O motorista responsável por dirigir o caminhão envolvido em trágico acidente que vitimou nove pessoas na BR-376, nesse domingo (20), prestou depoimento à Polícia Civil na tarde desta terça-feira (22). O homem, de 30 anos, alegou problema mecânico, que o impediu de reduzir as marchas ou utilizar o freio motor do veículo.
O delegado da Polícia Civil do Paraná, Edgar Santana, contou que o caminhão saiu de Santos, em São Paulo, no sábado (19). A carga de peças automotivas tinha como destino a Argentina.
O veículo, no entanto, teria apresentado problemas no mesmo dia. “Ele [o motorista] teria parado na rodovia, um guincho da concessionária o levou até um posto de combustível na cidade de Campina Grande do Sul. E no domingo o veículo teria sido consertado por um mecânico”, relatou o delegado.
No depoimento, o motorista ainda contou que trafegou por cerca de um quilômetro até o caminhão apresentar problemas novamente. Outro veículo da concessionária responsável pela rodovia o acompanhou até uma base operacional próxima a um pedágio. “O mesmo mecânico teria sanado o problema novamente. A partir daí, ele seguiu viagem e nas proximidades da serra o problema voltou a ocorrer novamente”, contou o delegado.
Sistema de freios não funcionou
De acordo com a defesa do caminhoneiro Nicollas Otilio de Lima Pinto, quando ele chegou no início da descida da serra, tentou fazer o procedimento padrão para o trajeto, reduzindo as marchas e utilizando o freio motor. O sistema, porém, não funcionou.“Ele tafregava pela direita quando viu que a via da esquerda começou a ser desocupada porque a van ultrapassava o caminhão. Ele levou o seu veículo para a esquerda, fazendo memória de que próximo daquele local havia uma área de escape. Só que não deu tempo para isso”, relatou o advogado Richard Noguera.
Ainda conforme o delegado responsável pelo caso, a perda do controle do veículo ocasionou em um excesso de velocidade e, na sequência, um impacto na traseira da van.A Polícia Civil tenta identificar o mecânico para intimá-lo a prestar depoimento.”Precisamos também aguardar o laudo do exame pericial no veículo para constatar efetivamente se houve ou não uma falha mecânica”, disse o delegado.
A investigação ainda solicitou que a concessionária envie as imagens da região no momento do acidente. Conforme o delegado, as câmeras serão enviadas ao Instituto de Criminalística para que seja formalizado a dinâmica do sinistro e estabelecido a velocidade que o veículo se encontrava.
Proprietário do veículo prestou depoimentoO dono do caminhão alegou que essa era a primeira viagem que Nicolas realizaria para ele. O contrato foi firmado informalmente, de forma oral, e o motorista ganharia 13% do valor do frete.
“Alegou ainda que todo o problema mecânico que estava ocorrendo no decorrer desses dias era reportado a ele, que tomava as devidas providências no sentido de procurar e encontrar um mecânico para efetuar o conserto do veículo”, relatou o delegado.Motorista chorou em depoimento
Nicollas Otilio de Lima Pinto foi ouvido pela Polícia Civil, de forma virtual, acompanhado do seu advogado. O motorista é natural de Pelotas, no Rio Grande do Sul, a mesma cidade da equipe de remo vítima do acidente.“Isso é uma das causas que fragiliza muito ele. Além da tragédia, ele acabou se envolvendo num episódio terrível com conterrâneos”, contou o advogado Richard Noguera.
O delegado Edgar Santana relembrou que “durante seu interrogatório, em alguns trechos, ele [Nicolas] chorou e demonstrou uma total tristeza em relação ao fato que ocorreu.”O caminhoneiro, que havia elevado o nível da sua CNH (Carteira Nacional de Habilitação) para a categoria E em março deste ano, afirmou que trabalhava para outra empresa de transporte antes de oferecer seu serviço para o proprietário do caminhão envolvido no acidente.
De acordo com a defesa, o motorista “dirigia de forma prudente e compatível com a velocidade da via, não havia ingerido bebidas alcoólicas, nem quaisquer substâncias entorpecentes.”
Investigação sobre acidente na BR-376 continuaO delegado da Polícia Civil do Paraná, Edgar Santana, afirmou que a investigação ainda está na fase inicial. A polícia segue apurando o caso pelo enquadramento legal de homicídio culposo na direção de veículo automotor. “No entanto nada impede que até o final do procedimento haja uma mudança do enquadramento legal”, afirmou o delegado, que ainda relatou que uma série de oitivas serão realizadas nos próximos dias para confirmar ou não a versão do caminhoneiro.