A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o primeiro medicamento injetável de uso semanal para sobrepeso e obesidade. A decisão foi publicada nesta segunda-feira (2) no Diário Oficial da União (DOU). A injeção, chamada Wegovy (semaglutida 2,4mg), é produzida pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk e tem o mesmo princípio ativo do Ozempic, medicamento autorizado no Brasil para uso contra diabetes tipo 2, mas também utilizado para tratar obesidade.
Segundo a fabricante, o Wegovy promoveu redução média de 17% do peso corporal nos pacientes. Além disso, durante ensaio clínico, um em cada três pacientes perdeu 20% de seu peso corporal durante o tratamento com Wegovy. Os voluntários que usaram de placebo nos estudos perderam apenas 2,4% de peso corporal.A aprovação foi baseada em resultados do programa que teve a participação de mais de 4,5 mil pessoas no mundo. O tratamento já é aprovado em países como Estados Unidos e Canadá, e consiste em um hormônio que sinaliza ao cérebro a sensação de saciedade.
Segundo a Anvisa, ainda não há uma data definida de quando a medicação chegará às farmácias brasileiras nem de quanto custará. Nos EUA, a semaglutida foi aprovada pela agência reguladora americana (FDA) em 2021, e tem preço tabelado de US$ 1.349 (cerca de R$ 7,2 mil na cotação atual).
Conforme a Anvisa, a bula estará disponível no Bulário Eletrônico da Anvisa em breve. O medicamento poderá ser comercializado apenas sob prescrição médica.Para isso, no entanto, ele precisa ter o preço definido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Outros fatores, como a logística de distribuição do fabricante e dos revendedores, podem influenciar no prazo para que o Wegovy chegue ao mercado. A medicação também ainda não foi submetida para avaliação na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), para eventual oferta pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O medicamento é indicado como auxiliar em uma dieta hipocalórica e exercício físico para controle, perda e manutenção de peso, em adultos com Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou acima de 30 kg/m² (obesidade). Pacientes com IMC maior ou igual 27 kg/m² e menor que 30 kg/m² (sobrepeso) também poderão utilizar o medicamento quando tiverem pelo menos uma comorbidade relacionada à condição, como pré-diabetes ou diabetes tipo 2, hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono ou doença cardiovascular.
Eduardo Camargo, endocrinologista e professor de Medicina da Universidade Feevale, diz que a semaglutida é um princípio ativo seguro e que tem se mostrado eficiente na redução de peso corporal quando indicado para os pacientes com diabetes. Ele tem notado perda média de 4 kg por mês conforme a adesão à dieta e a atividades física por parte do indivíduo.— Tínhamos estudos mostrando que ela era efetiva para emagrecer. Quando tratamos o paciente com diabetes, se via um emagrecimento significativo, mesmo não sendo indicado na bula para isso. Eu estava ansioso para disponibilizar a medicação para as pessoas, porque é uma ferramenta excelente para o tratamento da obesidade. Ela vem para ser um divisor de águas — comenta.
O endocrinologista explica que a semaglutida é capaz de simular o GLP-1, um hormônio produzido no sistema digestivo e que atua no estômago e em áreas do cérebro e provoca sensação de saciedade na pessoa.— Ela é uma cópia do hormônio que o nosso intestino produz quando vamos nos alimentar, que nos dá saciedade, que faz com que o esvaziamento do estômago seja mais lento. Então, comemos menos, mais devagar. É como se o paciente fizesse uma cirurgia de redução de estômago — compara.
Fernando Gerchman, endocrinologista do Hospital Moinhos de Vento e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também utiliza a cirurgia bariátrica para explicar o impacto que o novo medicamento pode causar no tratamento da obesidade. Segundo ele, em um cenário de atingir os resultados dos testes clínicos — que mostram redução média de 17% do peso — o Wegovy poderá ser uma ferramenta útil no combate a diferentes doenças.
— Esses são números que causam reversão do diabetes, melhora da pressão arterial, principal causa de mortalidade de adultos no mundo, no colesterol. Isso melhora a qualidade de vida dos pacientes — comenta.O especialista diz que efeitos adversos gastrointestinais poderão ser notados no tratamento de alguns pacientes: enjoo, náusea, vômito, constipação e diarreia estão entre eles, mas que tendem a desaparecer com o uso contínuo. Ele explica que o medicamento não é recomendado para pessoas que tiveram pancreatite e carcinoma medular de tireóide.
— Ter algo que possa ajudar o paciente a perder peso de maneira considerável é motivante. Estamos em uma fase em que teremos, nos próximos anos, de cinco a 10 medicamentos, que, dependendo da disponibilidade e acessibilidade, poderão fazer com que a obesidade seja uma doença reversível e administrável —finaliza.