A publicação de uma recomendação médica da principal autoridade de saúde dos Estados Unidos, Vivek Murthy, reacendeu o debate sobre a relação entre câncer e álcool. O documento descreve as evidências que ligam o consumo de bebidas alcoólicas ao risco de pelo menos sete tipos diferentes de câncer, incluindo de mama, colorretal, esôfago, caixa vocal, fígado, boca e garganta. O chefe do Serviço de Cancerologia Clínica da Santa Casa de Porto Alegre, Dr. Rafael Vargas, explica como o álcool se transforma em uma substância tóxica para o organismo humano:
Existem pelo menos duas vias pelas quais o consumo de álcool pode aumentar os riscos de desenvolvimento do câncer. A mais conhecida, segundo Vargas, é relacionada à toxicidade do acetaldeído, substância conhecida como etanal que é gerada pelo organismo humano no processo de quebra do etanol (álcool), enquanto o corpo tenta eliminar essa substância.
“Quando bebemos álcool, ele é metabolizado e transformado em outras substâncias. Existe uma enzima chamada ADH (desidrogenase alcoólica), que converte o álcool em acetaldeído. Em seguida, outra enzima, chamada ALDH (aldeído desidrogenase), transforma o acetaldeído em acetato, que será eliminado do organismo. O acetaldeído, que é um intermediário nesse processo, pode causar danos ao DNA e provocar mutações. Essa é uma das principais causas do câncer, que é uma doença genética que resulta dessas mutações”.
Outras hipóteses
Há ainda a relação hormonal do álcool. Segundo Vargas, o álcool também pode afetar o sistema hormonal, contribuindo para o câncer de mama. Este tipo de câncer é um dos mais comuns entre as mulheres, sendo ainda indeterminada a relação entre a substância e este tipo específico de doença cancerígena.
O álcool ainda pode solubilizar os componentes do tabaco. “Para quem fuma e bebe, o risco de desenvolver câncer de cabeça e pescoço é cerca de 100 vezes maior. O álcool facilita a entrada de substâncias químicas do cigarro nas células”. Segundo Vargas, as evidências de que o cigarro contém substâncias cancerígenas é mais forte e antiga na literatura. Por isso, o fato de o álcool potencializar a entrada destas substâncias nas células é amplificador dos riscos.