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O ex-ministro foi à CPI na condição de testemunha, quando há o compromisso de dizer a verdade sob o risco de incorrer no crime de falso testemunho. O Brasil já tem mais de 408 mil mortes por Covid-19.
Mandetta deixou o ministério após divergências com Bolsonaro, envolvendo as opiniões do presidente sobre o combate à pandemia. O presidente é contrário ao isolamento social e defende a cloroquina, remédio sem eficácia contra o vírus.
O ex-ministro disse que "era constrangedor" ficar explicando sua divergência com Bolsonaro sobre distanciamento social.
“Eu estive dentro do Palácio do Planalto quando fui informado, após uma reunião, que era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma reunião com vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina, que eu nunca tinha conhecido. Quer dizer, ele tinha esse assessoramento paralelo. Nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não-timbrado de um decreto presidencial para que fosse sugerido daquela reunião que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação da cloroquina para coronavírus. E foi inclusive o próprio presidente da Anvisa, [Antônio] Barra Torres que disse não”, afirmou.
“Me lembro do presidente sempre questionar a questão ligada a cloroquina como a válvula de tratamento precoce, embora sem evidência científica. Eu me lembro do presidente algumas vezes falar que ele adotaria o chamado confinamento vertical, que era também algo que a gente não recomendava. Eu acho que ele tinha uma outra, provavelmente, eu não saberia lhe dizer, mas provavelmente uma outra fonte que dava para ele, aí ele teria que dizer, que dava para ele, porque do Ministério da Saúde nunca houve a recomendação de coisas que não fossem da cartilha da organização mundial de saúde, dessas estruturas todas, era o que a gente tinha, não por sermos donos da verdade, não, pelo contrário, nós éramos donos da dúvida, eu torcia muito para que aquelas teorias: 'Aah, o vírus não vai chegar no Brasil'. Agora, se eu adotasse aquela teoria e [o vírus] chegasse, teria sido uma carnificina”, completou o ex-ministro.
“Eu testemunhei várias vezes reuniões de ministros em que o filho do presidente que é vereador do Rio de Janeiro estava sentado atrás tomando as notas da reunião. Eles tinham constantemente reuniões com esses grupos dentro da Presidência.”
Na resposta, Mandetta disse que faltou ao país ter uma "unidade" no combate à pandemia e uma "fala única" na condução da crise.
Para Mandetta, as falas contrárias à ciência criaram divisões dentro do país e, com isso, parte da população achou que poderia desobedecer medidas de prenveção.
"Aquelas entrevistas, elas só existiam porque não havia... O normal, quando você tem uma doença infecciosa, é você ter uma campanha institucional, como foi, por exemplo, a Aids. Havia uma campanha onde se falava sobre a Aids, como pega, e orientava as pessoas a usarem preservativo. Era difícil para a sociedade brasileira fazer, mas havia uma campanha oficial. Não havia como fazer uma campanha [contra a Covid], não queriam fazer uma campanha oficial”, afirmou.
“Eu acho que nós tivemos em um determinado momento um caminho traçado pelo Ministério da Saúde para testagem, para utilização da atenção primária [...] Nós tínhamos um caminho, nós sabíamos para onde nós iríamos. Nós tínhamos claramente que nós iríamos testar, bloquear ao máximo possível os contágios, identificá-los. E nós iríamos tratar, via atenção primária, e ampliar a nossa rede de atendimento hospitalar. Isso era a maneira como nós focávamos. Nós não tomamos nenhuma medida que não tenha sido pela ciência, e a ciência é essa, é isso que recomendava. Agora, a posteriori, nós vimos pararem muitas coisas e não colocarem outras no lugar. A testagem é uma delas”, disse Mandetta.
"O que só me resta dizer que a tomada de decisão foi em cima de três pilares: a defesa intransigente da vida, que foi o princípio número um, não haveria nenhuma vida que não fosse valorizada; o SUS, como meio para atingir; e a ciência, como elemento de decisão. Esses foram os três pilares sob os quais nós construímos o eixo de prevenção, de atenção, de testagem, de hospitalização e de monitoramento da doença", afirmou o ex-ministro.
Uma das estratégias da oposição é envolver governadores nas investigações da CPI, para tirar o foco do governo federal.
O presidente da CPI, senador Omaz Aziz (PSD-AM), e o vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) reforçaram aos colegas oposicionistas que o repasse de verbas para estados será alvo da CPI. Aziz e Randolfe disseram que essa questão já está esclarecida e que os oposicionistas estão tentando tumultuar os trabalhos da comissão.
"Ô tropa de choque atrapalhada. Vão para o STF [Supremo Tribunal Federal] para tentar obstruir toda vez, parece que tem uma coisa pessoal contra o relator, toda vez, tem uma paixão pelo relator, homem. Toda vez ficam querendo questionar os trabalhos do relator. Está no plano de trabalho aqui: emprego de recursos federais. Só era ler, homem. Só era se dar ao trabalho de ler o plano de trabalho. Minha questão de ordem é para gente trabalhar", afirmou Randolfe, em meio ao debate no início da sessão.