Saúde - 24/06/2022 15:52

Seis médicos pedem demissão da UTI pediátrica e situação se agrava no HRO, em Chapecó

Falta de leitos de UTI pediátrica e neonatal e a defasagem de profissionais pode prejudicar o atendimento aos pacientes
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Os leitos de UTI neonatal e pediátrica estão lotados no HRO – Foto: MPSC / Divulgação

A situação da falta de leitos de UTI neonatal e pediátrica está prestes a se agravar no HRO (Hospital Regional do Oeste) em Chapecó, no Oeste de Santa Catarina. Seis médicos pediatras entregaram a carta de demissão ao hospital nesta semana e os profissionais seguem trabalhando apenas até o dia 20 de agosto.
O motivo da demissão, segundo os profissionais, é o atraso nos salários e a defasagem de profissionais para atender a demanda do hospital, que já ultrapassou o limite.
Nesta quinta-feira (23) os 10 leitos de UTI neonatal e os cinco leitos de UTI pediátrica estavam ocupados e um recém-nascido aguardava leito. O número desta sexta-feira (24) não foi atualizado até a publicação desta reportagem.
Há 7 anos a médica Caroline Pritsch, coordenadora da UTI Pediátrica do HRO, deu os primeiros passos para fazer com que a UTI pediátrica em Chapecó se tornasse uma realidade. Um trabalho de anos, para que hoje as crianças de 1 mês a 14 anos tivessem um atendimento de qualidade.
Caroline começou sozinha e com o decorrer dos anos montou uma equipe de especialistas que ajudou a mudar a mortalidade dos pacientes pediátricos da região. Hoje, o HRO conta com oito especialistas na área e o número ainda é pequeno mediante a alta demanda. Porém, a médica ressalta a dificuldade em encontrar profissionais que queiram compor a equipe.
“Para formar um intensivista são cinco anos após a formação em medicina. São três anos de pediatria e dois anos de UTI pediátrica. Infelizmente, a pediatria sofreu uma grande desvalorização nos últimos anos. Os alunos não querem mais fazer pediatria, então está cada vez mais difícil encontrar profissionais nessa área para atuar conosco”, explica.
Situação preocupante
A médica destaca que a situação piora no HRO — administrado pela Associação Hospital Lenoir Vargas Ferreira — que há três meses não paga os salários dos profissionais. A situação se tornou insustentável para os especialistas.
O problema, de acordo com os profissionais, é que além dos salários atrasados, eles também estão com o valor do salário defasado. Hospitais particulares da região Oeste de Santa Catarina e outros hospitais públicos do Rio Grande do Sul e do Paraná pagam 30% a mais do que o valor que os médicos do HRO recebem.
UTI neonatal está lotada e pacientes aguardam leitos – Foto: Felipe Kreush/ND
UTI neonatal está lotada e pacientes aguardam leitos – Foto: Felipe Kreush/ND
“Já faz um ano e meio que os atrasos de salário estão cada vez mais frequentes. Tivemos que procurar trabalho em outros lugares para sobreviver. Com isso, ficamos muito sobrecarregados e para que nós não precisássemos tomar a decisão de sair, é necessário mais profissionais”, pontua a coordenadora da UTI pediátrica.
Procura por profissionais
Ela ainda destaca que a procura por profissionais para atuar no hospital ocorre há um bom tempo, mas o salário defasado e a falta de previsão para os pagamentos impossibilita achar um médico que queira começar sua carreira no hospital.
“Estamos há pelo menos seis meses lutando, mês a mês, para tentar fechar a escala. Todos estão trabalhando de forma sobrecarregada, vindo trabalhar doente porque não tem quem venha no lugar. A não ser que a pessoa fique 48 horas de plantão, sendo desumano”, salienta Caroline.
Diante de toda a situação, quem realmente vai ser prejudicado são os pacientes. Um deles é a pequena Mirela que está em um dos leitos. Ela completou um mês de vida e  trava uma batalha contra uma pneumonia e um sopro no coração.
Para a mãe Maiara Gubert, que teve dificuldade para conseguir o leito para a filha, saber que a  unidade pode fechar é revoltante. “Aqui, é como se ela tivesse em casa pelo cuidado que eles têm. Os médicos deixam de fazer o trabalho deles em casa para estar aqui salvando vidas e no fim do mês não recebem o salário digno. É ruim para nós e para outras crianças que estão aguardando leitos”, disse.
Atendimentos de crianças podem ser prejudicados no HRO – Foto: Mauricio Vieira/Divulgação/ND
Atendimentos de crianças podem ser prejudicados no HRO – Foto: Mauricio Vieira/Divulgação/ND
Veja o que diz o HRO
Por nota, o Hospital Regional do Oeste afirmou que recebeu os pedidos de demissão. Sobre os salários atrasados informou que os pagamentos serão feitos mediante um cronograma definido pela direção do HRO e já informado aos profissionais.
Em relação ao aumento dos salários, a prioridade da direção é pagar os atrasados e a Associação Hospitalar Lenoir Vargas Ferreira disse que a UTI pediátrica não vai fechar.
O que dizem o Estado e a prefeitura?
O governo do Estado afirmou, também em nota, que aportou os 14 milhões de reais para restabelecer o equilíbrio financeiro do HRO e que o município de Chapecó é o gestor pleno do hospital. Além disso, disse que a gestão dos recursos do hospital é feita pela Associação Hospitalar Lenoir Vargas Ferreira.
A prefeitura de Chapecó esclareceu, também em nota, que, apesar de ser o gestor pleno da saúde em Chapecó, sendo quem repassa os recursos do SUS para o Hospital Regional do Oeste, não é responsável pela gestão do hospital público.
A prefeitura disse ainda que o HRO não atende apenas moradores de Chapecó, mas uma região de 1,3 milhão de pessoas, abrangendo os municípios da região oeste catarinense, sudoeste do Paraná, norte e noroeste gaúcho. O comunicado afirma ainda que a prefeitura cumpre com sua parcela, repassando os valores mensais relativos às demandas dos chapecoenses, e inclusive antecipa em vários momentos este repasse.
Também informou que tem trabalhando em conjunto com a organização social, formada por voluntários, para buscar um equilíbrio de contas, devido ao déficit causado por aumento de custos pós-pandemia. Inclusive, foi solicitado ao Estado, que é o dono do HRO, um aporte maior de recursos.
Por fim, a prefeitura de Chapecó garantiu que está acompanhando a situação, participado de reuniões e quer colaborar com na busca da garantia de atendimento aos cidadãos.

Com informações e contribuição do repórter Felipe Kreusch da NDTV Chapecó*

Fonte: ND+
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