
Redes como Rede D’Or, Unimed e Dasa suspenderam atendimentos; ex-presidente dos Correios acusa interrupção nos repasses desde 2024 e prevê explosão de ações judiciais.
A crise financeira dos Correios atingiu em cheio o Postal Saúde, plano de saúde dos funcionários da estatal. Hospitais e prestadores vêm suspendendo atendimentos a beneficiários do convênio após alegarem falta de pagamento, em um impasse que se arrasta desde 2024.
Sem os repasses da empresa, interrompidos desde novembro de 2024, o passivo acumulado já chega a centenas de milhões de reais. Hospitais como os da Rede D’Or, Unimed, Dasa, grupo Kora e Beneficência Portuguesa comunicaram ao longo deste ano a suspensão parcial ou total do atendimento aos segurados do plano.
A crise no plano de saúde dos empregados dos Correios ganhou relevância ao se tornar um dos motivos do descontentamento que levou a categoria à greve no fim deste ano. Apesar de sucessivas promessas da operadora, a rede credenciada segue encolhendo e, como consequência, beneficiários têm sido obrigados a interromper tratamentos e consultas e a buscar alternativas de atendimento.
Em entrevista ao ND Mais, o ex-presidente dos Correios, Heglehyschynton Valério Marçal, afirma que a Postal Saúde foi entregue saneada em 2023 à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele lembra que o modelo funciona por financiamento compartilhado: parte do custo é descontada dos salários dos empregados e parte é paga pela empresa.
“Quando nós assumimos, o Postal Saúde tinha R$ 600 milhões de dívida. Dívida com a rede hospitalar. O carteiro, o funcionário dos Correios, é um ser humano: adoece. Em vez de ir ao SUS, vai aos hospitais conveniados. E o Postal Saúde executa esse pagamento”, disse.
Segundo Marçal, a crise atual decorre da interrupção da contrapartida da estatal. Sem recursos, a operadora do plano de saúde dos empregados dos Correios vem restringindo atendimentos, o que, na avaliação dele, tende a ampliar o passivo judicial na área de saúde suplementar.
“Hoje, os Correios não conseguem pagar os seus 50% da sua parte. Os empregados estão sendo lesados”, dispara o ex-dirigente.
O ex-dirigente enfatiza que o carteiro “não tem culpa” e direciona as críticas ao comando da estatal e às indicações políticas para a gestão do plano e da empresa.
No cotidiano, o impasse na Postal Saúde tende a produzir um efeito em cadeia que preocupa especialistas: migração de atendimentos para o SUS, aumento de ações individuais e coletivas na Justiça e pressão por acordos — justamente em um momento em que os Correios tentam reduzir custos e reorganizar o caixa.

