
O anúncio do “tarifaço” dos Estados Unidos contra produtos brasileiros gerou reações de entidades e do setor econômico de Santa Catarina. O Estado tem o mercado norte-americano como o maior comprador dos produtos exportados, com 1,7 bilhão de dólares em vendas registrados ao longo de 2024. O país responde por mais de 14% das vendas catarinenses ao exterior. Setores como o de produtos de madeira e motores elétricos são alguns dos mais expostos aos impactos com a tarifa de 50%, anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump para a partir de agosto.
A medida do governo Trump gerou uma onda de manifestações nesta quinta-feira no Estado. O governo de SC divulgou nota admitindo possíveis impactos à economia estadual e sugerindo que “é hora de agir com diplomacia e assertividade”. . O Estado reconhece que SC tem papel estratégico na relação comercial com os EUA. “Qualquer barreira imposta aos nossos produtos afeta diretamente empresas, empregos e a competitividade da nossa economia”.
O governador Jorginho Mello não se manifestou pessoalmente sobre o caso até o momento
O país norte-americano mantém superávit comercial com o Brasil há mais de 15 anos. Somente na última década, o saldo positivo norte-americano foi de 91,6 bilhões de dólares.
O presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Mario Cezar de Aguiar, afirmou em nota que a tarifa “vai prejudicar severamente embarques para os Estados Unidos”. Ele defendeu a necessidade de manter canais de negociação pela diplomacia brasileira para evitar que a tarifa de 50% prejudique as exportações e os investimentos no país.
O dirigente afirma que o “tarifaço” vai prejudicar a competitividade dos produtos catarinenses, já que outros países concorrentes devem ter taxas menores. Ele também afirma que a medida não se justifica do ponto de vista econômico, já que os Estados Unidos têm superávit na balança comercial com o Brasil há décadas, e nem em relação a políticas domésticas, uma vez que o Brasil é um país soberano e deve ter suas decisões respeitadas.
Os impactos do “tarifaço”
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que o aumento da tarifa possa impactar a competitividade de cerca de 10 mil empresas brasileiras que exportam para os EUA. O presidente Associação Intersindical Patronal de Itajaí, Gustavo Bernardi, afirmou que a medida pode afetar até 10 mil empregos no Estado.
A Federação do Comércio de Santa Catarina (Fecomércio-SC) também divulgou nota sobre a tarifa de 50% anunciada para produtos brasileiros. Para a entidade, a medida representa uma séria ameaça à pauta exportadora de SC e compromete diretamente a competitividade dos nossos produtos. “As consequências de uma medida dessa magnitude incluem a redução da atividade econômica, a perda de empregos e impactos sociais que podem se estender por toda a cadeia produtiva catarinense”, aponta.
Em razão disso, a Fecomércio cobra na nota “maturidade institucional” para atuação na esfera diplomática com negociação com os Estados Unidos e “evitar prejuízos que, neste momento, ainda são incalculáveis para Santa Catarina e para o Brasil”.
Um dos setores com maior volume de exportação aos Estados Unidos é o de produção de móveis de madeira. O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de São Bento do Sul (Sindusmobil), afirmou em vídeo ver com “profunda preocupação” o anúncio de Trump sobre o tarifaço. Ele lembra que os Estados Unidos respondem por mais de 54% da produção exportada pelas indústrias da região Norte de SC. Segundo o dirigente, a tarifa compromete seriamente a competitividade dos produtos feitos na região e pode afetar empregos e investimentos.
“O Sindusmobil considera essa medida injustificada, desproporcional e prejudicial ao comércio bilateral historicamente pautado por confiança mútua, qualidade industrial e geração de valor para ambos os países”, sustentou.
Mais manifestações
Outras entidades catarinenses também se manifestaram sobre o tarifaço de Trump sobre o Brasil. O Porto de Itajaí informou que ainda não teve impactos da medida na movimentação de cargas e disse confiar no posicionamento do governo federal brasileiro.
A Associação Empresarial de Joinville (Acij) afirmou em nota defender o diálogo e disse ser “prematuro fazer avaliações definitivas, uma vez que ainda devem ocorrer tratativas diplomáticas”. Já a Associação Empresarial de Blumenau (Acib) disse receber com preocupação o anúncio de Trump sobre a tarifa de 50% a produtos brasileiros. “Embora ainda não seja possível mensurar com precisão os impactos, ações dessa natureza tendem a afetar a competitividade das exportações, gerando incertezas para diversos setores da economia nacional”, afirmou a entidade, que defendeu ainda em nota o diálogo em vez do enfrentamento direto para tratar o tema.