Ao final de cinco meses de uma campanha marcada por disputa acirrada e tensão crescente, o PSDB encerrou o dia, neste domingo (21), sem saber quem venceu as prévias do partido para definir o candidato à Presidência da República. Desde cedo, o aplicativo de votação apresentou falhas técnicas, impedindo a participação de filiados e provocando revolta. O problema — que chegou a ser classificado, nos bastidores, como "fiasco" por líderes indignados — levou ao adiamento da decisão, sem data definida.
Os erros no sistema — desenvolvido pela Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs) e voltado a filiados sem mandato e vereadores — começaram pouco depois das 8h e se estenderam até o final da tarde. Correligionários relataram dificuldades em diferentes etapas de validação, em especial na fase de reconhecimento facial. Muitos tentaram dezenas de vezes, e a estimativa é de que menos de 10% dos 44,7 mil inscritos conseguiram.
— Quem votou às 7h, 7h30min, conseguiu. Eu comecei a tentar às 8h e nada. O aplicativo pedia para inserir o título de eleitor, depois a foto. Aí era preciso validar o processo com um código enviado por SMS. Depois disso, dava para votar. Eu até consegui, mas ainda tinha de confirmar o voto, com mais um código de SMS e nova foto do rosto. Aí travava tudo e voltava para o início. Perdi as contas de quantas vezes tentei. É um absurdo. Sei de muita gente, aqui no Estado, que desistiu — conta a assessora parlamentar Ana Teixeira, 48 anos, filiada ao diretório do PSDB de Porto Alegre.
De Brasília, onde o partido organizou evento para receber os votos presenciais de prefeitos, vice-prefeitos, governadores e vices, deputados, senadores e ex-presidentes do PSDB, o presidente da agremiação na capital gaúcha, vereador Moisés Barboza, classificou a situação como "uma injustiça". Ele chegou a protocolar um documento junto à direção nacional registrando repúdio ao "inaceitável número de filiados, diretorianos, delegados e presidentes de zonais que não conseguem efetivar seus votos em nossas prévias". Barboza defendeu que o pleito fosse prorrogado, caso as falhas persistissem:
Em Porto Alegre, o vereador Ramiro Rosário também enfrentou obstáculos para confirmar seu voto. Conseguiu, mas passou o dia ajudando colegas na tarefa, a maioria sem êxito. Segundo ele, o aplicativo apresentou lentidão em todas as fases.
A indefinição e os boatos em torno do desfecho do imbróglio levaram a novas trocas de farpas entre militantes ligados a Leite e Doria, com insinuações mútuas de irregularidades. Inicialmente, o encerramento do processo de escolha, previsto para as 15h, foi adiado para as 18h no app. Depois, Leite pediu uma reunião à executiva nacional para tratar do assunto, da qual participaram Virgílio e Doria — só em São Paulo, a estimativa era de que 62% dos credenciados não teriam obtido acesso ao sistema.
Conforme a nota, os votos registrados serão preservados "e o PSDB está definindo, junto com os candidatos, em que momento o processo será retomado". A intenção é definir nova data "para que todos os filiados que não puderam votar neste domingo possam, com tranquilidade e segurança, registrar o seu voto e concluir a escolha do nosso candidato".
Também por meio de nota, a Faurgs esclareceu que "está investigando todas as possíveis causas da instabilidade verificada no aplicativo das prévias do PSDB" e que, "ao contrário do que foi especulado, os problemas não têm qualquer relação com a compra de licenças para suportar o reconhecimento facial dos filiados. Tanto é que o mesmo número de certificados permitiu o cadastramento bem-sucedido dos mais de 44 mil eleitores".
Às 20h, haverá nova reunião entre a executiva nacional e os candidatos. Até as 19h, nenhum deles falou sobre a nota divulgada por Araújo. Conforme a assessoria de comunicação de Leite, o governador "quer que a votação seja retomada o quanto antes, desde que com segurança e que as pessoas consigam votar".
Leia a nota na íntegra da executiva nacional do PSDB