerca de 30 quilômetros na BR-101, no município de Penha, em Santa Catarina, ignorou os pedidos de socorro de uma das vítima e assumiu risco de matar, no entendimento do Ministério Público catarinense. O motorista está preso e responde pelo homicídio de Sandra Aparecida Pereira, 47 anos, e tentativa de homicídio de Anderson Pereira, 49 anos.
O caso ocorreu em 6 de março, quando o caminhoneiro — que não teve a identidade divulgada — colidiu na traseira de uma motocicleta e, sem parar, seguiu empurrando o veículo pela rodovia. Duas pessoas estavam na moto, o casal Sandra e Anderson. Com a colisão, a mulher caiu na pista, foi socorrida pela concessionária Arcanjo, que administra a rodovia, e levada ao hospital, mas não resistiu e morreu. Anderson conseguiu sair da moto, se agarrando ao caminhão, e alcançou a janela do motorista.
Ali, agarrado a porta, o homem relatou que pedia para o condutor parar o veículo, para que ele pudesse descer e procurar pela esposa. Segundo a polícia, o caminhoneiro só parou cerca de 30 quilômetros depois, mas Anderson conseguiu saltar na via antes.O caminhoneiro foi denunciado pelo homicídio de Sandra e por tentativa de homicídio triplamente qualificada de Anderson, "pois além de arrastá-lo por cerca de 20 km, ele ignorou os pedidos da vítima, para que parasse, dava socos e a empurrava com o intuito de jogá-la do caminhão em movimento", afirmou o MP.
Em entrevista ao programa Fantástico, no último domingo, Anderson relatou que após a colisão, perdeu a consciência e ficou desacordado na moto por alguns instantes. Depois, começou a subir no caminhão.— Fiquei de frente pro caminhão, pro motor, e o motorista indiferente a qualquer coisa mantendo a velocidade. Andei mais pro lado um pouco e parei do lado: "Moço, para esse caminhão, diminui a velocidade, deixa eu descer, eu preciso descer". Esbofeteou meu rosto, eu segurei firme. A única coisa que o motorista dizia: "Vai morrer, vai morrer. Quer morrer? Vai morrer" — relatou a vítima ao Fantástico.
Para o MP, o homem estaria sob efeito de drogas. "Consta nos autos indícios de que o homem consumiu cocaína e rebite (derivado da anfetamina). Ele não dormia há dias, e assim agiu no intuito de terminar a viagem e entregar a carga em menos tempo. Então, ao agir dessa forma, assumiu o risco (dolo eventual) de matar qualquer das pessoas que cruzassem seu caminho. Além disso, há testemunhas que relataram que ele conduzia o caminhão em velocidade excessiva e de forma perigosa, o que corrobora o dolo eventual. Já no que toca à vítima sobrevivente, ele teve o dolo direto de matar, segundo se colheu dos autos", complementou a entidade.
O condutor foi preso em flagrante no dia da colisão, e teve a prisão convertida em preventiva posteriormente. O homem está preso no Complexo Penitenciário do Vale do Itajaí, em Canhanduba. Em depoimento, segundo a polícia, o caminhoneiro permaneceu em silêncio. Ele não tem antecedentes criminais.
O motorista foi indiciado pela Polícia Civil e, depois, denunciado pelo MP/SC, no último dia 10. A Justiça aceitou a denuncia no dia 12.