SEGURANÇA - 03/11/2025 20:25

Seis pessoas são indiciadas por fraude em sistema de doações em faturas da Celesc em SC

Lucro arrecadado pelo golpe era dividido entre todos os envolvidos no esquema criminoso
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Prejuízo da fraude foi calculado em R$ 10 milhões (Foto: Celesc, Divulgação)

A investigação que apura o desvio milionário de doações feitas por meio da fatura da Celesc, em Santa Catarina, foi finalizada com o indiciamento de seis pessoas. O grupo irá responder por cinco crimes, incluindo associação criminosa. Três homens chegaram a ser presos no dia em que a Operação Falso Samaritano foi deflagrada, em 5 de setembro deste ano. O prejuízo causado pela fraude chega a R$ 10 milhões.

Indiciamento

Todos os indiciados atuavam em conjunto para aplicar golpes e desviar verbas de doações enviadas a entidades de Santa Catarina. Inicialmente, apenas três homens foram identificados e presos temporariamente. De acordo com o delegado regional Rafaello Ross, pela dimensão da fraude, a Polícia Civil já esperava que mais pessoas fossem identificadas no decorrer da investigação.

Do grupo, dois eram sócios proprietários da Slaviero Benefits, empresa “especializada” em arrecadar doações. Os outros quatro atuavam como suporte operacional da associação. Eles faziam, diariamente, ligações para arrecadar doações.

As autoridades acreditam que os envolvidos iniciaram o esquema trabalhando de “forma correta”, para ganhar credibilidade no mercado. Mas, conforme as provas obtidas pela investigação, nos últimos três anos eles já alteravam os arquivos digitais para encobrir o golpe.

— Eles encaminhavam planilhas mensais das doações para a Celesc para que ela autorizasse os descontos dos doadores na fatura de energia elétrica. Ali eles conseguiam alterar o arquivo digital e fazer com que esse desconto mensal fosse para uma associação sem fins lucrativos, que foi identificada como um grupo escoteiro aqui em Joinville [usado como laranja]. Então, eles conseguiam fazer os desvios dos valores nesse momento, porque colocavam informações que não consistiam com a realidade — explica o delegado à reportagem do NSC Total e ao repórter da NSC TV, Walter Quevedo.

O delegado ainda explica que, mesmo a associação utilizando o grupo de escoteiros para desviar as doações, houve apenas um pequeno repasse de cerca de R$ 800 para ele. O grupo, que efetivamente existe, atua em “condições muito precárias”, segundo Ross. Um dos envolvidos no esquema se identificava como presidente do grupo de escoteiros, mas, procurada pela investigação, a real presidente relatou que nunca houve grande repasse de verba a eles.

Com a finalização da investigação, as seis pessoas foram indiciadas pelos crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro, estelionato por meio eletrônico (majorado), falsidade ideológica e fraude processual.

De acordo com o delegado, todos os indiciados foram interrogados durante o inquérito policial, mas as versões não se sustentaram.

— Diante do farto elemento probatório reunido nessa fase da investigação, respaldada pelo afastamento de dígitos telemáticos [meios de comunicação], bancários e fiscais, foi possível identificar a participação, razão pela qual a Polícia Civil fez o formal indiciamento desses seis investigados — afirma.

O delegado ainda reforçou que as entidades impactadas, assim como a própria Celesc, não tinham conhecimento sobre a fraude.

Entidades e consumidores afetados

Com o aprimoramento da fraude, o grupo expandiu a atuação e conseguiu fraudar doações de instituições de Joinville, Blumenau, Brusque, Indaial, Chapecó e Xanxerê. De acordo com a Polícia Civil, a Slaviero Benefits foi contratada por, pelo menos, 15 entidades em todo o Estado.

Durante a finalização do inquérito policial, as autoridades ainda descobriram que o Hospital Regional Alto Vale, localizado em Rio do Sul, também foi uma das vítimas do esquema.

— Quando foi feita a comparação do que foi arrecadado e destinado pela Celesc, e o que efetivamente chegou nos hospitais, você via aquela margem de diferença, que realmente não condizia com o que estava sendo arrecadado pela suposta doação — afirma o delegado Ross.

De junho de 2022 a junho de 2025 foram 14.600 consumidores afetados no Estado. O prejuízo foi calculado em R$ 10 milhões. Segundo o delegado, o lucro era dividido de maneira proporcional entre todos os envolvidos:

— Seja através de empresas de fachada, empresas fictícias que foram criadas para movimentar todo esse esquema criminoso, ou seja através de movimentações financeiras em contas correntes, pessoais ou de interpostas pessoas, de laranjas que acabavam movimentando todo esse esquema financeiro, pulverizando o dinheiro ilicitamente arrecadado — relata.

Relembre fraude por meio das faturas da Celesc

De acordo com Ross, o esquema criminoso era comandado diretamente de Joinville, cidade do Norte catarinense. A terceirizada era contratada para gerenciar o sistema de donativos que utilizava a fatura de energia elétrica da Celesc.

A investigação constatou que a empresa terceirizada não manteve todos os arquivos dos aceites das ligações telefônicas dos doadores. Ou seja, não há a comprovação de que todas as pessoas realmente aceitaram doar por meio de descontos na fatura de energia elétrica.

Durante a ação realizada no início de setembro, a Polícia Civil encontrou produtos de luxo usados para lavar o dinheiro. Segundo o delegado regional, o grupo utilizava diversas frentes para disfarçar a origem dos bens e dar uma imagem de licitude ao patrimônio.

— Uma das formas que nós identificamos foi uma coleção de whiskies importados, estimada em torno de R$ 40 mil, que foi apreendida pela Polícia Civil, encaminhada à Polícia Científica para análise e perícia. Possivelmente os whiskies foram utilizados como um modo de garantir o valor da lavagem de dinheiro e preservar aquele patrimônio inicialmente desviado dessas entidades — relata Ross.

O que dizem os afetados pela fraude

Em nota, o Hospital Bethesda afirmou que identificou irregularidades em repasses realizados em seu nome, cerca de seis meses atrás, e reuniu informações e provas para repassar às autoridades. Desde então, a unidade confirma que tem colaborado com as investigações.

O Hospital Azambuja, de Brusque, e o Hospital Misericórdia Vila Itoupava, de Blumenau, afirmam que também estão contribuindo com as investigações e ainda lamentaram o ocorrido.

Foram cumpridos dezesseis mandados de busca e apreensão e três de prisão, além de onze medidas de bloqueio de imóveis, veículos e contas bancárias. Uma lancha e quatro automóveis de luxo foram apreendidos durante as diligências.
Procurada pela reportagem do NSC Total, o Hospital Regional Alto Vale não retornou até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto.

Também por meio de nota, a Celesc afirmou que não participa da gestão nem da destinação dos recursos arrecadados. Além disso, destacou que atua apenas como meio de arrecadação em doações via fatura de energia, repassando integralmente os valores autorizados pelos consumidores às entidades conveniadas, como bombeiros voluntários, APAEs e outras instituições que prestam serviços essenciais à sociedade.

“No caso investigado pela Polícia Civil, foram identificadas empresas que, de má-fé, ligavam para consumidores solicitando doações, mas não repassavam integralmente os valores às instituições. Importante ressaltar que, antes mesmo da operação policial, a companhia já havia adotado medidas preventivas, como reforço na fiscalização dos convênios, implementação de novos controles e envio de aviso ao consumidor sempre que há inclusão de débitos de doação nas faturas”, informou a companhia.

Fonte: NSC
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