Santa Catarina registrou 27 mortes por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) durante o mês de agosto deste ano, segundo informações da Secretaria de Estado da Saúde (SES). Na mesma época, o Estado começou a sentir a presença das fumaças dos incêndios que ocorrem no Centro-Norte do Brasil, Bolívia e Paraguai, e que podem provocar problemas de saúde devido a baixa umidade relativa do ar.
A SRAG abrange casos de gripe que evoluem com comprometimento da função respiratória que, na maioria dos casos, leva à hospitalização, sem outra causa específica, explica a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE/SC). As causas podem ser vírus respiratórios, como o da Influenza do tipo A e B, Vírus Sincicial Respiratório, SARS-COV-2, bactérias, fungos e outros agentes.
Além do número de mortes, a SES registrou 9.19 notificações de hospitalizações por SRAG em agosto. No total, entre janeiro e agosto de 2024, 456 pessoas morreram em decorrência da doença em Santa Catarina. Além disso, outras 9.530 pessoas foram hospitalizadas. Não se sabe, entretanto, se os números estão diretamente associados com o surgimento das fumaças em decorrência das queimadas.
Sabrina Sabino, médica infectologista, explica que a presença das fumaças em Santa Catarina podem provocar ou agravar doenças cardiorrespiratórias, além de causar o ressecamento dos olhos e nariz.
— O ressecamento da mucosa propicia também o aumento significativo de doenças infecciosas, porque são as nossas mucosas que nos protegem. Com isso, o vírus acaba fazendo uma propagação muito mais rápida e vamos ter um aumento de doenças pulmonares, respiratórias e virais, como a influenza — diz.
As principais medidas de proteção da saúde envolvem hidratação e promover a umidificação do ar. O Ministério da Saúde recomenda o uso de máscaras dos tipos N95, PFF2 ou P100 para quem mora nas regiões mais afetadas pelos incêndios. No entanto, a recomendação prioritária é permanecer em locais fechados e protegidos da fumaça.
— As pessoas que são asmáticas, que têm problemas respiratórios, já devem ter um umidificador em casa. Mas se conseguir deixar pelo menos um balde, uma bacia de água no ambiente, isso já ajuda. A água evapora e, consequentemente, aumenta um pouquinho a umidade do ar — explica a médica.
Recomendações à população
Dentre as recomendações à população feitas pelo Governo do Estado, durante o período em que a fumaça está presente na atmosfera, está:- Hidratação constante: beba água regularmente, mesmo sem sentir sede;
- Ambientes internos: utilize umidificadores de ar ou recipientes com água para melhorar a umidade dentro de casa;- Evitar atividades ao ar livre: especialmente em horários de maior concentração de poluentes;
- Buscar atendimento médico: se os sintomas respiratórios ou irritações persistirem, é aconselhável procurar assistência médica.De acordo com o Ministério da Saúde, crianças menores de 5 anos, idosos e gestantes devem ter atenção redobrada, sendo preciso estar atento aos sintomas respiratórios ou outras complicações de saúde. Para adultos e idosos, há um aumento do risco de eventos cardiovasculares e respiratórios combinados.
Pessoas com problemas cardíacos, respiratórios ou imunológicos devem:
- Buscar atendimento médico imediatamente na ocorrência de sintomas;- Manter medicamentos e itens prescritos sempre disponíveis para o caso de crises agudas;
- Avaliar a possibilidade e segurança de se afastar temporariamente da área impactada.Situação das fumaças em Santa Catarina
A presença das fumaças das queimadas da Amazônia foi registrada em Santa Catarina no dia 16 de agosto pela Defesa Civil e marcou o tempo nas últimas semanas no Estado. Por isso, órgãos estaduais emitiram na última quarta-feira (11) uma nota conjunta alertando para os riscos à saúde pública, que acontecem por conta da baixa umidade relativa do ar e da poluição atmosférica.
Entre os órgãos estão a Secretaria de Estado da Proteção e Defesa Civil (SDC), o Instituto do Meio Ambiente (IMA), a Secretaria de Estado da Saúde (SES) e a Secretaria do Meio Ambiente e Economia Verde (Semae).
A Defesa Civil de Santa Catarina informou, em nota, que o transporte da fumaça vem sendo acompanhado em tempo real.“Estamos monitorando constantemente as condições e o avanço da fumaça pelo estado. A situação requer atenção redobrada, principalmente nas regiões mais afetadas pela baixa umidade e pela poluição. A orientação é que a população siga as recomendações de proteção, especialmente as pessoas que fazem parte de grupos de risco”, disse o gerente do monitoramento e alerta, Frederico Rudorff, no documento.
Conforme o IMA, a fumaça trazida pelas queimadas intensificou a poluição atmosférica do Estado. Estações de monitoramento do ar, localizadas nos municípios de Tubarão e Capivari de Baixo, registraram concentrações de partículas inaláveis (MP10) entre 80 e 130 μg/m³, valores que configuram um Índice de Qualidade do Ar entre moderado e ruim.
“Além da fumaça das queimadas alguns outros fatores também podem colaborar com o atual cenário como: a direção do vento que transporta os poluentes, a hora do dia que também pode influenciar na qualidade do ar e as condições atmosféricas como tempo seco que favorece a permanência do poluente em suspensão ou chuvoso que possibilita a limpeza do ar removendo partículas de poeira, poluentes e outras impurezas”, esclarece o diretor de Controle e Passivos Ambientais do IMA, Diego Hemkemeier Silva, na nota.