O Talibã já esteve no poder no Afeganistão entre 1996 e 2001. Nesse período, comandou um governo com leis religiosas severas, com proibição de que mulheres pudessem trabalhar e estudar, penas como execução pública de assassinos e outras ações que ferem os direitos humanos.
Em 2020, um acordo feito pelo governo americano e o Talibã definiu que os Estados Unidos retirariam as tropas que atuavam há 20 anos no país, e que ajudaram a conter um possível avanço do grupo extremista no país. No início de julho de 2021, os EUA informaram que a retirada já estava “mais de 90% concluída”. Em poucas semanas, o Talibã tomou o poder em cidades importantes do Afeganistão.
Com a volta do Talibã ao comando, o temor principal é de que o grupo imponha um novo regime rigoroso de interpretação das leis islâmicas, com violação de direitos, prisões e execuções. Líderes de outros países também manifestam preocupação com possíveis abusos no Afeganistão.
Siebert explica que o acordo de Trump previa a retirada escalonada dos militares, à medida que o Talibã cumprisse as exigências. Mas em abril deste ano, Biden anunciou que retiraria as tropas americanas do país até 11 de setembro, quando se completam 20 anos do ataque ao World Trade Center. Ele diz que a medida chegou a ser desaconselhada pelo comando militar americano, porque o governo afegão não teria condições de controlar a situação. Menos de quatro meses após o anúncio, o Talibã voltou a avançar e retomou o poder do país.
O Talibã, que comandava o país à época, era acusado de se recusar a entregar o líder da Al Qaeda, e se tornou alvo de uma política chamada de “Guerra ao Terror”, conduzida pelo então presidente norte-americano George W. Bush. Os EUA derrubaram o governo dos talibãs e se mantiveram no país na busca por Bin Laden e na tentativa de controlar a situação no país.
– Foi um erro invadir o Afeganistão? Talvez não. Mas após a morte de Bin Laden, em 2011, e sem “seduzir corações e mentes”, a presença dos americanos não mais se justificava, e era preciso uma retirada estratégica. Mas sair de um país ocupado às vezes é mais difícil do que entrar – afirma o professor Itamar Siebert, que vê muitas semelhanças entre a situação vivida hoje no Afeganistão e o desfecho da Guerra do Vietnã, em 1975.
O país resistiu a invasões britânicas ainda no século 19 e, depois disso, viveu décadas de independência da influência estrangeira sob comando de uma monarquia. Na década de 1970, o Afeganistão se tornou um país socialista, pela proximidade que tinha com a antiga União Soviética.
- Agora, mais uma vez um grande império deixa o Afeganistão sem conseguir controlar o país - frisa o professor Itamar Siebert.
O Talibã surgiu oficialmente em 1994, período em que o Afeganistão ainda estava devastado pela guerra de 10 anos contra os soviéticos, entre 1979 e 1989, e por outros conflitos.
Os talibãs prometeram restaurar a ordem e a justiça e cresceram rapidamente. Tiveram uma série de conquistas territoriais até que em 27 de setembro de 1996 ocuparam Cabul. Eles expulsaram o presidente Burhanuddin Rabbani e executaram publicamente o ex-presidente comunista Najibullah.
As penas que eles ordenavam incluíam cortar as mãos de ladrões, executar assassinos em público, esmagar homossexuais sob uma parede de tijolos ou apedrejar mulheres adúlteras.
Em julho de 2015, o Paquistão sediou as primeiras discussões diretas, apoiadas por Estados Unidos e China, entre o governo afegão e o Talibã. No entanto, o diálogo não avançou.
Em 29 de fevereiro de 2020, ainda no governo de Donald Trump, os Estados Unidos assinaram um acordo histórico com o Talibã, que previa a retirada de soldados estrangeiros em troca de garantias de segurança e a abertura de negociações entre os insurgentes e o governo afegão.
— Nós costumamos ter a concepção de que política é uma coisa, e religião é outra, é algo de foro íntimo. Temos o Estado laico. Na teocracia, entende-se que o aparato político depende do princípio religioso, as regras são voltadas aos fundamentos da religião islâmica – por isso fundamentalismo — explica.
– Vai haver estabilidade? Agora é ter confiança de que o Talibã vai parar com o terrorismo, respeitar os estrangeiros, vai cumprir os termos da negociação se quiser algum reconhecimento internacional. Mas é uma hipótese difícil de acreditar, porque nesses 20 anos eles seguiram atacando e os alvos preferidos eram civis estrangeiros – analisa o professor.