Com a desaceleração da inflação nos últimos meses, a caderneta de poupança registrou o primeiro semestre do ano com o maior ganho real em seis anos. Segundo levantamento da Economatica, empresa de investimentos, a poupança teve variação positiva em todos os seis primeiros meses do ano, o que não ocorria desde 2027.
O acumulado da inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) nos últimos seis meses é de 2,95% contra o rendimento de 4,20% da caderneta de poupança, se acordo com o levantamento. Com isso, quem investiu nessa modalidade conseguiu uma rentabilidade real no período.
Entre outubro de 2020 e julho de 2022, a poupança teve uma sequência de resultado negativo aos poupadores, ao mesmo tempo em que o país registrava alta dos índices de preços, provocada pela retomada das atividades após a pandemia de Covid-19.
O cenário começou a mudar em agosto de 2022, quando a modalidade iniciou nova série de alta acima da inflação, uma boa notícia para os investidores da aplicação financeira mais tradicional do país.
Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de estudos e pesquisas da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), explica que o longo período em que a poupança vinha perdendo rendimento frente a todos os outros investimentos tinha a ver com a taxa básica de juros, a Selic, que até março de 2021 estava em 2% ao ano.
Com isso, a poupança rende 0,5% mais a variação da TR. Depois, com a alta da Selic, quando a taxa fica acima de 8,5% ao ano, a poupança passa a render acima do 0,5% ao mês, definido por lei. Atualmente, a taxa Selic está há dez meses consecutivos a 13,75% ao ano, mas o Banco Central já sinalizou redução para o segundo semestre.
"Nesse caso específico, a poupança vai continuar se destacando. Apesar de ela perder para a maioria dos fundos de investimentos, é uma boa alternativa, porque é uma aplicação fácil, e a maioria dos brasileiros conhece", diz o diretor-executivo da Anefac.
Atualmente, a poupança ganha de muitas aplicações de risco maior, por exemplo, e está tendo rendimento real acima da inflação, porque o IPCA vem caindo e a Selic se mantém elevada, o que permite que a modalidade também mantenha rendimento em alta.
"De modo geral, a poupança se destaca, mas ela perde rentabiliade frenta aos fundos de renda fixa, mesmo os fundos pagando Imposto de Renda e taxa administrativa. Mas a Selic a 13,75% ao ano faz com que os fundos tenham ganho superior à poupança. À medida que há uma tendência do Banco Central em reduzir a Selic, claro que esse processo gradativo, não vai cair de uma hora para outra, cada vez que a taxa de juros cair, a poupança passa a ter uma rentabilidade maior frente aos fundos", explica Oliveira.
Nesse momento a poupança é um bom investimento, ganha da inflação, mas perde para os fundos de renda fixa. Mas, na medida em que a Selic for reduzida pelo Banco Central, começa a aproximar o ganho da poupança com os ganhos dos fundos de investimentos.
Nos últimos meses, a retirada líquida da poupança tem registrado recorde. Segundo Oliveira, isso ocorre, em parte, porque as pessoas estão trocando a modalidade por fundos de renda fixa que têm rendimento maior.
"Mas também o momento econômico atual, com as famílias muito endividadas e desemprego ainda elevado, faz com que as pessoas tenham que resgatar recursos acumulados na poupança para fazer frente aos seus compromissos. Por outro lado, na medida que a situação fica difícil no bolso das famílias, elas acabam não tendo recurso para poupar, para depositar mensalmente como vinham fazendo."
A poupança é um dos investimentos mais usados no Brasil. De acordo com relatório sobre o perfil do investidor brasileiro, realizado pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) em parceria com o Datafolha, 23% dos investidores aplicam seus recursos na poupança, mesmo diante de opções de investimento mais rentáveis.