Fazia tempo que a população de Santa Catarina e do Brasil não respondia às questões sobre hábitos e perfil de moradia do Censo. O intervalo habitual de 10 anos desta vez precisou ser ampliado. Primeiro, pela pandemia de Covid-19, que impediu as visitas às residências — e também modificou a relação dos brasileiros com seus domicílios. Em 2021, novo adiamento, desta vez por outro obstáculo, o corte de recursos destinado ao IBGE, responsável pelo levantamento.
A última fotografia do perfil de moradia nas cidades de SC havia sido feita em 2010. Nesses 12 anos, o país assistiu a mudanças na dinâmica econômica, ao avanço da tecnologia, dos smartphones ao home office, dos veículos elétricos à inteligência artificial, novas relações de trabalho, ondas de manifestações, crises políticas, pandemia e mudanças no perfil das famílias. Transformações que modificaram também os locais e a ligação dos habitantes com as cidades.
Os dados iniciais do Censo 2022 divulgados nesta quarta-feira (28) ajudam a entender como se deu essa mudança no perfil de habitação de municípios catarinenses. Dona da segunda maior taxa de crescimento da população do país, Santa Catarina se destacou com um ritmo de crescimento de moradores maior do que o nacional, que foi considerado mais lento do que o esperado pelo IBGE.
Os dados trazem também algumas curiosidades sobre o perfil das cidades catarinenses. Confira abaixo:
1) Município mais novo do país
Considerado o município mais novo do Brasil, Pescaria Brava, no Sul de SC, apareceu pela primeira vez nos dados do Censo. A cidade teve a emancipação confirmada em 2013 e, portanto, não fez parte do levantamento em 2010 na condição de município — era ainda um distrito de Laguna. Os números divulgados nesta quarta apontam a existência de 10.224 habitantes. Balneário Rincão, que também foi instalada oficialmente em 2013, também “estreou” no Censo nesta edição. A cidade teve 15.880 moradores contabilizados.
2) Cidades que “perderam” moradores
Em média, três a cada quatro cidades de SC tiveram aumento na população entre o Censo 2010 e o de 2022. Mesmo assim, 70 municípios catarinenses “perderam” moradores nos últimos 12 anos. Curiosamente, o que mais teve diminuição de habitantes foi Laguna. O motivo é justamente a emancipação de Pescaria Brava, que deixou de ser distrito local em 2013. Foram 8 mil habitantes a menos nos números de Laguna. A polêmica faz com que a cidade cogite até uma ida à Justiça para assegurar que o município não seja prejudicado pela mudança na contagem populacional.
Em números absolutos, a segunda cidade que mais “perdeu” moradores foi Fraiburgo, com 1 mil residentes a menos. Proporcionalmente, foi Coronel Martins (-16%).
3) SC com segundo maior aumento do país
O crescimento populacional de Santa Catarina foi o segundo maior entre os Estados, com 21,8%. Apenas Roraima teve alta maior, com 41%. O comportamento coincide com a mudança no perfil de habitação registrado nacionalmente no Censo, em que houve migração de pessoas das metrópoles para cidades de médio porte — característica do território catarinense.
Florianópolis foi ainda a cidade que mais ganhou novos habitantes nos últimos anos e a sétima capital com o maior crescimento, sendo a maior da região Sul. A capital soma 537 mil habitantes. Apesar disso, segue sendo a segunda mais populosa do Estado. Joinville continua sendo a maior cidade catarinense, com 616 mil moradores.
4) Regiões de SC que mais cresceram
Os números do Censo 2023 também indicam que a Grande Florianópolis e o Vale do Itajaí foram as regiões de SC que mais cresceram em número de habitantes, com alta de em média 24,4% e 23%, respectivamente. Norte e Sul aparecem em seguida, com percentual médio de 19% e 18%. Apenas a Serra registrou diminuição no número de moradores — média de -12,6%. A divisão considera as macrorregiões do IBGE.
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5) Terceira maior concentração urbana
Outra novidade de SC no Censo 2022 está nas chamadas concentrações urbanas — agrupamentos de dois ou mais municípios com população integrada. A concentração formada pelas cidades de Itajaí e Balneário Camboriú teve a terceira maior taxa de crescimento anual, com 3,20% Somente Sinop (MT) e Parauapebas (PA) tiveram percentuais maiores de aumento populacional. Outras cidades de SC, como Chapecó, Florianópolis e Brusque, também aparecem entre as 10 concentrações urbanas que mais cresceram.
6) Domicílios vagos e de uso ocasional
Santa Catarina também apresentou o menor percentual, entre todos os estados, de domicílios particulares vagos (8,8%). Em contrapartida, o Estado teve o maior índice dos chamados domicílios de uso ocasional, com 10,3%. Segundo o relatório do IBGE, historicamente é comum que os maiores percentuais de domicílios de uso ocasional estejam no litoral e em regiões com forte atividade econômica ligada ao turismo.
7) Cidades com aumento de mais de 100 mil pessoas
Duas cidades de Santa Catarina tiveram aumento de mais de 100 mil moradores nos últimos 12 anos. A capital Florianópolis, com 115 mil residentes a mais, e Joinville, ainda a maior cidade do Estado, com 101 novos munícipes, tiveram esse incremento populacional desde 2012. O número de novos moradores é maior do que o de 283 dos 295 municípios catarinenses. É equivalente também à população total de cidades como Camboriú.
8) Cidades com menos de 2 mil moradores
No outro extremo, Santa Catarina aparece com 11 cidades com menos de 2 mil habitantes. A menor delas é Santiago do Sul, no Oeste, com apenas 1.651 moradores. Em todo o país, há ainda três cidades com menos de 1 mil habitantes: Serra da Saudade (MG), com 833 habitantes, Borá (SP), com 907 moradores, e Anhanguera (GO), com 924.
9) Mais de 79 milhões de questionários
No total, o Censo 2022 teve 79,1 milhões de questionários respondidos em todo o país. Desse número, 160 milhões tinham 26 quesitos questionados aos moradores, o restante possuía 77 quesitos. O IBGE informa que 98,88% das entrevistas foram feitas de forma presencial. O restante ocorreu pela internet ou por telefone.
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10) Mais de 6 mil recenseadores e novos temas
O Censo 2022 foi iniciado em agosto do ano passado e teve por volta de 6,7 mil recenseadores visitando um total de 3,4 milhões de domicílios no Estado. Entre os assuntos presentes no questionário apresentado aos moradores, o Censo 2022 trouxe novos temas como a existência de pessoas com autismo nos domicílios, e também a contagem da população em comunidades quilombolas.