O ministro da Defesa, José Múcio, articula a apresentação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para impedir a volta de militares que tiram licença para disputar as eleições à ativa. Especialistas apontam que o projeto pode garantir imparcialidade das Forças Armadas e evitar a politização no ambiente militar.
A proibição, segundo uma fonte que participa da negociação, também valeria para aqueles que exerçam cargo de ministro de Estado. A proposta ainda está em fase de elaboração e deve ser apresentada em breve pelo titular ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que sinalizou a favor da medida.
Para que a ideia do governo se concretize será necessário o aval do Congresso Nacional. Parlamentares de oposição devem resistir à proposta. Mudanças na Constituição precisam ser aprovadas em dois turnos na Câmara e no Senado com pelo menos três quintos dos votos dos deputados (308) e dos senadores (49), cenário que exigirá esforço de aritculação da base de Lula.
Especialistas
O artigo 142 da Constituição Federal diz que as Forças Armadas (constituídas pela Marinha, Exército e Aeronáutica) são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e disciplina, sob a autoridade suprema do presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e da lei e da ordem.
"Ou seja, os militares devem ser neutros e imparciais em relação às questões políticas do país. No entanto, existe uma lacuna na Constituição Federal em relação à possibilidade de militares disputarem eleições e retornarem à ativa após o fim do mandato", argumenta o professor de Direito Constitucional e mestrando em Gestão e Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) Fabio Tavares Sobreira.
"Os militares que optarem por seguir a carreira política poderão fazê-lo sem prejudicar a imagem das Forças Armadas e sem gerar conflitos de interesse, até porque, os pilares do militarismo são os princípios da hierarquia e da disciplina [caso novas regras sejam aprovadas]", complementa.
Doutorando em Direito Público pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o especialista Rafael Arruda avalia que a PEC pode ser apresentada pelo Executivo, porque o assunto envolve regime jurídico dos militares e critérios de elegibilidade para o exercício de mandato eleitoral.
Eleições
Diversos militares e membros das forças de segurança pública disputaram vários cargos nas eleições de 2022. Confira, abaixo, o número de candidaturas a partir do segmento, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE):
Governador: 5 policiais militares, 2 bombeiros, 2 militares reformados;
Senador: 2 policiais civis, 2 policiais militares, 2 bombeiros, 1 membro das Forças Armadas, 2 militares reformados;
Deputado federal: 55 bombeiros, 68 policiais civis, 304 policiais militares, 33 membros das Forças Armadas, 108 militares reformados;
Deputado estadual: 12 bombeiros civis, 111 policiais civis, 579 policiais militares, 59 bombeiros militares, 23 membros das Forças Armadas, 130 militares reformados