O impacto acumulado das crises levou 75 milhões de pessoas a uma situação de extrema pobreza (menos de 2,15 dólares por dia, R$ 10,3 na cotação atual) entre 2020 e o fim de 2023 e mais 90 milhões a viver abaixo do limite da pobreza, com 3,65 dólares (R$ 17,5 na cotação atual) por dia, de acordo com projeções do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
"Os países que conseguiram investir em medidas de proteção nos últimos anos evitaram que muitas pessoas caíssem na pobreza", afirmou o diretor do PNUD, Achim Steiner, em um comunicado. "Mas nos países muito endividados há uma correlação entre elevados níveis de dívida, gastos sociais insuficientes e um aumento alarmante dos níveis de pobreza", alertou. O PNUD pede uma "pausa" nos pagamentos das dívidas nestes países, que devem optar entre pagar a dívida ou ajudar a população.
Diante do cenário, o PNUD pede uma "pausa" para destinar o pagamento da dívidas ao financiamento de medidas sociais destinadas a amortecer os efeitos dos choques econômicos. A ONU acredita que "a solução não está fora do alcance do sistema multilateral". De acordo com cálculos do PNUD, retirar estas 165 milhões de pessoas da pobreza custaria 14 bilhões de dólares por ano, o equivalente 0,009% do PIB mundial em 2022, e menos de 4% do serviço da dívida dos países em desenvolvimento.
"Há um custo humano para a inação a respeito da reestruturação da dívida soberana dos países em desenvolvimento", recorda Achim Steiner. "Precisamos de novos mecanismos para antecipar e absorver os impactos e para que a arquitetura financeira funcione para os mais vulneráveis". O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que pede uma reforma das instituições financeiras internacionais, criticou mais uma vez esta semana um sistema "obsoleto que reflete as dinâmicas coloniais da época em que foi criado".