POLÍTICA - 01/12/2025 21:37

Crise entre Motta, Alcolumbre e Lula paralisa Congresso e ameaça pauta de final de ano

Cancelamento de reuniões e ausência em cerimônias expõem rompimento; pauta econômica de fim de ano corre risco após troca de farpas entre Motta, Alcolumbre e o Planalto.
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Crise entre Poderes? Motta e Alcolumbre faltam a sanção e dão “gelo” institucional ao Planalto Foto: Senado Federal/ND Mais

O silêncio e a ausência dos representantes do Legislativo numa solenidade importante no Planalto foram um sinal claro da crise no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto nos últimos dias. Próximo ao final do ano, e com uma agenda intensa de pautas importantes, principalmente matérias econômicas fundamentais para as contas do Executivo, o clima na Câmara e no Senado não escondeu a tensão entre os Poderes.

Um dos sinais da crise foi o cancelamento da tradicional reunião do Colégio de Líderes na Câmara, encontro semanal onde o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) normalmente alinha os temas que serão votados durante a semana. Sem esse encontro, a máquina legislativa travou, deixando o governo em alerta máximo justamente no momento em que precisa correr contra o tempo para aprovar medidas orçamentárias cruciais, como a Lei Orçamentária Anual (LOA), antes do recesso de fim de ano.

A paralisia não é acidental, mas fruto de uma estratégia de “gelo institucional” imposta pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), ao Palácio do Planalto. O auge da crise foi sentido durante a sanção da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, no meio da semana passada. O projeto, uma bandeira histórica da esquerda e aprovado com o aval do Legislativo, foi sancionado sem a presença dos “chefes” do Congresso. Interlocutores avaliam que a ausência foi uma mensagem política calculada e coordenada.

Enquanto a assessoria de Motta alegava protocolarmente “agenda cheia”, o parlamentar soltava uma nota fria nas redes sociais, afirmando que a aprovação era “resultado da união dos Poderes”, mas sem dar as caras ao lado de Lula. No Senado, o sumiço de Davi Alcolumbre teve motivação específica: a insistência do presidente da República em indicar o advogado-geral da União, Jorge Messias, para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF), ignorando a articulação do senador em favor de Rodrigo Pacheco.

A crise no Congresso e o fator ‘pessoal’

Se no Senado o problema é a vaga na Corte, na Câmara o buraco é mais embaixo e a crise tornou-se pessoal. A relação de Hugo Motta com o governo, que já vinha estremecida desde outubro, ruiu de vez com a tramitação do PL Antifacção. O presidente da Casa não apenas bancou a pauta à revelia do Planalto, como escolheu para a relatoria o deputado Guilherme Derrite (PP-SP), ex-secretário de Tarcísio de Freitas e “persona non grata” para a base governista.

A insatisfação petista transbordou quando o líder do governo na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), criticou publicamente a condução dos trabalhos e o mérito do texto. A resposta de Motta foi definitiva e explosiva: “Não tenho mais interesse em ter nenhum tipo de relação com o deputado Lindbergh Farias”, declarou à imprensa, oficializando o rompimento com a liderança governista. Lindbergh rebateu na mesma moeda, classificando a postura como “imatura” e disparando que “política não se faz como clube de amigos”.

Esse curto-circuito recente é, na verdade, o desfecho de um desgaste acumulado ao longo de todo o segundo semestre de 2025, que culminou na atual crise no Congresso. A mágoa do presidente da Câmara começou a se aprofundar durante um evento público no Rio de Janeiro, em comemoração ao Dia dos Professores. Na ocasião, ao ser vaiado pela plateia lulista, o presidente da Câmara ouviu, ao seu lado, o presidente Lula discursar que o Congresso Nacional “nunca teve um nível tão baixo como tem agora”. Motta teria dito a aliados ter se sentido “humilhado”.

O troco veio a galope e pesou no bolso do Executivo: dias depois, Motta articulou pessoalmente a derrubada de uma medida provisória que tratava de medidas para compensar perdas na arrecadação, impondo um revés financeiro bilionário ao governo. Lula reagiu mal, chamando a decisão de “absurda”, mas o recado foi dado. Ao comentar a votação, Motta fez questão de sublinhar que a derrota do Planalto foi uma “construção suprapartidária”, um aviso claro de que o governo não tem votos para caminhar sozinho.

Agora, com o calendário de dezembro apertado, o Palácio do Planalto se vê refém desse “gelo”. Sem reunião de líderes e com os telefones de Motta e Alcolumbre mudos para a articulação política, o governo assiste, apreensivo, ao risco de um “apagão” deliberado. O temor é que pautas vitais para a economia fiquem para 2026, quando o foco será mesmo na disputa eleitoral. O recado de Brasília é que a relação, definida por Motta como agora sendo “meramente institucional”, pode custar caro para a governabilidade de Lula nesta reta final de ano, com o agravamento da crise no Congresso.

Fonte: ND+
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