Na mesma semana de março que marca manifestações em defesa dos direitos das mulheres, quatro feminicídios foram registrados em Santa Catarina em um único dia. Os crimes aconteceram na tarde e na noite de segunda-feira (4). Pelo menos três das quatro mortes foram motivadas por ciúmes.
Em um dos casos, um homem venezuelano de 46 anos é o principal suspeito de matar a companheira e a mãe dela em Joinville. Os corpos das duas mulheres foram encontrados enrolados em cobertores, embaixo de uma cama. Uma barra de ferro foi achada na casa e pode ter sido usada no crime.
De acordo com a Polícia Militar, o homem teria cometido o duplo feminicídio motivado por ciúmes de uma suposta traição da companheira de 43 anos. Após o crime contra ela e a mãe, de 59 anos, ele fugiu, informou a PM.
Na mesma noite, cerca de 2h30min depois, uma mulher de 37 anos foi morta a facadas pelo próprio marido em Blumenau. O crime aconteceu na casa onde eles viviam com os dois filhos pequenos, de 2 e 4 anos.
A Polícia Militar foi acionada por vizinhos que ouviram gritos da vítima, identificada como Eveline Schmitz, e das crianças. Depois, viram o companheiro dela em frente à residência com as mãos sujas com o que parecia ser sangue.
Quando atendeu os policiais, o suspeito estava nervoso, pálido e nu, o que levantou ainda mais suspeitas. Ao abrir a porta, foi possível ver a mulher caída no chão, com ferimentos no pescoço. O homem tentou evitar a prisão, pegou uma das crianças no colo, mas depois acabou se entregando. Ele teria dito, conforme a PM, que a briga começou por conta de ciúmes.
Horas antes, em Gaspar, um homem de 71 anos atacou a -ex-companheira, de 60 anos, e a sogra, de 80, com golpes de facão. A mais velha não resistiu e morreu por conta dos ferimentos. A vítima tinha uma medida protetiva em vigor contra o homem desde janeiro, por ameaça.
Padrão cultural de violência
Conforme a delegada da Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI) Patrícia Maria Zimmermann D’Avila, casos de violência doméstica se apresentam com um padrão cultural, um ciclo que costuma envolver ciúmes, sentimento de posse e, por fim, o término do relacionamento. Para a delegada, para reduzir os feminicídios é necessário combater este ciclo cultural.– Trabalhar na redução de casos é trabalhar na questão cultural. Precisamos virar a chave com companhas [de concientização], para que não se tolere mais os atos de violência contra a mulher e, não digo somente física, mas psicológica, moral, patrimonial – reforça a delegada.
Delegada orienta mulheres a denunciarem
A especialista indica que as denúncias têm poupado a vida de muitas mulheres. Além dos boletins de ocorrência, que podem ser realizados presencialmente ou até mesmo online, pela Delegacia Virtual, a mulher também pode solicitar de forma remota a medida protetiva.— É eficaz porque o cidadão que descumpre já pode ser preso. Mas a mulher precisa notificar — orienta.
Outro método indicado pela delegada é o botão do pânico presente no aplicativo “PMSC Cidadão”. Conforme Patrícia, quando acionado, a ocorrência recebe atendimento de urgência. “Isso tem salvo muitas vidas”, cita.
De acordo com a delegada, até esta quarta-feira (6), Santa Catarina já havia registrado 13.192 boletins de ocorrências referentes a violência doméstica e 12 feminicídios.
Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina (SSP), nos últimos quatro anos, o Estado vem registrando números semelhantes a cada ano no que diz respeito ao feminicídio. As ocorrências de morte contra mulheres no âmbito doméstico foram de 57 em 2020, 55 em 2021, 57 em 2022 e, novamente, 55 em 2023.