
Em diversas comemorações, sendo ainda mais comum na virada de ano, os fogos de artifício são utilizados para trazer brilho e impressionar com muitas cores no céu. Contudo, os modelos que também geram barulho, podem tornar este momento voltado à celebração, incômodo e até doloroso para algumas pessoas. É o caso, por exemplo, de crianças, idosos e pessoas autistas. Além disso, os animais também ficam assustados e passam por momentos de estresse, que podem prejudicar a saúde dos mesmos.

A enfermeira Josaine Schneider, mãe de criança autista, aceitou conversar com nossa equipe de reportagem e compartilhou seu relato e desafios enfrentados. Ela revela que para sua família o fim de ano não começa com alegria, mas com medo de uma batalha anunciada. O barulho dos fogos vai além de um incômodo para pessoas autistas e neurodivergentes, pois pode significar sofrimento real, medo intenso e perda de segurança. “O principal desafio é a sobrecarga sensorial, especialmente auditiva. O barulho intenso, súbito e imprevisível dos fogos pode provocar medo extremo, ansiedade, crises sensoriais (meltdowns), choro persistente, agitação, comportamentos de fuga e uma desorganização emocional que pode durar horas ou até dias”, explica.
Diante disso, as famílias criam estratégias dentro de sua realidade, pois cada autista é único. Josaine conta como a família lida com estes momentos: “Mantemos nosso filho em ambientes fechados e mais isolados, fechamos janelas, portas e cortinas. Usamos abafadores de ruído ou fones com cancelamento de som. Ligamos televisão, colocamos músicas ou sons ambientes para tentar mascarar os estampidos. Ajustamos horários de sono, mudamos rotinas e oferecemos acolhimento físico e emocional constante”. Mas nem sempre estas medidas são suficientes, e em algumas situações Josaine conta que se fez necessário o uso de medicação extra. Ela ainda relata que, já teve finais de ano, em que a alternativa foi sair da cidade e se deslocar até uma localidade no interior do município - opção que nem todas as famílias atípicas conseguem realizar.
A partir de sua vivência, compartilha uma mensagem com a comunidade, que não é de confronto, mas um pedido de empatia. “À comunidade, deixamos este pedido: Celebrar também é cuidar. Alegria não precisa causar dor. Fogos sem estampido são um gesto simples que faz uma diferença enorme na vida de muitas famílias. Ao poder público: É fundamental investir em políticas inclusivas, regulamentar o uso de fogos com estampido e incentivar alternativas silenciosas, garantindo o direito ao bem-estar de pessoas neurodivergentes e de suas famílias. Por fim, pedimos que cada pessoa tente imaginar, por alguns minutos, como é ver seu filho em pânico sem poder fazer o barulho parar. Que entendam que não é exagero, não é frescura, não é ‘só um barulho’. Inclusão também se faz no silêncio que acolhe. Respeitar o silêncio de quem sofre também é um ato de amor”.
Os barulhos dos fogos de artifício também podem gerar incômodo aos animais. A médica-veterinária de Maravilha, Bruna Eduarda Paris, explica que os cães e gatos, por exemplo, têm uma audição muito sensível, portanto, a percepção sonora é mais intensa. Soma-se a isso o fato de os animais não entenderem o que de fato está acontecendo, transformando-se em uma ameaça. Como uma resposta biológica, o sistema de estresse do pet é acionado nestas situações, liberando grande quantidade dos hormônios adrenalina e cortisol. Assim, cães e gatos têm a tendência de querer fugir e se esconder.

Para a veterinária, é fundamental que os tutores se preparem com antecedência ao ter percepção que estas situações podem ocorrer. Em primeiro lugar, é importante deixar o pet em um local que ele se sinta seguro e confortável e, se possível, deixar um som ambiente para tentar abafar o barulho mais intenso dos artigos pirotécnicos com som. Não é recomendado deixar os animais sozinhos presos em correntes, pois eles podem se ferir durante o momento de pânico. Caso os tutores tenham interesse em utilizar algum medicamento para reduzir a ansiedade, é de extrema importância buscar orientação junto a um profissional da área de veterinária. Em relação aos pets que já apresentam medo de forma recorrente, ou que possuem algum quadro de saúde que pode ser prejudicado com o estresse, a recomendação é realizar um acompanhamento veterinário.
Bruna Eduarda Paris cita alguns sinais que indicam que o pet está passando por um quadro de estresse: tentativa insistente de fugir, vocalizam intensamente, tem tremores contínuos, as pupilas dilatadas, respiração ofegantes, rigidez corporal, comportamento de se automutilar.
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 2023, que os municípios têm legitimidade para aprovar leis que proíbam a soltura de fogos de artifício e artefatos pirotécnicos que produzam estampido. No Município de Maravilha, o Código de Postura do Município (LEI COMPLEMENTAR Nº 91, DE 4 DE NOVEMBRO DE 2016), em seu Artigo 164, apresenta normativas que citam este tema. Confira o que o referido artigo traz:
“É vedado, sob pena de multa, além de responsabilidade criminal e civil que couber:

A Administração Municipal informou que, nesta virada de ano, a Prefeitura não irá realizar evento próprio de queima ou soltura de fogos de artifício.
Tramita na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) um projeto de lei que proíbe a venda, a queima e a soltura de fogos de artifício de estampido, com efeito de tiro, no Estado de Santa Catarina. O texto também destaca que os fogos de efeitos visuais sem estampido, também conhecidos como fogos de vista, continuam liberados. O andamento da tramitação do PL 0011/2023 pode ser acompanhada no site da Alesc.

