A baixa adesão à terceira dose da vacina contra Covid-19 já é um problema em Santa Catarina. Com cerca de quatro mil doses da Astrazeneca prestes a vencer em março deste ano, o Estado está em último lugar no ranking de vacinação que considera a região Sul, com apenas 30,86% da população maior de 18 anos com ciclo vacinal fechado.
No primeiro lugar de adesão à terceira dose, está o Rio Grande do Sul, com cerca de 3.616.829 doses de reforço aplicadas, o que equivale à 41% da população adulta. No Paraná, o número é de 3.212.102 aplicações, o que representa cerca de 33%. No Brasil, a média de pessoas adultas que tomaram a terceira dose é de 29,2%, segundo o Ministério da Saúde.
O que acontece em SC?
Se em 2021 os catarinenses lotaram postos de saúde e locais transformados em pontos de vacinação para receber as primeiras e segundas doses da vacina, alcançando números na casa dos 89% e 81% de adesão, respectivamente, o cenário não se repetiu para a aplicação da terceira dose.
Para entender o efeito em massa que atingiu os catarinenses na hora de não completar o ciclo vacinal, a reportagem do ND+ conversou com a psicóloga clínica Vanessa Cardoso, que apontou alguns fatores responsáveis pelo comportamento de 70% da população de Santa Catarina, que não fechou o ciclo vacinal.
Questionada se as pessoas ‘perderam o medo’ da Covid-19, a ponto de não buscarem completar o ciclo vacinal, a psicóloga explicou que se trata de um afrouxamento natural do medo.
“No início de 2020, as pessoas tinham um grau de incerteza muito grande sobre o vírus e a transmissão, não sabiam ‘aonde aquilo ia dar’. Com o passar do tempo, o comportamento de afrouxamento fica natural, sobretudo quando começam a aparecer algumas certezas, até por experiências próprias com a doença”.
“É possível que o curso de incerteza da doença tenha diminuído, não o medo do vírus, mas o grau de incerteza. A incerteza é uma das coisas mais temidas pelo ser humano. A todo momento na nossa vida, há uma busca incessante por certezas”, explica.
Com relação às influências de fake news e afrouxamento das medidas de prevenção no Estado, a profissional explica como isso pode guiar as escolhas da população.
“Há um comportamento muito dúbio em relação a essa polarização política que se tornou, trazendo polaridades. ‘Se eu tenho um lado político, eu tenho que seguir toda essa cartilha’. Esse desconhecimento do que, de fato, a vacina faz, é um dos mais responsáveis por esse movimento de não-vacinação. Há muito do contorno político que afeta esse comportamento”.
“Esse movimento novo, que se tinha lá no início de 2020, com relação ao vírus, temos de novo, com a vacina. Embora sejam coisas completamente diferentes, a questão humana, de estar completamente diante do novo, seja algo positivo, como a vacina, afeta completamente o comportamento diário”, finaliza.
Cenário brasileiro
Em termos nacionais, pouco mais de 100 milhões de brasileiros ainda devem receber a terceira dose no país, entre atrasados e pessoas próximas de completar o prazo entre segunda e terceira dose. Dentro deste grupo, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 10 milhões de pessoas já perderam o prazo para receber o reforço.
No Brasil, até o momento, só 45,1 milhões de pessoas receberam a terceira dose, mesmo já estando aberta para toda a população maior de 18 anos que já tenham completado o prazo indicado entre doses. O estado do Amapá, no Norte do país, tem a menor cobertura vacinal relacionada à terceira dose, com apenas 6,90%. Os dados são do ministério da Saúde.
Ranking de Estados com maior taxa de vacinação em 3ª dose no Brasil
São Paulo – 42,9%
Rio Grande do Sul – 41%
Mato Grosso do Sul – 34,7%
Paraíba – 33,6%
Paraná – 33%
Minas Gerais – 31,4%
Santa Catarina – 30,8%.
