BOLSA DE VALORES - 15/12/2022 08:49

Empresas brasileiras perdem R$ 652 bilhões em valor de mercado

Incertezas na economia, nomeações para o novo governo e declarações da equipe de transição motivaram a queda
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As empresas brasileiras listadas na Bolsa de Valores tiveram uma desvalorização de R$ 651,9 bilhões desde o resultado das eleições presidenciais, no fim de outubro, segundo estudo realizado pela Economatica, plataforma de informações sobre o mercado financeiro.

Já os dados compilados pelo portal de gerenciamento de investimentos TradeMap mostram que, em 28 de outubro, última sexta-feira antes do segundo turno, todas as companhias nacionais com ações na B3 valiam, juntas, R$ 4,413 trilhões. A soma caiu para R$ 3,841 trilhões no fechamento da última terça-feira (13), uma desvalorização total de R$ 571,86 bilhões.

Entre 21 de outubro e 13 de dezembro, as empresas listadas na Bolsa de São Paulo perderam R$ 730,84 bilhões em valor de mercado. Uma semana antes do dia 28 de outubro, as ações da Petrobras atingiram o valor mais alto de sua história, e a estatal, que é a maior empresa brasileira, chegou a valer R$ 520,60 bilhões. No mesmo dia, o Ibovespa encerrou o pregão em 119.933 pontos.

Na última terça, o principal índice da Bolsa brasileira chegou a zerar todos os ganhos, mas fechou no positivo, em 0,5% em reais e quase 8% em dólares, com volatilidade na curva de juros. Terminou o dia em 103.671 pontos, uma queda de 13,5%, enquanto o valor de mercado da petrolífera caiu para R$ 331,05 bilhões.

A forte queda da bolsa brasileira no início desta semana é, segundo Vanessa Naissinger, especialista de investimentos da Rico, "ainda uma resposta aos anúncios dos nomes para os ministérios do presidente eleito, ocorridos na sexta-feira, e as indicações de outros participantes do governo na manhã de segunda”.

Entre 28 de outubro e a última terça, as perdas da Petrobras foram de R$ 117,69 bilhões, e desde o fechamento de 31 de outubro, o dia seguinte ao segundo turno, o valor de mercado da empresa caiu R$ 83,4 bilhões. Outra estatal, a Eletrobras, também apresentou queda no período, de R$ 18,4 bilhões.

Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora, diz que o Ibovespa já começou a semana com a desvalorização de praticamente todas as ações que o compõem, "com o mercado precificando risco fiscal, o que estressa a curva de juros, favorece a alta do dólar e penaliza os ativos de risco", analisa.

“Entre as principais blue chips, a Petrobras puxa a fila das perdas, juntamente com o Banco do Brasil, e ambos recuam com maior intensidade e pesam no Ibovespa. Vale ressaltar que a desvalorização das ações da Petrobras foi na direção contrária à alta do preço do petróleo, o que reforça o momento de aversão ao risco em meio a ruídos políticos, mesmo com o valuation atrativo da estatal", afirma De Checchi.

Na quarta-feira (14), apesar de o Índice Bovespa ter iniciado a sessão "na contramão do mercado externo, com forte pressão vendedora, recuperou-se durante o dia", diz o analista. Ele também informa que a desvalorização das ações da Petrobras continou forte no pregão do dia e puxou a fila das perdas no Ibovespa, enquanto os bancos privados, Vale e B3 se valorizaram, o que ajudou na boa recuperação do índice, que indica algum repique ao longo desta semana.

Considerando apenas as 16 empresas sob o controle do governo brasileiro listadas na Bolsa, a soma de seu valor era R$ 887,54 bilhões em 21 de outubro, e R$ 798,43 bilhões uma semana depois, no dia 28 de outubro. Em 13 de dezembro, o total havia passado para R$ 636,93 bilhões, segundo cálculo realizado pelo TradeMap, o que indica perdas de R$ 250,60 bilhões entre 21 de outubro e 13 de dezembro e de R$ 161,50 bilhões se for considerado o dia 28 de outubro como a data de início do período.

A Vale, privatizada em 1997, ganhou R$ 86,4 bilhões em valor de mercado, entre 31 de outubro e 13 de dezembro, segundo a Economatica. No setor privado, também chama atenção o baixo desempenho das ações do Bradesco e do Itaú, companhias que perderam R$ 56,3 bilhões e R$ 61,3 bilhões, respectivamente.

Para André Meirelles, economista da InvestSmart XP, os números refletem a incerteza do mercado financeiro em relação às políticas econômicas que serão adotadas pelo governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de certo descontentamento com as nomeações de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda e de Aloizio Mercadante para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). 

"Existe o receio de como vai ser o novo governo. Um exemplo é essa mudança na Lei das Estatais, principalmente a maneira como está sendo feita. Isso aumenta as incertezas, e o mercado precifica, já que estamos em um cenário com mais riscos do que há alguns meses", diz.

Nesta terça-feira, a Câmara aprovou em votação-relâmpago uma alteração na Lei das Estatais para flexibilizar a restrição da indicação de políticos para cargos em diretorias de estatais. O objetivo é facilitar a ida de Aloizio Mercadante para a presidência do BNDES. O tempo mínimo para a indicação de pessoas com ingerência politica, que era de 36 meses, foi reduzido para 3.

Essa aprovação impulsionou a aversão ao risco entre investidores, avalia Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, "diante da rápida mudança no arcabouço institucional do país e da sinalização incerta adiante", diz. "Com as atenções voltadas ao palco politico, a divulgação do indicador mensal de atividade do Banco Central, o IBC-Br, acabou não suscitando grandes reações entre os investidores", analisa Rachel. 

O grau de incerteza macroeconômica, estimado por economistas, é de 44,28% nos últimos 45 dias, de acordo com a Economatica, e de 44% desde o fim do primeiro turno das eleições. "Não dá para saber se Mercadante vai fazer com que o setor privado lucre menos num futuro próximo, mas a incerteza aumentou, e isso é precificado pelo mercado", explica Meirelles.

A indicação do ex-ministro, que é economista e professor, para presidir o BNDES fez o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, cair 2.000 pontos quase imediatamente. "O problema nem foi tanto a transição, porque houve bons nomes, como o de Pérsio Arida, e a própria coodernação de [Geraldo] Alckmin, pessoas que agradam ao mercado. Mas as nomeações não supreenderam positivamente, e quem tinha apostado em um caminho contrário respondeu em preço, o que fez as ações despencarem", analisa o economista da InvestSmart XP.

Meirelles também diz que existe uma preocupação quanto à responsabilidade fiscal do próximo governo, sobretudo depois que foi aprovada no Senado a PEC do estouro. Ele afirma que a responsabilidade fiscal caminha com a responsabilidade social. "Essa ideia de antítese entre os dois conceitos é equivocada, porque a conta vai chegar, em menor poder de compra e na inflação mais alta. O nome de Mercadante, por exemplo, está atrelado a juros mais altos e inflação, que aparecerão daqui a um tempo, e isso significa inviabilizar a compra de um carro ou dificultar o acesso mais fácil a crédito."

Além dos fatores internos, ele cita ainda a desaceleração da economia chinesa, ligada à política de "Covid zero" implementada no país, e a perspectativa de desaquecimento da economia americana promovida pelo Fed, o banco central dos Estados Unidos, que aumentou em 0,50 ponto percentual a taxa de juros no país.
"Isso faz preço, porque, se o credor 'mais credível' do planeta [os EUA] está pagando mais, é natural que atraia mais investidores ao redor do mundo e os afaste de outras regiões", avalia Meirelles.

Esse cenário pode se refletir em inflação, juros e dólar mais altos no Brasil em 2023, o que afeta diretamente o bolso do cidadão, pois encarece insumos da economia nacional e diminui o poder de compra do real.

"O mercado se adapta às novas regras", alerta o economista. "Os problemas são a mudança e a incerteza. Por isso, o investidor deve manter a racionalidade", aconselha.

Fonte: R7
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