A seca prolongada nos rios da Amazônia tem castigado moradores da região e atrapalhado transporte de produtos da Zona Franca de Manaus a outras áreas do país. E essa dificuldade pode impactar os descontos da Black Friday deste ano.
Rodrigo Bandeira, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), explica que existem alternativas de transporte que garantem o abastecimento das lojas para a Black Friday, como o rodoviário. Porém, o custo é mais elevado — e pode ser repassado ao consumidor final.
Bandeira destaca que não há risco de desabastecimento. “Quem está no jogo certamente já tomou as providências para que não faltem produtos”, acrescenta.
“A partir do momento que você tem uma questão como essa, você vai ter um problema que pode impactar outras empresas, como de transporte e logística, inclusive com demissões […] O varejo precisa de pessoas empregadas que consigam consumir para fazer a roda girar”, afirma.
A Zona Franca de Manaus fabrica eletrodomésticos, veículos, motocicletas, TVs, celulares, bicicletas, aparelhos de ar-condicionado, computadores, entre outros produtos considerados “queridinhos” da Black Friday, que acontece no próximo dia 24 de novembro.
“O problema é que o preço do serviço aumentou assustadoramente. Hoje as viagens chegam a custar R$ 800 mil com o uso dessa mão de obra. Esse valor é chamado ‘taxa da seca’, neste caso. Além disso, o tempo de transporte se multiplicou por 5, ou seja, de 5 dias passou para 25”, diz.
Ele garante que não deve haver desabastecimento total de produtos. “Isso vai afetar talvez 30% ou 20% da quantidade que vem da Zona Franca. O problema é que vai haver no Natal, porque a segunda leva de produtos vai ficar realmente comprometida”, afirma.
Os produtos chamados “linha branca”, que incluem, principalmente, geladeiras, fogões e máquinas de lavar roupas, devem ser os que terão menor oferta de descontos.
Claudio Felisoni, presidente do Ibevar e professor da FIA Business School, concorda que a seca deve afetar o fluxo para o varejo, mas também não enxerga a possibilidade de desabastecimento.
O especialista explica que o varejo, de forma geral, vem mantendo negociações com os fabricantes para garantir a disponibilidade dos produtos mais procurados, mas conscientes que a disponibilidade não será plenamente atendida.“Os custos altos de logística e transporte, por mais que os produtos já tenham sido comprados, vão ser agregados de alguma forma. Ou seja, não podemos esperar, pelo menos do material que vem da Zona Franca de Manaus, grandes descontos. Deve haver descontos, mas não devem ser os melhores que já aconteceram até hoje”, conclui.
Black Friday mudou hábito dos brasileiros
“O primeiro fator é que o hábito do brasileiro é mudou com relação à Black Friday, que se tornou não apenas uma liquidação, mas uma antecipação de compras dos produtos que são vendidos no Natal”, afirma.
“É um tipo de teoria do ‘eu mereço’, ou seja, ‘passei o ano inteiro trabalhando, então eu mereço’”, conclui.