No ano de 2022, apenas 9,134 milhões de trabalhadores eram associados a sindicato, apesar de a população ocupada ter subido a um recorde de 99,6 milhões de pessoas.
O resultado significa que, embora tenha havido uma alta de 4,9% no total de pessoas trabalhando no Brasil em relação a 2019, no pré-pandemia, foi registrado um tombo de 12,7% no contingente de sindicalizados no mesmo período. Em uma década, o total de trabalhadores sindicalizados encolheu 36,6%, enquanto o número de trabalhadores ocupados cresceu 11%.
"Essa Reforma Trabalhista, além da queda do imposto sindical, ela trouxe consigo a flexibilização de contratos dos trabalhadores. Então, quanto mais flexível, dando um caráter maior de vínculos independentes e isolados, isso contribui para uma menor participação coletiva dos trabalhadores", explicou Beringuy.
"São fatores que contribuem para essa perda da sindicalização entre os trabalhadores", apontou. "A gente sabe que com a Reforma, por exemplo, nos últimos anos, você tem intensificação desses contratos unitários, unipessoais, como PJ (pessoa jurídica), trabalhadores intermitentes, o próprio avanço de modalidades como o MEI (microempreendedor individual). Então as pessoas se organizando em torno do trabalho cada vez mais individualmente, e não coletivamente. Quanto maior é essa inserção individual, e não coletiva, isso tudo acaba contribuindo para a perda de adesão ao sindicato", acrescentou.
A sindicalização somava apenas 9,2% dos ocupados em 2022, o menor patamar da série histórica iniciada em 2012, quando 16,1% dos ocupados eram sindicalizados. Todas as Grandes Regiões tiveram redução na taxa de sindicalização na última década. A maior queda em relação a 2012 ocorreu no Sul (9,2 pontos porcentuais). Em 2022, as Regiões Norte (7,7%) e Centro-Oeste (7,6%) apresentaram as proporções mais baixas de trabalhadores sindicalizados, enquanto as mais elevadas foram as das Regiões Sul (13,1%) e Nordeste (10,8%). No Sudeste, 8,3% dos ocupados eram filiados a sindicatos.
A coordenadora do IBGE avalia que o crescimento na adoção de contratos temporários na administração pública, em substituição a outros vínculos formais perenes, explica essa queda na sindicalização entre esses trabalhadores.
Quanto ao recuo na sindicalização no setor privado, Beringuy menciona que houve contribuição também de mudanças estruturais em atividades econômicas, como a migração de serviços financeiros para o ambiente digital, que levou a um enxugamento de trabalhadores e fechamento de estabelecimentos. Outro exemplo seria a perda de funcionários em empresas na área de transporte, diante do avanço de serviços por aplicativos, em que os motoristas não têm vínculo empregatício.
Em relação ao nível de instrução dos trabalhadores, os mais escolarizados mantinham a maior taxa de escolarização: 14,5% deles eram filiados a sindicatos em 2022. Em 2012, entretanto, a proporção de sindicalizados nesse grupo de instrução era de 28,3%.
"Há tendência de queda da sindicalização em todas as faixas de instrução, permanecendo a maior taxa de sindicalização entre os trabalhadores com ensino superior completo, mas é justamente entre eles que a taxa mais cai", disse a coordenadora do IBGE. "O número de trabalhadores com nível superior completo cresceu muito, ao passo que o conjunto de trabalhadores com nível superior completo e sindicalizados caiu."
O IBGE divulgou ainda que mais de um terço dos empregadores e trabalhadores autônomos existentes no País em 2022 estavam formalizados. Entre os 30,2 milhões de empregadores e trabalhadores por conta própria, 10,3 milhões, ou 34,2%, estavam em empreendimentos registrados no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), ante uma fatia de 29,3% registrada em 2019.
Do total de empregadores ou conta própria no trabalho principal, 5,3% (1,6 milhão de pessoas) eram associados à cooperativa de trabalho ou produção. A associação desses trabalhadores a cooperativas era maior na região Sul (9,1%), seguida pelo Norte (5,5%), Nordeste (4,6%), Sudeste (4,5%) e Centro-Oeste (3,8%).
A pesquisa mostrou ainda que o Brasil manteve depois da pandemia o patamar elevado de pessoas trabalhando como motoristas por aplicativo e vendedores ambulantes.
O País tinha 3,892 milhões de pessoas trabalhando em veículos em 2022, 36 mil a menos que em 2019, no pré-pandemia. No entanto, esse contingente cresceu 45,2% em uma década, 1,211 milhão a mais.
O trabalho em casa também cresceu no período. Em 2022, um recorde de 6,916 milhões de pessoas trabalhavam no próprio domicílio, 2,410 milhões a mais que no pré-pandemia. O resultado significa 165% de aumento no trabalho em casa em apenas uma década, 4,311 milhões de pessoas a mais.