A pesquisa tem como base os dados mais recentes do Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteira (CBP, na sigla em inglês), órgão federal que faz o controle das divisas dos Estados Unidos. No gráfico abaixo, é possível ver que o número de brasileiros detidos na fronteira dos EUA foi crescendo progressivamente ao longo do ano e "explodiu" em maio, mês dos últimos dados disponíveis.
Ao R7, o advogado de imigração Felipe Alexandre, sócio-fundador da AG Immigration, levanta hipóteses que poderiam explicar a "explosão" de flagrantes com brasileiros no mês de maio. Ele acredita que o fato esteja relacionado, principalmente, ao fim do Título 42 e ao aumento de grupos criminosos e traficantes humanos na América Latina.
"Por um lado, havia uma expectativa dos imigrantes, com o fim do Título 42, o que gerou um acúmulo de pessoas na fronteira. Por outro, os grupos criminosos e traficantes humanos têm intensificado suas ações na América Latina, que usaram o fim do Título 42 como argumento para convencer as pessoas a fazerem a travessia ilegal, prometendo facilidades que não existem", afirma.
Ainda de acordo com o levantamento da AG Immigration, o Brasil registrou a sexta maior alta na quantidade de encontros registrados entre abril e maio. Encontro é um termo técnico das autoridades de fronteira que se refere a dois tipos distintos de evento: a detenção, que acontece quando os imigrantes são levados sob custódia para aguardar julgamento; e a expulsão, que se dá quando eles são imediatamente devolvidos a seu país de origem ou último país de trânsito.
Veja a seguir os países com mais cidadãos flagrados na fronteira dos EUA, entre janeiro e maio deste ano:
2. Venezuela: 121.360
4. Guatemala: 71.525
5. Honduras: 70.368
6. Haiti: 68.974
7. Índia: 45.541
8. Cuba: 43.741
10. Ucrânia: 35.650
18. Brasil: 14.513
Título 42
O Título 42 foi uma medida sanitária adotada pelo ex-presidente Donald Trump durante a pandemia que permitia ao governo expulsar imigrantes na região da fronteira sem que eles tivessem a chance de pedir asilo no país. A alegação era que isso ajudaria no controle da Covid-19, impedindo que pessoas eventualmente contaminadas disseminassem a doença em solo americano.
Com o fim da pandemia, o Título 42 foi oficialmente encerrado em 11 de maio e, por isso, muitos imigrantes acreditavam que seria mais fácil entrar nos Estados Unidos. No entanto, não foi o que aconteceu.
Sob o Título 42, os agentes de fronteira ignoravam as etapas demoradas que normalmente são necessárias para processar imigrantes, incluindo o procedimento que admite a um estrangeiro buscar asilo.
Do dia 12 de maio para cá, com o Título 8 novamente em vigor — medida que prevalecia antes da pandemia —, há agora um tempo maior para processar imigrantes, o que possibilita a eles pedir proteção ao país. O estrangeiro pode ou não ficar nos Estados Unidos até o pedido ser processado.
Quando um imigrante chega ao território americano, as autoridades de fronteira realizam entrevistas de elegibilidade, nas quais avaliam se existe risco de que ele seja perseguido ou torturado caso retorne a seu país de origem. Se o risco existir, um processo migratório é iniciado e ele deve se apresentar a um juiz.
O estrangeiro pode tanto ficar nos Estados Unidos como ser enviado ao México, em razão da política conhecida como "Fique no México", para aguardar audiência judicial. Caso considerem que não há perigo, ele é expulso por meio de uma "deportação acelerada". O Título 8 estipula também que aqueles que forem expulsos por tentar entrar no país ilegalmente fiquem proibidos de entrar em território americano por cinco anos.