O resultado foi publicado ontem na revista JAMA Pediatrics, da Associação Médica Americana. Liderados pela psicóloga Sheri Madigan, da Universidade de Calgary, no Canadá, os autores do artigo afirmam que os serviços de atendimento à saúde mental infantojuvenil precisam ser ampliados para lidar com o problema, mesmo em países mais ricos.
Um dos motivos que levaram a essa epidemia infantojuvenil de depressão e ansiedade paralela à pandemia da Covid-19 é que, sem escola, muitas crianças tiveram de ficar em casa, privadas de interação social, de atividade física e outros fatores importantes para o desenvolvimento.
Quando o problema surgiu, dizem os cientistas, a maior parte dos países não estava preparada para ele.
Segundo a pesquisadora, há coisas que famílias também podem fazer para minimizar o impacto sobre os jovens, como reduzir o tempo em que os menores de idade ficam à frente de telefones celulares, TVs e computadores.
Madigan diz que os responsáveis podem tentar compensar as atividades que os filhos perderam:
Dentre os 29 estudos relacionados na pesquisa de revisão da psicóloga, 16 foram conduzidos na Ásia, quatro na Europa, seis na América do Norte, dois na América Latina e um no Oriente Médio. Os pesquisadores não notaram muita diferença entre países de baixa e alta renda per capita, mas reconheceram que o estudo não foi desenhado para esse fim.
O formulário foi respondido por 289 crianças junto de seus pais em cidades de todo o Brasil. A prevalência estimada de sintomas clínicos de transtornos de ansiedade nesse grupo foi de 19,4%, taxa similar à média mundial verificada pelo estudo de Sheri Madigan.
— Passado um ano, em março de 2021, a gente coletou novamente esses dados, ampliando a amostragem — afirmou Avila, que prosseguiu: — Tivemos 906 crianças que participaram com os pais ou responsáveis, e vimos que a parcela delas com os sintomas de ansiedade cresceu, para cerca de 25%.
— As crianças que relataram ter pai e mãe em home office tiveram menor “score” (nota) de ansiedade, e ocorreu o contrário com pais mais jovens em condições socioeconômicas mais baixas — afirma a pesquisadora da Unesp.
— Ter muitas pessoas morando na mesma casa também foi um fator associado como causador de ansiedade nas crianças, e as crianças deficientes ou com comorbidade são as que mais sofreram — afirmou ela.
Resta saber, diz a pesquisadora canadense, se esses problemas vão persistir depois que as restrições impostas pela pandemia deixarem de existir.