final de ano - 31/12/2025 10:00 (atualizado em 31/12/2025 10:19)

Fogos de artifício com estampido desafiam celebrações de famílias com pessoas autistas

Ruído afeta também animais de estimação e exige cuidados extras; confira a reportagem especial
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Imagem ilustrativa: Freepik

Em diversas comemorações, sendo ainda mais comum na virada de ano, os fogos de artifício são utilizados para trazer brilho e impressionar com muitas cores no céu. Contudo, os modelos que também geram barulho, podem tornar este momento voltado à celebração, incômodo e até doloroso para algumas pessoas. É o caso, por exemplo, de crianças, idosos e pessoas autistas. Além disso, os animais também ficam assustados e passam por momentos de estresse, que podem prejudicar a saúde dos mesmos.

Família atípica de Maravilha compartilha desafios e medidas adotadas devido a soltura de fogos de artifício com barulho
Uma batalha anunciada

A enfermeira Josaine Schneider, mãe de criança autista, aceitou conversar com nossa equipe de reportagem e compartilhou seu relato e desafios enfrentados. Ela revela que para sua família o fim de ano não começa com alegria, mas com medo de uma batalha anunciada. O barulho dos fogos vai além de um incômodo para pessoas autistas e neurodivergentes, pois pode significar sofrimento real, medo intenso e perda de segurança. “O principal desafio é a sobrecarga sensorial, especialmente auditiva. O barulho intenso, súbito e imprevisível dos fogos pode provocar medo extremo, ansiedade, crises sensoriais (meltdowns), choro persistente, agitação, comportamentos de fuga e uma desorganização emocional que pode durar horas ou até dias”, explica.

Diante disso, as famílias criam estratégias dentro de sua realidade, pois cada autista é único. Josaine conta como a família lida com estes momentos: “Mantemos nosso filho em ambientes fechados e mais isolados, fechamos janelas, portas e cortinas. Usamos abafadores de ruído ou fones com cancelamento de som. Ligamos televisão, colocamos músicas ou sons ambientes para tentar mascarar os estampidos. Ajustamos horários de sono, mudamos rotinas e oferecemos acolhimento físico e emocional constante”. Mas nem sempre estas medidas são  suficientes, e em algumas situações Josaine conta que se fez necessário o uso de medicação extra. Ela ainda relata que, já teve finais de ano, em que a alternativa foi sair da cidade e se deslocar até uma localidade no interior do município - opção que nem todas as famílias atípicas conseguem realizar.

A partir de sua vivência, compartilha uma mensagem com a comunidade, que não é de confronto, mas um pedido de empatia. “À comunidade, deixamos este pedido: Celebrar também é cuidar. Alegria não precisa causar dor. Fogos sem estampido são um gesto simples que faz uma diferença enorme na vida de muitas famílias. Ao poder público: É fundamental investir em políticas inclusivas, regulamentar o uso de fogos com estampido e incentivar alternativas silenciosas, garantindo o direito ao bem-estar de pessoas neurodivergentes e de suas famílias. Por fim, pedimos que cada pessoa tente imaginar, por alguns minutos, como é ver seu filho em pânico sem poder fazer o barulho parar. Que entendam que não é exagero, não é frescura, não é ‘só um barulho’.  Inclusão também se faz no silêncio que acolhe.  Respeitar o silêncio de quem sofre também é um ato de amor”.

Cuidados com os pets

Os barulhos dos fogos de artifício também podem gerar incômodo aos animais. A médica-veterinária de Maravilha, Bruna Eduarda Paris, explica que os cães e gatos, por exemplo, têm uma audição muito sensível, portanto, a percepção sonora é mais intensa. Soma-se a isso o fato de os animais não entenderem o que de fato está acontecendo, transformando-se em uma ameaça. Como uma resposta biológica, o sistema de estresse do pet é acionado nestas situações, liberando grande quantidade dos hormônios adrenalina e cortisol. Assim, cães e gatos têm a tendência de querer fugir e se esconder. 

Neste contexto, a profissional avalia que o som por si só não vai gerar problema orgânico permanente ao pet, mas no momento de resposta ao medo, os animais podem acabar se machucando, seja na tentativa de fugir, ou em alguns casos até se automutilando. Ademais, animais que já têm alguma doença pré-existente, como problemas cardíacos e respiratórios, podem ter seu quadro agravado devido à exposição ao estresse.
Imagem ilustrativa. Foto: Freepik

Para a veterinária, é fundamental que os tutores se preparem com antecedência ao ter percepção que estas situações podem ocorrer. Em primeiro lugar, é importante deixar o pet em um local que ele se sinta seguro e confortável e, se possível, deixar um som ambiente para tentar abafar o barulho mais intenso dos artigos pirotécnicos com som.  Não é recomendado deixar os animais sozinhos presos em correntes, pois eles podem se ferir durante o momento de pânico. Caso os tutores tenham interesse em utilizar algum medicamento para reduzir a ansiedade, é de extrema importância buscar orientação junto a um profissional da área de veterinária. Em relação aos pets que já apresentam medo de forma recorrente, ou que possuem algum quadro de saúde que pode ser prejudicado com o estresse, a recomendação é realizar um acompanhamento veterinário. 

Bruna Eduarda Paris cita alguns sinais que indicam que o pet está passando por um quadro de estresse: tentativa insistente de fugir, vocalizam intensamente, tem tremores contínuos, as pupilas dilatadas, respiração ofegantes, rigidez corporal, comportamento de se automutilar. 

Legislação em Maravilha 

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 2023, que os municípios têm legitimidade para aprovar leis que proíbam a soltura de fogos de artifício e artefatos pirotécnicos que produzam estampido. No Município de Maravilha, o Código de Postura do Município (LEI COMPLEMENTAR Nº 91, DE 4 DE NOVEMBRO DE 2016), em seu Artigo 164, apresenta normativas que citam este tema. Confira o que o referido artigo traz: 

“É vedado, sob pena de multa, além de responsabilidade criminal e civil que couber: 

I - Soltar balões, fogos de artifício, bombas, busca-pés, morteiros e outros fogos perigosos, bem como fazer fogueira nos logradouros públicos, ou em janelas ou portas que confrontarem com os mesmos, sem prévia licença da municipalidade e de outros órgãos competentes, a qual será concedida por ocasião de festejos, indicando-se para isso, quando conveniente, locais apropriados e horários.”
Reprodução: Código de Postura do Município de Maravilha (Acessado em 31/12/2025)

A Administração Municipal informou que, nesta virada de ano, a Prefeitura não irá realizar evento próprio de queima ou soltura de fogos de artifício. 

Proibição tramita na Alesc 

Tramita na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) um projeto de lei que proíbe a venda, a queima e a soltura de fogos de artifício de estampido, com efeito de tiro, no Estado de Santa Catarina. O texto também destaca que os fogos de efeitos visuais sem estampido, também conhecidos como fogos de vista, continuam liberados. O andamento da tramitação do PL 0011/2023 pode ser acompanhada no site da Alesc.

Fonte: Tamara Finardi/ WH Comunicações/ Líder
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