Meio ambiente - 17/09/2021 07:42

SC tem mais de 30 espécies de abelhas sem ferrão; veja como cultivar em casa

Prática considerada favorável para as espécies requer ambiente adequado e conhecimento sobre o manejo
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Mandaçaia, jataí e mirim. Nada de gatos ou cachorros. Já imaginou criar essas abelhas nativas sem ferrão em casa? Apesar da prática estar se tornado cada vez mais comum, a criação de espécies silvestres exige cuidados e uma consciência ecológica para evitar problemas a longo prazo.

Santa Catarina tem o registro de 35 espécies, que possuem distintos tamanhos, cores, formas, hábitos e produção de quantidade de mel. Em levantamento feito pela equipe de apicultura e meliponicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) no ano de 2011 foram encontradas 27 destas espécies em diferentes regiões do Estado.

Muitas delas acabaram se adaptando a áreas urbanas sem esforço do homem, principalmente as abelhas sem ferrão menores, utilizando além de árvores ocas, frestas em telhados, caixas de luz, batentes de porta e buracos em muros.

– Elas vão se adaptando aos espaços que têm porque naturalmente essas abelhas entram em enxameação e multiplicam os enxames todo ano e procuram novos lugares. Na ausência de árvores grossas o suficiente, que tenham ocos propícios para colher um ninho de abelha, elas vão procurar outros buracos e acabam se alojando em lugares nem sempre adequados – afirma a engenheira ambiental e meliponicultora Stefânia Hofmann. 

Uma prática que tem se tornado muito comum é a criação desses insetos em caixas nos quintais e varandas, a chamada meliponicultura. Essa ação ajuda na preservação, colabora com o equilíbrio do meio ambiente e também fomenta a economia dos pequenos produtores.


No entanto, para quem tem interesse é preciso estar de acordo com a regulamentação, acompanhar os estudos sobre a área, ter ambientes adequados para a criação e obter conhecimento para fazer o manejo de forma correta.

Seja como passatempo ou para ajudar a salvar as espécies, a criação de abelhas pode trazer muitos benefícios para quem as cultiva por conta da produção de mel, um quintal mais florido ou com mais frutas e, é claro, poder observar de pertinho a rotina desses insetos tão importantes para a natureza por conta da polinização.

Lembre-se que por ser uma abelha nativa também é importante incentivar ações que também preservem o habitat natural. Afinal, manter as espécies na natureza favorece o criador que garante um melhoramento genético natural e também promove a proteção dos ecossistemas.

Clima precisa contribuir para a criação
O técnico em agropecuária Ivanir Cella, que é extensionista rural na Epagri e presidente da Federação das Associações de Apicultores e Melipolinicultores de Santa Catarina (Faasc), reforça a atenção em escolher espécies que estejam adaptadas ao microclima de onde elas vão ser colocadas.

– Já que vai ser um lugar artificial, não é um lugar que a abelha faz a escolha, é necessário ter uma caixa adequada com uma espessura suficiente para ter um conforto térmico e espaço suficiente. Agora para quem pensa em fazer o manejo, reproduzir e formar novas colônias para aumentar o plantel, precisa ter uma melhor capacitação, porque as abelhas que vivem em colônias têm uma sociedade bastante complexa e qualquer intervenção que seja inadequada vai ter problemas – afirma.

Atenção às normas da legislação e estudo sobre a espécie é essencial
A atividade até pode parecer simples, mas requer atenção às normas da legislação e conhecimento sobre as abelhas, aponta o meliponicultor e engenheiro agrônomo da Epagri Rodrigo Durieux da Cunha.

– Criar abelhas sem ferrão é uma grande responsabilidade, para se ter sucesso na criação e não colocar em risco esses insetos que são essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas. A recomendação é que sempre a pessoa busque inicialmente por informação. Temos bastante materiais técnicos sobre abelhas nativas, por isso, antes de ter é preciso se capacitar. Além disso, é necessário saber quem são os fornecedores, para isso é possível pegar indicações com a equipe técnica da Epagri ou um meliponicultor experiente – explica.

Sobre a legislação há uma resolução n° 496 de 2020, do Conselho Nacional do meio Ambiente (Conama) sobre o uso e o manejo sustentável das abelhas nativas sem ferrão, que permite a troca de colônias ou a permuta para o melhoramento genético ou diversificação da espécie para atividade de manutenção de colônias sem finalidade comercial ou econômica, para produtores dentro de um mesmo bioma de até 49 colônias.

Também há regras em âmbito estadual como a lei nº 16.171/2013 e a 17.099/2017, que envolvem a criação, o comércio e o transporte de abelhas sem ferrão. As atividades também devem respeitar as disposições previstas no plano diretor municipal.

Caso faça movimentações das caixas de locais, o ideal é que seja feito o registro na Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), que faz o rastreamento e se preocupa com a questão sanitária, para evitar propagações de doenças ou pragas. Entre as leis que protegem as abelhas sem ferrão em Santa Catarina está a proibição da produção de mudas e o plantio da árvore espatódea (Spathodea campanulata) também conhecida bisnagueira.

A planta de origem africana, que foi introduzida no Brasil como árvore ornamental e integra o paisagismo de muitas cidades catarinense, tem uma substância nas flores com ação inseticida que pode ser tóxica para abelhas sem ferrão.

Como é a abelha sem ferrão
Os meliponídeos, que chamamos popularmente as abelhas sem ferrão, abelhas nativas ou abelhas indígenas, são abelhas sociais que vivem em colônias e caracterizam-se por apresentar o aparelho ferroador atrofiado.

Existem no mundo mais de 400 espécies dessas abelhas, no Brasil são aproximadamente 300 espécies. Segundo a Epagri, em Santa Catarina ocorrem naturalmente pelo menos 35 espécies, porém por ter exigências específicas em relação às condições climáticas, muitas espécies são encontradas somente em determinadas regiões.

O diretor de meliponicultura da Federação da Faasc, Sigfrid Fromming, orienta que a escolha pela espécie para ter em casa deve levar em consideração a opção por abelhas nativas catarinenses. – Escolha as que já existem na região.

Em termos gerais tem as opções das mandaçaia, as mirins e a jataí para apartamento. Em casa, com um quintal maior, é possível ter tubunas, e se tiver lugar mais úmido, teria as guaraipos. Para a parte mais Oeste do estado tem a iraí, a borá para espaços amplos – afirma.

Fromming também explica que há espécies que se defendem quando são ameaçadas e podem incomodar como enroscar em cabelos.

– Qualquer pessoa pode criar abelhas sem ferrão em casa. Sabemos que muitas pessoas têm pânico ou pavor pelo simples fato de chamar abelha por associar a abelha com ferrão. Para essas pessoas a criação é contraindicada.

A maior causa de perda de biodiversidade em geral é a destruição do habitat natural das espécies.

As abelhas sem ferrão estão ameaçadas com a derrubada de florestas, queimadas, aumento das áreas de monocultura e pastagens, avanço das cidades e o uso abusivo de agrotóxicos.

– O uso de pesticidas é uma das principais causas do sumiço das abelhas no mundo inteiro. Além disso, a ação predatória de remoção de ninhos naturais também é uma ameaça à população das espécies nativas – aponta a engenheira ambiental e meliponicultora Stefânia Hofmann.

Ela explica que quando ocorre a criação de abelhas sem ferrão em cidades pode ser reinseridas as espécies em locais que antes existiam em abundância.

– Criando abelhas nas cidades a gente ajuda na regeneração dos ecossistemas do meio urbano através da polinização, a gente torna o processo de polinização mais efetivo com a presença dessas abelhas, isso faz com que as matas no meio urbano também contenham uma resiliência maior, uma autorregeneração mais eficiente, mais potencializada.


Fonte: DC
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