SAÚDE - 04/05/2023 09:08

Mais de 4 mil catarinenses não terão acesso a radioterapia pelo SUS em 2023, diz levantamento

Ainda segundo levantamento Sociedade Brasileira de Radioterapia, cerca de 60 mil pacientes ficaram sem o tratamento em 15 anos
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Arte / WH3

Mais de 4 mil catarinenses não terão acesso ao tratamento de radioterapia para o combate do câncer na rede pública de saúde em Santa Catarina. Os dados fazem parte de um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) divulgado em abril. Para especialistas, a falta do procedimento pode causar até uma possível progressão da doença.

A radioterapia é um tratamento em que são utilizadas radiações ionizantes para destruir células de um tumor ou impedir que elas se multipliquem. Na maioria dos casos, ela traz a cura para a pessoa, além de contribuir para a melhoria na qualidade de vida. Ela pode ser feita de duas formas: teleterapia ou braquiterapia.

O foco da pesquisa da SRVT era mapear o panorama do tratamento oferecido pelo SUS em comparação com a Saúde Suplementar. Ele apresenta dados, não só de pacientes, mas também da disparidade de acesso às tecnologias, defasagem da tabela de remuneração, ausência do serviço em alguns estados e a má distribuição de aceleradores lineares.

Atualmente, o Estado conta com 17 máquinas para teleterapia — o menor número do Sul do país — para atender 11.329 pacientes, uma média de 666 casos por máquina. Os dados, no entanto, não apontam quantos equipamentos de braquiterapia estão disponíveis nos hospitais catarinenses.

Em Santa Catarina, segundo o estudo, 23.760 pacientes necessitam do tratamento este ano. Porém, a estimativa é de que 4.106 não consigam recebê-lo.

Se levar em conta os últimos 15 anos, cerca de 60 mil catarinenses deixaram de receber o tratamento pelo SUS. Em todo o país, a estimativa é de mais de 1 milhão de pessoas, o que teria causado a morte direta de mais de 110 mil.

— Aproximadamente 70% dos casos vai precisar da radioterapia. Quando ela é utilizada, em 80% dos casos. a intenção é curativa. Agora, se não tiver acesso ao tratamento, o paciente vai buscar outras formas, que as vezes são menos eficazes, mais custosas, além de sofrer mais com efeitos colaterais ou uma possível progressão da doença — explica o radio-oncologista e presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), Marcus Simões Castilho.

Outra questão apontada pelo especialista é o tempo no tratamento. Isto porque a falta da modernização dos equipamentos podem aumentar o período do procedimento o, que consequentemente, também reflete no número de pacientes contemplados com a terapia.

— Além da falta de equipamento, é preciso que ele esteja atualizado o suficiente. Se ele é muito antigo, os tratamentos ficam mais longos. Por exemplo, a doença de próstata, que levaria cinco sessões, acaba durando 35. Ou seja, menos dias de tratamento, libera a vaga mais rápido para outros pacientes — diz.

Questionada sobre o número de pessoas que aguardam o tratamento em Santa Catarina, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) afirmou que 762 pessoas estavam na fila de cirurgia oncológica até 1º de maio. Para garantir o tratamento a todos os catarinenses, a SES citou que realizou forças-tarefas de atendimento para diminuir a fila de espera. Ainda disse que segue a legislação que estabelece 60 dias para início do tratamento para câncer e 30 dias para realização de exames em casos suspeitos.

Diferença entre a saúde pública e privada

O estudo da SBRT também aponta diferenças entre os sistemas de saúde pública e privada no oferecimento da radioterapia. No caso da rede privada, a cada 100 mil pessoas que tem plano de saúde, 150 conseguem o tratamento com radioterapia. Já no SUS, a cada 100 mil pessoas, 70 realizam o procedimento.

— O nosso levantamento consegue mostrar que o paciente da rede pública não é tratado da mesma forma que na rede privada. Em alguns locais, o mesmo procedimento é feito em 70 a 80% dos lugares, enquanto na rede pública é de 20%. Além disso, na rede pública, os equipamentos tem uma idade superior a da rede privada, onde os sistemas são menos atualizados — explica o presidente da SBRT.

Por isso, o especialista aponta dois caminhos. O primeiro é a troca e a instalação de novos equipamentos, mas que sofre com a falta de reajuste do valor dos recursos para o serviços de manutenção que, segundo a Sociedade, está defasado desde 2010. Já o segundo é o programa de recomposição de equipamentos, do próprio Ministério da Saúde. Mas, o presidente da BRT explica que nem sempre é possível intervir em todos os casos.

A reportagem procurou o Ministério da Saúde a respeito do assunto, mas não teve retorno até a publicação. Em nota ao Bom Dia Brasil, da TV Globo, desta terça-feira (2), a pasta disse que "retomou o diálogo e ações para ampliar e aumentar o investimento na oferta de radioterapia no SUS".

Fonte: NSC
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