
28 de junho é reconhecido internacionalmente como o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+. A data celebra a diversidade e a inclusão, ao mesmo tempo em que chama atenção para a luta contra o preconceito. Uma das raízes históricas deste dia rememora o ano de 1969, quando uma mobilização foi desencadeada após frequentadores LGBTs de um bar serem agredidos em Nova Iorque, nos Estados Unidos. A repercussão foi tamanha que os protestos seguiram por dias. Esta mobilização é um exemplo entre diversas lutas, seja as que a antecederam e as que ainda viriam, onde a comunidade LGBTQIAPN+ se mobiliza para romper com o cenário de violência. Com a expressividade da pauta, junho também ficou conhecido como o mês do orgulho.
Mas por que evidenciar o orgulho? Dados revelam que o Brasil é um país muito hostil e violento para estes grupos. Com base em casos registrados no sistema de saúde, as estatísticas do Atlas da Violência revelam que, de 2022 para 2023, os casos de violência contra homossexuais e bissexuais aumentaram 35%, enquanto os casos de violência contra pessoas transsexuais e travestis aumentaram em 43%. Diante desta situação, que não fala apenas sobre números, mas sobre vidas, é motivo de orgulho compartilhar vivências LGBTs e ainda lutar pelo enfrentamento à violência.

Justamente neste cenário, o acolhimento da família torna-se uma rede de proteção fundamental. O psicólogo Eduardo Diego Perotti enfatiza esta relação: “como é importante estar seguro e ter pra quem voltar quando o mundo lá fora machucar”. Enquanto homem cisgênero e gay, Eduardo compartilha sua vivência pessoal no seio familiar:
O fardo do medo em relação ao isolamento e a rejeição é tão pesado que, quando uma pessoa LGBT afirma sua orientação sexual para o núcleo familiar e descobre que não irá precisar abdicar do amor da família, sente o alívio de tirar um peso gigantesco das costas. Neste processo também é comum os familiares expressarem o medo e a insegurança por conta do cenário violento fora do lar.
Mas quando a pessoa LGBT não recebe o suporte da família, a condição de desamparo e de rompimento das relações familiares pode levar a implicações devastadoras. Durante o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o arquiteto Douglas Comparin investigou uma realidade muito dura, quando pessoas LGBTs são expulsas ou rejeitadas do convívio familiar.

“Os dados revelam que jovens da comunidade tem chances muito maiores de sofrer abandono, o que os expõe a ciclos de exclusão social, violência e sofrimento psíquico profundo, como depressão, ansiedade e risco de suicídio”, explica.
A pesquisa aponta que o abandono familiar não é uma questão individual, mas um reflexo de estruturas sociais que ainda não acolhem a diversidade. “Por isso, torna-se urgente a formulação de políticas públicas que garantam acolhimento”, reforça Douglas Comparin. O psicólogo Eduardo Perotti aponta que o processo de afirmação de uma pessoa LGBT é complexo, que não se trata de uma escolha nem de uma doença, mas sim de possuir a liberdade de ser quem se é sem as amarras do medo, do preconceito e da intolerância. Núcleos familiares que não se sentem encorajados a lidar com este processo podem buscar se desconstruir e se abrir ao diálogo, trocando o julgamento pelo acolhimento. Coletivos espalhados pelo país buscam contribuir com troca de experiências e informações, como a Associação Mães Pela Diversidade, que atua no acolhimento de mães e pais.
Em junho de 2019 o STF decidiu que as condutas homofóbicas e transfóbicas se enquadram na tipificação da Lei do Racismo enquanto o Congresso Nacional não edita uma legislação específica sobre o tema.

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