EM PORTO ALEGRE - 05/12/2021 06:40

Júri da Kiss: julgamento segue no domingo com depoimento de sócio da boate e mais um sobrevivente

Trabalhos entram no 5º dia. A partir das 10h, deverão ser ouvidos Tiago Mutti, testemunha da defesa de Mauro Hoffmann, e Delvani Brondani Rosso, convocado a pedido de um assistente de acusação.
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Foro Central de Porto Alegre com cartazes e faixas de familiares em homenagem a vítimas da boate Kiss — Foto: Juliano Verardi / IMPRENSA TJRS

O julgamento da boate Kiss segue de forma ininterrupta neste domingo (5), no Foro Central, em Porto Alegre. A partir das 10h, deverão ser ouvidos Tiago Mutti, uma testemunha de defesa do réu Mauro Hoffmann, sócio da casa noturna, e o sobrevivente Delvani Brondani Rosso, convocado a pedido de um assistente de acusação.

Um intervalo está previsto para as 12h30 e, depois, mais um à tarde. Se necessário, o juiz Orlando Faccini Neto pode estender os trabalhos até a noite e convocar nos depoentes.

Até agora, já foram ouvidos oito sobreviventes, de um total de 12. Também testemunharam quatro pessoas, e uma quinta testemunha respondeu aos questionamentos como informante, já que magistrado o desclassificou após uma postagem da filha nas redes sociais.

Ao todo, 16 pessoas serão ouvidas na condição de testemunhas, além dos quatro réus.

Como foram os depoimentos no sábado

Cristiane dos Santos Clavé estava na festa e conseguiu sair da boate logo após o início do fogo. Ela avisou o irmão, que foi buscá-la e ainda ajudou a quebrar as paredes de madeira para ajudar a tirar a fumaça tóxica do ambiente.

"Quando meu irmão chegou, eu disse pra ele que aquilo era um filme de terror. Meu irmão foi tirar as madeiras que revestiram a parede. Ele veio até a mim dizendo que ia entrar. Eu disse pra ele não entrar", relatou em plenário.

Ela se emocionou bastante ao descrever como escapou e confirmou, também, ao Ministério Público, que não houve aviso no sistema de som de incêndio nem pedido de evacuação. "Muita gente morreu sem saber o que estava acontecendo", diz.

Maike Adriel dos Santos também sobreviveu à tragédia. Ele havia ido à festa com um grupo de amigas, que faleceram.

"Respirar aquela fumaça, parecia que estava respirando fogo", disse Maike, que é formado em desenho industrial, ao relatar sobre o incêndio.

Ao juiz Orlando Faccini Neto, Maike afirmou que o tratamento psicológico que teve foi "conhecer os pais das amigas".

"Ainda pesa muito, ainda tenho alguns resquícios de traumas. Agora um pouco menos, mas pouco depois da tragédia era mais forte. Crise de pânico, ansiedade na aula. Medo de aglomeração. Medo de estar com muita gente em volta", lamentou.

Alexandre Marques foi arrolado como testemunha pela defesa de Elissandro Spohr, o Kiko, um dos réus no processo. Ele conta que fazia o material gráfico e publicitário de Kiko e também "vendia" bandas para ele. Alexandre também era produtor da banda Multiplay, que fez um show na Kiss.

Segundo o empresário, não era costume debater com os donos dos locais sobre o uso de pirotecnia.

"Não era de costume informar as casas [sobre o uso de fogos]. Era algo que trazia um glamour pela banda. Sempre que eu chegava em qualquer local de show, eu inspecionava o ambiente, o que tinha sobre o palco. Se eu não achava seguro colocar, eu não colocava. Antes da questão do público eu também tinha que pensar na banda, então eu não colocava", diz.

Alexandre destaca que no dia que a banda dele, a Multiplay, tocaria na Kiss, ele foi ao local instalar um banner e os sputniks, mas que Kiko não autorizou o uso. Ele destaca que a primeira vez, quando foi tocar na Kiss, a ideia era fazer uma "abertura top, com glamour".

"Se tu está com a casa muito lotada, tu não ganha no bar, porque a pessoa não consegue chegar lá. Se está muito cheia, muito quente, tu não consegue chegar no bar, tu acaba ficando claustrofóbico".

Quem são os réus?
Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, 38 anos, era um dos sócios da boate
Mauro Lodeiro Hoffmann, 56 anos, era outro sócio da Boate Kiss
Marcelo de Jesus dos Santos, 41 anos, músico da banda Gurizada Fandangueira
Luciano Augusto Bonilha Leão, 44 anos, era produtor musical e auxiliar de palco da banda

Entenda o caso

Os quatro réus são julgados por 242 homicídios consumados e 636 tentativas (artigo 21 do Código Penal). Na denúncia, o Ministério Público havia incluído duas qualificadoras — por motivo torpe e com emprego de fogo —, que aumentariam a pena. Porém, a Justiça retirou essas qualificadoras e converteu para homicídios simples.

Para o MP-RS, Kiko e Mauro são responsáveis pelos crimes e assumiram o risco de matar por terem usado "em paredes e no teto da boate espuma altamente inflamável e sem indicação técnica de uso, contratando o show descrito, que sabiam incluir exibições com fogos de artifício, mantendo a casa noturna superlotada, sem condições de evacuação e segurança contra fatos dessa natureza, bem como equipe de funcionários sem treinamento obrigatório, além de prévia e genericamente ordenarem aos seguranças que impedissem a saída de pessoas do recinto sem pagamento das despesas de consumo na boate".

Já Marcelo e Luciano foram apontados como responsáveis porque "adquiriram e acionaram fogos de artifício (...), que sabiam se destinar a uso em ambientes externos, e direcionaram este último, aceso, para o teto da boate, que distava poucos centímetros do artefato, dando início à queima do revestimento inflamável e saindo do local sem alertar o público sobre o fogo e a necessidade de evacuação, mesmo podendo fazê-lo, já que tinham acesso fácil ao sistema de som da boate".

Fonte: G1
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