Divulgação/Canva
Inédito no Brasil, o projeto “Grupos Reflexivos para adolescentes nas escolas” deve alcançar milhares de estudantes catarinenses em 2025. É o que planeja a Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica (Cevid), do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Prevenção é a palavra que norteia a iniciativa.
Os grupos são espaços de reflexão crítica e diálogo aberto, nos quais se discutem temas como estereótipos, masculinidades, violências, relações de poder, discriminações de gênero e étnico-raciais. Além do TJ, estão engajados na iniciativa a Secretaria Estadual de Educação e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O projeto-piloto, dividido em sete encontros, foi desenvolvido na Escola Básica Jacó Anderle, em Florianópolis, no segundo semestre do ano passado. O engajamento dos adolescentes surpreendeu os professores.
Para prender a atenção dos adolescentes e estimular de forma atrativa as discussões e reflexões, os idealizadores usaram diversas dinâmicas e um jogo especial de cartas, elaborado pela UFSC. “Eu achava que seria chato, mas as conversas, o teatro, os jogos e as brincadeiras tornaram tudo muito legal”, disse uma das alunas.
Um dos estudantes afirmou que a experiência o fez repensar muitas coisas, inclusive a forma como sempre agiu em determinadas situações. De acordo com a professora Luana Aparecida de Noronha, “as atividades ocorreram de forma fluida e natural, com discussões profundas sobre todos os temas, sem deixar passar nada, instigando sempre os alunos a desenvolverem mais suas ideias”.
A Cevid trabalha em diversas frentes no combate à violência contra as mulheres e, uma delas, é a prevenção. “Não basta punir os crimes, é necessário evitar que eles aconteçam”, diz a desembargadora Hildemar Meneguzzi de Carvalho, responsável pela Cevid. Segundo a magistrada, “conscientizar os mais novos sobre a importância de se viver em ambientes onde prevaleça sempre o respeito, o diálogo e a convivência harmoniosa é um caminho eficaz para prevenir conflitos e viver melhorar em sociedade”.
Ponto de Partida
O projeto “Grupos Reflexivos nas Escolas” foi inspirado nos Grupos Reflexivos, direcionados exclusivamente aos autores de violência contra as mulheres. Em um espaço de diálogo coordenado por profissionais capacitados, os homens têm a oportunidade de repensar as relações de gênero e suas vivências cotidianas.
Pesquisas mostram que, enquanto o índice geral de reincidência dos homens autuados no âmbito da Lei Maria da Penha alcança 50%, ele despenca para 10% entre aqueles que passam pelos Grupos Reflexivos.
Em parceria com a UFSC, a Cevid mantém o Projeto Ágora, que fomenta a criação, consolidação e execução dos grupos nas comarcas de Santa Catarina. Deu tão certo que rendeu a produção e a publicação de uma trilogia sobre essas experiências, o mais completo mapeamento a respeito do assunto no Brasil.