A Polícia Civil de Santa Catarina abriu um inquérito para apurar o caso da idosa encontrada viva pelo funcionário de crematório após ser declarada morta pelo hospital. O caso ocorreu no Hospital Regional de São José, na Grande Florianópolis, em 25 de novembro. O Conselho Regional de Medicina também vai apurar a conduta da unidade.
De acordo com a Polícia Civil, um procedimento também está em andamento na Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (DPCAMI). O NSC Total pediu mais detalhes a respeito da investigação, mas não obteve retorno.
MP vai apurar conduta na prestação de serviço de hospital de SC após idosa ser declarada morta
Nesta quarta-feira (29), o Ministério Público de Santa Catarina informou que iria acionar a delegacia para investigar a possível ocorrência de crime contra a vida. A promotoria também solicitou ao Hospital Regional esclarecimentos e detalhes dos procedimentos adotados para atendimento da paciente.A SES também foi acionada para informar sobre as providências que foram ou estão sendo adotadas para apuração dos fatos, identificação dos profissionais responsáveis pelo acompanhamento do caso e a respectiva responsabilização dos eventuais envolvidos. O objetivo da ação é apurar possíveis inadequações na prestação de serviços de saúde, por parte do hospital.
Outra investigação também será conduzida pelo Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM/SC). A entidade informou que tomou conhecimento da situação e vai ” instaurar procedimento adequado para acompanhar o caso”.
Entenda o caso
O caso ganhou repercussão após ser compartilhado nas redes sociais do deputado estadual Sérgio Guimarães (União Brasil). De acordo com Jéssica Martins Silvi Pereira, amiga da família, na sexta-feira (24) a idosa, identificada como Norma Silveira da Silva, deu entrada no hospital após ser encontrada desacordada em casa.Na unidade, ela foi encaminhada à sala de reanimação pela equipe médica, sem acompanhante. Por volta das 22h, um dos médicos conversou com o filho da vítima e relatou que o quadro de saúde era grave e ela não teria muitas horas de vida.
Já no sábado (25), por volta das 23h40, os médicos informaram à família que a idosa havia falecido. Este, inclusive, é o horário que consta no primeiro atestado de óbito ao qual a reportagem teve acesso. A causa da morte foi infecção urinária.
— Nós chegamos lá e o médico explicou que ela tinha vindo a óbito. Eu ainda perguntei quanto fazia, e ele disse que o corpo tinha sido enviado há cerca de trinta minutos para o necrotério. Até estranhei, porque nunca vi ninguém morrer tão rápido e já ir para aquele local — relembra Jéssica.
Após assinar toda a papelada para encaminhar os procedimentos para o velório, a amiga conta que um funcionário responsável pelo crematório onde seria a cerimônia de despedida da idosa, foi até a unidade para recolher o corpo durante a madrugada. Foi nesse momento que ocorreu a surpresa.
— Ela estava dentro daquele saco preto. Quando chegou, ele achou estranho porque o saco estava quente. Pelo horário que ela faleceu, já tinha que ter dado tempo para o corpo esfriar. Nisso, ele pegou o saco e a mão dela caiu, o que também não poderia ter acontecido, já que ele tinha que estar rígido, não poderia estar mole. Aí ele abriu o saco e viu que ela estava respirando bem fraquinho. Como ela não estava consciente, não conseguia pedir ajuda — explica.
Jessica conta que o funcionário ligou para o filho da idosa e relatou o que tinha acontecido. No mesmo momento, Norma foi encaminhada novamente para um quarto, onde permaneceu até a madrugada de segunda-feira (27), quando faleceu. A causa da morte, segundo o atestado de óbito, foi choque séptico.
— Eu acho que isso não deveria ter sido feito com ninguém, com nenhum ser humano. Botar dentro de um saco a pessoa viva e eles não esperaram nenhum prazo para ver se realmente ela morreu. A gente não sabe porque ela ficou nessa situação. Não foi dada nenhuma justificativa. Depois, ainda jogaram ela num quarto. Ela não poderia ter saído da internação depois de tudo isso que aconteceu, teria que ter ficado num lugar com bastante aparelho, ela não estava nem com oxigênio, mesmo depois que ela perdeu aquele ar todo dentro do saco — complementa.
O corpo de Norma foi cremado na segunda-feira. A família, agora, pretende entrar com um processo contra o hospital devido à situação.
— O que eles fizeram foi desumano. Nem eu sei como ela resistiu nesse tempo todo — finaliza.
Em nota, a direção do Hospital Regional informou que a paciente estava em tratamento paliativo na unidade. Um processo de sindicância foi aberto para apurar a responsabilidade do fato, além de ter sido notificado ao Comitê de Ética Médica e à Comissão de óbito.