O número de registros de médicos com título em alguma especialidade cresceu 84% nos últimos 10 anos no Brasil. O dado veio da pesquisa “Demografia Médica no Brasil 2023“, produzida em parceria entre a Associação Médica Brasileira e a Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
Em 2022 o Brasil possuía 321.581 médicos com ou mais títulos de especialistas, o que representa 62,5% dos profissionais em atividade no país. Os demais 37,5% eram médicos generalistas, ou seja, sem titulação em nenhuma especialidade.
As mulheres passarão a ser maioria na profissão já a partir do próximo ano. Com a expansão da abertura de cursos e vagas de medicina, em 2035 haverá no país mais de um milhão de médicos no país.O número total de registros de médicos titulados no país chega a 495.716, o que representa 84% a mais em relação aos 268,2 mil registros existentes em 2012.
Quem vive a realidadeA neurocirugiã Danielle de Lara, foi a primeira neurocirurgiã formada em Santa Catarina. Atualmente trabalhando no Hospital Santa Isabel, em Blumenau, faz um alerta para as médicas: “pode ser que você seja a única mulher num ambiente apenas de homens”.
“Isso traz desafios, no entanto, eu acredito que o respeito nas relações, nesse as profissionais, faz com que isso seja cada vez menos relevante se você é homem e mulher”, declara.Segundo a profissional, mulheres também têm um papel importante em permitir com que estes espaços estejam abertos para qualquer pessoa independente de cor ou crença, por exemplo.
A neurocirurgiã é também professora universitária e conta que o cenário dentro dos cursos de medicina também têm mudado.“Há 10, 20 anos atrás eu não via tantas alunas mulheres como agora. Acredito que isso se deve a uma soma de fatores que vai desde equidade de gênero e informações para que as famílias apoiam essas mulheres”, conta.
Para ela, apesar das mudanças é preciso um “equilibrar de bandejas” muito maior para as mulheres.“Equilibrar a vida privada, familiar, filhos, gestação e o trabalho é possível. Precisamos que os maridos e pais participem mais das atividades familiares libertando mulheres para que elas consigam estudar e se destacar tanto quanto um homem”, finaliza.
Medicina, um reflexo da sociedade
Já para a médica infectologista e diretora do Hospital Nereu Ramos, em Florianópolis, Renata Zomer, há muito tempo as mulheres estão lutando pelo reconhecimento, respeito e igualdade e na medicina não é diferente.“Saímos de casa para estudar, nos capacitamos, fizemos especializações, abrimos mão de estar ao lado da família, de acompanhar mais de perto o crescimento dos filhos em prol da medicina. Fazemos isso por aquilo que acreditamos, em prol da ciência e conseguimos conquistar o nosso espaço com muita competência e dedicação”, declara.
Cansaço mentalA fala da profissional traz um alerta, a renúncia das mulheres. O relatório da Deloitte Women at Work 2022: A Global Outlook Report. A pesquisa entrevistou 5 mil mulheres em dez países e descobriu que o burnout (esgotamento mental a ponto de virar doença relacionada ao trabalho, por exemplo) atinge níveis alarmantes em mulheres.
Das entrevistas, 53% disseram que seus níveis de estresse são maiores do que há um ano, e quase metade se sente esgotada. Além disso, quase metade de todas os participantes classificam sua saúde mental como ruim ou muito ruim. Destas, 30% tiraram folga do trabalho devido a problemas de saúde mental.
Conquista de espaçoA infectologista declara que as médicas mulheres conquistaram seus espaços porque trabalham com “competência, porque estão atualizadas, porque se especializam, porque têm atitude assim como qualquer outro profissional”.
“As mulheres conquistaram e seguem conquistando seus espaços por competência e dedicação. Claro que teve muita luta das gerações passadas de médicas mulheres para que a minha geração e as gerações posteriores tenham espaço e respeito na profissão”, finaliza.
Outros dados da pesquisaA pesquisa da USP também descobriu que as especialidades com maior número de registros de especialistas são Clínica Médica, com 56.979 médicos, Pediatria (48.654), Cirurgia Geral (41.547), Ginecologia e Obstetrícia (37.327), Anestesiologia (29.358), Ortopedia e Traumatologia (20.972), Medicina do Trabalho (20.804) e Cardiologia (20.324). Juntas, essas oito especialidades representam mais da metade (55,6%) do total de registro de especialistas.
Um segundo grupo, de cinco especialidades – Oftalmologia, Radiologia e Diagnóstico por Imagem, Psiquiatria, Dermatologia e Medicina de Família e Comunidade, soma 14,4% do total de especialistas. Assim, 13 das 55 especialidades médicas existentes no Brasil reúnem 70% dos registros de especialistas.
No entanto, os homens são maioria em 36 das 55 especialidades médicas e as mulheres predominam em 19 delas.Nos últimos 13 anos, de 2010 a 2023, mais de 250 mil novos médicos (251.362) entraram no mercado de trabalho no Brasil, resultado direto da abertura de cursos e de vagas de graduação em medicina.
Em janeiro de 2023 o país contava com 562.229 médicos inscritos nos 27 Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), o que corresponde a uma taxa nacional de 2,6 médicos por 1.000 habitantes. Na mesma data, o total de registros médicos chegava a 618.593.