
Estava tudo acertado nos bastidores: o PT ajudaria o centrão a aprovar a PEC da Blindagem e, em troca, o centrão daria ao PT os votos necessários à derrubada da urgência à anistia. Não deu certo. Ao orientar a bancada a votar contra a PEC da Blindagem, o PT perdeu a confiança do centrão e agora pode ver a anistia votada ainda nesta quarta-feira (17) na Câmara.
Como revide, o centrão agora está disposto a dar vazão ao requerimento de urgência do projeto de perdão aos condenados pelo 8 de Janeiro. No embalo do bloco parlamentar, os bolsonaristas desejam votar também nesta quarta-feira o mérito da iniciativa.
A pressão recai sobre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Ele deve se reunir com os líderes partidários nesta tarde, para definir a pauta das votações.
Toda essa costura política começou a ser traçada na segunda-feira. Em almoço fora da agenda oficial com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Motta avisou que colocaria em votação a urgência da anistia. Lula disse que o governo era contra, mas o almoço deflagrou uma construção política para derrotar a medida.
Partidos do centrão contrários a extensão do perdão ao ex-presidente Jair Bolsonaro procuraram o PT em busca de um acordo. A PEC da Blindagem seria ressuscitada e aprovada com o apoio do governo. Em troca, o centrão derrotaria a urgência à anistia, abrindo caminho para um texto mais restritivo. O objetivo era elaborar um projeto que tivesse o aval do Senado e do STF, que diminuísse a pena de Bolsonaro, mas não o perdoasse nem o tornasse elegível novamente.
O PT acenou positivamente, mas viu a bancada se dividir. Na hora da votação da PEC da Blindagem, o governo liberou sua base, alegando se tratar de tema de interesse exclusivo do Congresso. O PT, temendo desgaste, orientou voto contra.
A mudança constitucional que permite ao Congresso barrar processos criminais contra parlamentares acabou sendo aprovada, mas 80% da bancada petista votou contra. No total, foram 51 votos favoráveis e somente 12 a favor.
A postura irritou o centrão. Os líderes partidários do bloco estudam agora como retaliar. Alguns estão dispostos a aprovar o requerimento de urgência à anistia como forma de emparedar o governo e o PT. Esse posicionamento agrada a setores do bloco que flertam com o bolsonarismo.
Parlamentares de perfil mais moderado sugerem prudência. O ideal, asseguram, é esperar o momento adequado para um revide e só acelerar uma anistia que contemple os interesses de todo o bloco, ou seja, mantenha Bolsonaro preso e inelegível, o que abre caminho à candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).