Aos 23 anos, Gabrielle Ribeiro decidiu dar um basta nas bebedeiras. Juntou todas as garrafas que tinha em casa, colocou num saco de lixo e nunca mais olhou pra trás.
De lá pra cá, a rotina mudou completamente: as festas deram lugar a noites de sono tranquilo, as ressacas viraram manhãs de trilha e os copos de drinks foram trocados por suplementos. Resultado? Menos 16 quilos, até R$ 300 economizados por semana e uma legião de seguidores curiosos com sua transformação.

“Parar de beber foi o melhor investimento que já fiz em mim. É muito mais legal acordar no domingo e postar uma medalha de corrida do que lamentar a ressaca”, brinca Gabrielle.
Mas ela não é exceção. De acordo com o Datafolha, mais da metade dos brasileiros que bebem reduziram o consumo no último ano. E entre os jovens, o afastamento é ainda mais forte: só 45% da geração Z (16 a 30 anos) dizem consumir álcool — bem menos que os 57% dos millennials e 67% da geração X.
Um novo jeito de se divertir
“Eu cresci vendo brigas em casa por causa da bebida. Então sempre me perguntei: como é que eu vou beber pra relaxar se isso só traz problema?”, conta.
Mesmo depois de deixar a religião que proibia o consumo, Rayane continuou sem beber. Em eventos, prefere sucos, refrigerantes ou até mocktails — drinks sem álcool, que viraram moda entre quem quer o sabor, mas não o efeito.

Essa mudança não é só pessoal: é um movimento cultural.
Entre 2020 e 2023, o consumo de cervejas sem álcool cresceu mais de 200% no Brasil, segundo a Euromonitor. O país já é o segundo maior mercado mundial desse tipo de bebida. E a previsão é que, em 2025, o volume chegue perto de 1 bilhão de litros.
O mercado se adapta
Quem vive disso também está de olho nessa virada.
O empresário Maurício Porto, dono do bar Caledonia, especializado em uísques e coquetéis, viu a procura por opções sem álcool explodir.
“A gente chega a ficar sem estoque de mocktail em alguns dias. O preconceito sumiu, e o público quer qualidade”, conta.
A casa oferece cinco coquetéis não alcoólicos feitos com o mesmo cuidado dos tradicionais — clarificados, infusionados com especiarias e nada doces. “Drink sem álcool não é suco. É experiência”, resume Maurício.

As grandes marcas também estão surfando nessa onda.
A Ambev afirma que suas cervejas Bud Zero, Corona Cero e Stella Pure Gold têm crescido rapidamente e devem seguir em alta até 2028 — a empresa projeta que o segmento de bebidas zero cresça cinco vezes mais rápido que o das tradicionais.
Já a britânica Diageo, dona da Tanqueray e da Guinness, investe em versões 0.0 e comprou marcas especializadas como a Ritual Zero Proof.
Menos por economia, mais por escolha
Além da saúde, o bolso também pesa na decisão.
Entre os jovens, muitos afirmam ter cortado o álcool por “gastar demais”. Com renda menor que a média, a geração Z tende a consumir menos, tanto bebidas tradicionais quanto as sem álcool — que ainda são caras para parte do público.
Mesmo assim, os especialistas garantem: não há crise na indústria, e sim uma reconfiguração.
Dados da Nielsen mostram que o segmento de cervejas sem álcool cresce três vezes mais rápido do que o de cervejas comuns. E até quem ainda bebe está mudando: 43% dos consumidores pretendem reduzir o consumo nos próximos meses, motivados por saúde e economia.
A era da moderação
O comportamento que define esse novo cenário é o da moderação.
Práticas como o “zebra stripe” — alternar entre bebidas com e sem álcool — têm ganhado força, principalmente entre os mais jovens.
“É uma forma de equilibrar o prazer e o controle. Beber menos, mas melhor”, explica Gustavo Castro, diretor da Ambev.

E é justamente essa ideia que vem movimentando bares, marcas e consumidores. O prazer agora está menos na embriaguez e mais na descoberta de sabores, técnicas e experiências.
Como resume Maurício, do Caledonia:
“Ninguém quer mais ficar doidão. A galera quer entender o que tá bebendo — e curtir isso.”

