Havia um grau avançado de corrosão no cabo metálico que se rompeu na ponte pênsil localizada entre os municípios de Torres (RS) e Passo de Torres (SC), no litoral, segundo uma análise preliminar do Instituto-Geral de Perícias (IGP) gaúcho. O acidente derrubou dezenas de foliões no Rio Mampituba na madrugada da última segunda-feira (20) de Carnaval – um deles, Brian Grandi, 20 anos, segue desaparecido.
A Polícia Civil catarinense, que investiga o caso em conjunto com a corporação gaúcha, estima que havia 60 pessoas sobre a travessia no momento do rompimento, sendo que a capacidade máxima do local seria de 20, conforme relatado à GZH.
— Embora o número de pessoas fosse superior ao previsto, o estado de degradação do cabo que rompeu faria que essa ponte, mais cedo ou mais tarde, caísse. Poderia ser no mês que vem com um tempo mais forte (temporal) ou com apenas duas ou três pessoas (sobre a ponte). Fatalmente, o acidente iria acontecer em algum momento, caso não houvesse alguma manutenção. E acabou acontecendo nesse dia em que houve sobrecarga. Foi um fator importante, mas esse mesmo desfecho aconteceria mais adiante, caso não houvesse reparos — diz a perita criminal Sheila Wendt, diretora do Departamento de Criminalística do IGP.
De acordo com a diretora, um profissional com habilitação técnica para inspeção já teria condições de ter avaliado visualmente que parte da estrutura da ponte pênsil necessitava de substituição. Isso porque o trecho que rompeu tinha cabos com o diâmetro menor que o original, um indicativo de corrosão, além de fios "descabelados", "corroídos" e "rompidos".
O IGP ainda avalia se fará um exame metalográfico laboratorial nos cabos ou se um resultado conclusivo já pode ser definido a partir dessa análise visual. Com relação ao número de pessoas que atravessava a ponte no momento do acidente, Sheila afirma que o instituto ainda não recebeu os vídeos disponíveis sobre a queda, nem solicitação oficial para analisar as imagens e fazer uma estimativa.Procurada pela reportagem, a prefeitura de Passo de Torres informou que só irá se posicionar quando obtiver acesso ao relatório do IGP. Já o Executivo municipal de Torres não respondeu até a publicação desta reportagem.
Reparos três dias antes do acidente
— Há normas de inspeção para cabos de aço, então eles não podem ter diminuição de diâmetro, nem apresentar rompimento dos fios que os compõem. São situações que foram observadas e mostram que não havia um histórico de manutenção periódica nem a substituição de cabos que não estavam mais com a vida útil adequada. Eles teriam que em algum momento já ter sido substituídos pelo nível avançado de corrosão — diz a perita criminal.
A diretora do Departamento de Criminalística do IGP ressalta que o ambiente marinho provoca um nível de degradação mais acelerado no metal, o que exige cuidado redobrado nas inspeções periódicas. No dia do acidente (20), a prefeitura de Passo de Torres informou à GZH que fazia manutenções nos cabos de sustentação das cabeceiras e troca das pranchas de madeira da ponte "com frequência".
Segundo o Executivo municipal de Passo de Torres, na sexta-feira (17), três dias antes de a ponte virar, foram realizados reparos preventivos na travessia, que sofreu pequenos danos em suas redes após ser atingida pelo mastro de uma embarcação no início de fevereiro. Os cabos não teriam sido prejudicados pelo impacto, informou a prefeitura do município catarinense. À Rádio Gaúcha, o prefeito de Torres também afirmou que vistorias eram realizadas frequentemente na ponte pênsil.