Com o objetivo de aprimorar o diagnóstico de hipertensão, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) lançou nesta sexta-feira (12) as Diretrizes Brasileiras de Medidas da Pressão Arterial Dentro e Fora do Consultório. O documento foi elaborado por 67 especialistas e busca orientar profissionais de saúde e pacientes sobre a forma adequada de realizar a aferição atualmente. A divulgação das recomendações ocorreu durante o 1º Encontro de Departamentos da Cardiologia, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo.
A principal mudança trazida pelas novas diretrizes está na orientação de que o diagnóstico definitivo da hipertensão arterial e posterior tratamento não devem considerar apenas os resultados obtidos nas medidas realizadas nos consultórios médicos. Audes Feitosa, coordenador do documento e membro do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia, ressalta que é preciso dar ênfase ao controle da pressão em todos os ambientes para evitar possíveis equívocos:
— A pressão do consultório é realmente frágil. Tanto que podemos ter alguns erros na avaliação. Por exemplo, quando o paciente está ansioso ou mais preocupado com a consulta, isso faz a pressão elevar. E nessa situação em que a pressão se eleva por estresse ou ansiedade, a pressão fica alta no consultório, mas está normal em casa.
De acordo com Feitosa, a pressão arterial pode ser aferida em casa, no trabalho e até durante o sono com a ajuda de equipamentos automáticos. Entre as principais metodologias para se monitorar a pressão fora do consultório médico, estão a monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA), a monitorização residencial da pressão arterial (MRPA) e a automedida da pressão arterial (AMPA).
Na avaliação da SBC, a utilização dessas outras técnicas e equipamentos ajudam na elaboração de um diagnóstico mais complexo e assertivo. Isso porque são capazes de detectar variações comuns como hipertensão do avental branco (HAB), hipertensão mascarada (HM), alterações da pressão arterial no sono e hipertensão arterial resistente (HAR) — condições que normalmente não são detectadas em acompanhamentos restritos aos consultórios.
— O acesso a esses equipamentos e profissionais capacitados nos serviços de saúde se faz necessário e merece um olhar atento na formulação de políticas de saúde. Essas novas diretrizes oferecem um embasamento técnico e científico altamente qualificado para orientar gestores, médicos e demais profissionais da saúde — destaca o coordenador.
Medidas dentro e fora dos consultórios
— Na MAPA, na medição anterior, era alta a partir de 130 por 80 e, na MRPA, era 135 por 85. Mas os trabalhos mostraram que o valor mais adequado para avaliar a hipertensão é 130 por 80 nos dois métodos. Então, agora, tanto na Mapa quanto na MRPA a partir de 13 por 8 já é hipertensão em casa — explica.
A aferição da pressão é um procedimento obrigatório em qualquer atendimento médico ou realizado por outros profissionais de saúde, conforme a SBC. Feitosa comenta que as novas diretrizes enfatizam a importância de realizar medidas em farmácias e outros locais públicos:
— Não vamos dar diagnóstico de hipertensão nas farmácias, mas isso serve como triagem para o paciente ser encaminhado a um serviço de saúde e confirmar se é hipertenso ou não. A hipertensão é praticamente assintomática, então ou você mede a pressão ou você não tem o diagnóstico. Então, a oportunidade de medir na farmácia, por exemplo, é fundamental.
O documento da SBC traz outro aspecto relevante, que está relacionado à necessidade de olhar para a jornada dos pacientes a partir de suas características, como gênero, faixa etária, classe social e condições de saúde diversas.
Conforme o Ministério da Saúde, a pressão arterial diz respeito à força que o sangue faz sobre as artérias para conseguir circular pelo organismo e se divide em dois tipos: sistólica e diastólica. A sistólica é aquela exercida sobre os vasos sanguíneos no momento de contração dos músculos do coração; a diastólica é exercida no momento de relaxamento do coração.
Doença atinge quase um quarto dos brasileiros
Um dos maiores fatores de risco para doença arterial coronária, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência renal, a hipertensão atinge quase um quarto (23,93%) da população brasileira, conforme o relatório Estatística Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia de 2023. Os dados apontam que a prevalência é maior entre as mulheres (26,45%) do que entre os homens (21,06%).