Uma bola de ferro fundido e chumbo com quatro quilos. Aos olhos de quem está ao redor, pode parecer algo pequeno, sem tamanha importância. Mas Leandro Cybulski a segura firme com uma das mãos, se concentra, respira fundo. Segundos de dualidade onde se carrega o peso de um mundo de responsabilidades e sonhos, bem como a leveza de fazer o que ama. Com garra e força, Leandro arremessa o peso o mais longe possível, não para se livrar, e sim para alcançar novas conquistas. O arremesso de peso é uma das modalidades mais consolidadas na carreira do paratleta que compete na classe F35 (para paralisados cerebrais). Sua melhor marca em competições é 13m75, mas já chegou a alcançar 14m20 nos treinos. Ele é o número 1 do Brasil, o 2º no ranking das Américas e o 7º melhor no mundo.
Já com o dardo na mão, explora conquistas que vão cada vez mais longe. Com precisão e técnica, faz o dardo cortar o céu por algumas dezenas de metros até cravar no chão, onde cada centímetro conta. Assim, em dezembro de 2024, o dardo lançado por Leandro viajou por 45m99, quebrando o recorde das Américas, que até então era de 36m22, e se mantinha intacto desde 2005. O resultado também o coloca em 1º lugar no ranking mundial, porém, o lançamento de dardo não é uma prova aberta no Mundial.

O esporte faz parte da história de Leandro, e Leandro também faz parte da história do esporte. A criança que morou na Linha Coroa da Serra, no interior de Tigrinhos, precisou passar por alguns procedimentos cirúrgicos na infância por conta da paralisia cerebral. Nada disso o impediu de carregar o gosto pelo esporte, onde sempre contou com o incentivo da família. “O esporte nasceu comigo”, define Leandro. A paixão pelo futebol sempre foi uma constante, contudo ele não conhecia o atletismo quando criança.
Foram anos de dedicação junto aos treinos, conciliando uma rotina de trabalho e atenção à família. De 2015 pra cá, foi campeão brasileiro em sete oportunidades e quebrou vários recordes. Em abril deste ano, subiu em seu primeiro pódio internacional, onde faturou o ouro no Open com o arremesso de peso. A sequência de títulos não ofusca sua simplicidade de encarar a vida. Também existiram perdas e derrotas nesta jornada, as quais buscou extrair aprendizados. O esporte traz muitas responsabilidades, mas também agrega qualidade de vida, saúde, crescimento pessoal e amadurecimento. Se emociona ao refletir sobre as mudanças provocadas em sua vida, muitas das quais nem imaginava ter acesso, mas reforça que o seu caráter nunca mudou e carrega a humildade de batalhar e ser exemplo.

Hoje, com 36 anos, treina no Paradesporto do Município de Maravilha e compete pela ASSESP junto do professor Douglas. Divide a rotina de treinos e competições com o emprego em uma instituição financeira cooperativa, com a graduação em educação física, e com o exemplo que quer passar para o filho, que também é apaixonado pelo esporte.
Sobre um momento marcante em sua carreira, relembra quando recebeu uma ligação de Douglas para ir com urgência ao local de treinamento. Ao chegar, se deparou com a surpresa de dezenas de sorrisos alegres de alunos da APAE. Os abraços repletos de admiração o motivam até hoje: “cada um tem um pedaço do meu coração”.
Vestir a amarelinha? Claro que representar a Seleção é um dos seus maiores objetivos. Segue trabalhado muito para isso. Tem se dedicado diariamente para atingir o índice que pode levá-lo ao Mundial da Índia ainda este ano. Para 2026, mira o Parapan e, por que não, as Paralimpíadas de 2028.